Opinião
Na semana em que celebramos o dia do professor são
comuns muitas homenagens carinhosas dirigidas aos mestres. É justo que sejam
homenageados aqueles e aquelas que se dedicam e têm como projeto de vida
contribuir para que os estudantes possam também viabilizar seus próprios
projetos. A data que celebra o Dia dos Professores é reconhecimento ao Decreto
Imperial de 15/10/1827, quando D. Pedro I assinou a lei que criou o ensino
elementar no Brasil, determinando que “todas as cidades, vilas e lugarejos
tivessem suas escolas de primeiras letras”. Quase dois séculos depois, esse
decreto ainda não foi cumprido integralmente, dado ao tamanho do desafio, tão
grande quanto a extensão do próprio território nacional. Mas é preciso
reconhecer os avanços no sentido de promover a universalização da Educação
Básica no país, assim como reconhecer o papel de um de seus protagonistas: os
professores.
Parece óbvio, mas vale a lembrança. Não há escola
sem professor, sem aluno e sem conhecimento científico. Para ter aluno, a
escola precisa oferecer condições adequadas e a família não pode negligenciar
sua responsabilidade de garantir que as crianças sejam matriculadas. Uma vez na
escola, o estudante tem o direito de receber uma formação ancorada nos
conhecimentos científicos e na cultura construída pela sociedade no decorrer do
tempo. Ao professor, cabe a responsabilidade de dominar esses conhecimentos,
desenvolvendo métodos e técnicas para que ocorra o ensino e a aprendizagem do
aluno.
Em alguns países do extremo Oriente, como a Coreia
do Sul, que atribui à Educação a transformação social, cultural e econômica do
país nas últimas décadas, e que conduziu os sul-coreanos ao grupo dos países
mais desenvolvidos do mundo, ser professor é uma das profissões mais admiradas
e respeitadas na sociedade, com o mesmo status de outros profissionais também
reconhecidos por aqui, como o médico e o magistrado. Com isso, não surpreende o
fato de o magistério ser uma carreira profissional concorrida naquele país,
atraindo o interesse dos estudantes. Um paradoxo se comparado ao Brasil, onde a
docência, sobretudo na Educação Básica, atrai cada vez menos interesse dos
jovens. Ser professor acaba sendo a segunda alternativa para muitos brasileiros
que não conseguiram aprovação nos vestibulares em áreas mais concorridas ou que
não se estabeleceram em outras profissões.
Por que os estudantes brasileiros não se interessam
pelas carreiras do magistério? É certo que cada leitor tem uma lista de
fatores. Ou seja, com maior ou menor profundidade, sabemos onde estão os
problemas. Um deles, certamente, é a falta de valorização do trabalho docente e
da compreensão da relevância que essa profissão desempenha para uma sociedade
que deseja se desenvolver. No passado, na Coreia do Sul e em outros
países da região, como o Japão, os professores eram os únicos cidadãos que
podiam andar ao lado do imperador. Todos os demais deveriam vir atrás dele. E
mais: se curvar diante do outro, gesto muito comum de demonstração de respeito
e reconhecimento na cultural oriental, era algo que o imperador só fazia diante
de um professor.
Por que no Brasil parte da sociedade ainda não
reconhece seus mestres? Certamente você também deve ter muitas respostas para
esse questionamento. Mas convém perguntar: até que ponto os professores
precisarão continuar provando que são relevantes, necessários, fundamentais? A
permanência das crianças em casa em tempo integral devido ao isolamento social
ajudou muitas famílias a vivenciarem parte da realidade da educação de seus
filhos, reconhecendo a importância do trabalho docente até mesmo por tentarem
absorver parte do papel dos professores. Não é fácil, não é mesmo?!
A pandemia desafiou muitos profissionais, e entre
os mais desafiados, figuram os professores. Eles tiveram que se adaptar,
incorporando novos métodos e ferramentas às suas práticas. De um dia para o
outro viraram youtubers, redatores, digital influencers e etc. Abriram suas
casas, suas vidas, se entregaram, tudo isso para ensinar, mas também para não
perder o vínculo com o estudante, mantendo o afeto na espera pelo dia do
retorno às atividades presenciais. Devemos reconhecer esses bons exemplos e nos
curvar diante destes professores incansáveis que, a despeito da falta de apoio,
de reconhecimento e até de respeito, mantêm firme seus propósitos de vida,
estudando, aprimorando técnicas e métodos, buscando novidades, investindo seus
recursos em instrumentos para educar os estudantes brasileiros. A Educação é o
meio mais seguro para transformar a realidade. Precisamos, urgentemente, nos
curvar diante dessa verdade e praticar o reconhecimento aos principais
protagonistas dessa mudança: nossos bons professores.
Wilson Galvão -
coordenador de Assessoria de Áreas do Sistema Positivo de Ensino.
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