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quinta-feira, 20 de abril de 2017

O VENENO DA MENTIRA E A EDUCAÇÃO



       "Um país se faz com homens e livros", ensinou Monteiro Lobato ao Brasil de seu tempo, de maioria analfabeta. Por via de consequência, podemos afirmar que a construção de um país passa, também, por professores e livros didáticos. Estas verdades acacianas foram entendidas pelos totalitarismos, que sempre usaram o sistema de ensino para a indigna tarefa de moldar gerações segundo os devaneios de seus dirigentes políticos. E a missão prossegue, mesmo em regimes de feição democrática, mediante infiltração, para idêntico fim, de modo militante, nas mentes dos homens e na alma dos livros.
        Não é só a escola, portanto, que deve ser sem partido. Também ao material didático impõe-se essa condição. Contam-se às dezenas de milhões os livros que os governos de esquerda e centro-esquerda enviaram às escolas para transmitir aos estudantes brasileiros visões distorcidas da política, da economia, da história, da vida social, do cristianismo e da Igreja Católica. Tivessem maior credibilidade os militantes da causa, não fossem tão escandalosamente sectários, não abusassem tanto do poder de ensinar que lhes foi outorgado, não fossem tão desautorizados pelos fatos, e o estrago teria sido muito maior.
        A mais recente edição do Fórum da Liberdade - "O futuro da democracia" - foi uma evidência de que nem tudo está perdido. Milhares de estudantes lotaram espontaneamente o auditório da PUC/RS, durante dois dias, para assistir e aplaudir, com entusiasmo, conferencistas nacionais e internacionais que discorreram sobre liberdades políticas e econômicas, autonomia do indivíduo, papel subsidiário do Estado, empreendedorismo e causas estruturais da pobreza e da riqueza. Chega a ser surpreendente que aqueles jovens procedessem de salas de aula nas quais apenas 20% dos professores se consideram politicamente neutros; onde 86% deles, na opinião dos alunos, transmitem um conceito positivo de Che Guevara, e 78% creem que seu principal papel seja o de "formar cidadãos" já se sabe para quê (matéria completa do Spotniks aqui).
        Mas não é só por livros didáticos e professores militantes que o veneno da mentira e da ocultação da verdade a serviço da causa se infiltra no meio estudantil. Tal prática parece correr solta, também, em sites com conteúdos escolares. É o de que me adverte um leitor, diante de matéria no portal "Brasil Escola". No meio de um texto que descreve a situação da Alemanha no período entre as duas grandes guerras e o surgimento do nazismo, o autor do conteúdo permitiu-se instalar este "jaboti": 
        "Em 1917, a Rússia, comandada pelo socialista Lênin, derrubou o governo do Czar Nicolau II e instaurou uma nova forma de governo democrático: o comunismo. Os países que baseavam suas economias no capitalismo e na exploração do trabalhador se viram ameaçados. Uma onda de movimentos antidemocráticos surgiu no cenário mundial, com o intuito de conter o crescimento do comunismo."
        Se você enxerta uma opinião pessoal em meio a um relato histórico neutro, você amplia a credibilidade da propaganda  que faz. Mutretas como essa saltam de livros didáticos, sites de educação, polígrafos, provas escolares, exames do ENEM, mostrando que Escola sem Partido é uma imposição da realidade. Para dizer como os "companheiros": é preciso problematizar essa falta de escrúpulos e de limites. O país não pode ficar refém do atraso e da perfídia de deseducadores.



 Percival Puggina -membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.



A pós-verdade na discussão das reformas trabalhista e previdenciária



As reformas trabalhista e previdenciária tangenciam temas relevantes na vida de toda a população, tratando de questões relativas à fonte de renda, seja na forma de trabalho, recebimento de aposentadoria ou pensão. É razoável pressupor, portanto, que qualquer alteração na normatização referente a tais assuntos cause certo desconforto à sociedade, especialmente em ambiente conflagrado pelo maniqueísmo e com pouco espaço para discussão equilibrada sobre tais tópicos, de fulcral relevância para o presente e o futuro do Brasil. Não é recomendável, entretanto, que o assunto seja tratado sob a ótica da pós-verdade, termo escolhido como palavra do ano em 2016 pelo Dicionário Oxford.

A pós -verdade consiste na situação “em que os fatos objetivos são menos influentes na conformação da opinião pública que os apelos à emoção e às crenças pessoais”. Nesse sentido, é empiricamente perceptível que há uma miríade de versões, sobre os mais variados assuntos, que refletem opiniões pessoais sobre temas que deveriam ser abordados de modo mais fleumático. As reformas nas áreas laboral e previdenciária estão entre esses temas que demandam maior sobriedade quando estiverem sob análise.

A legislação trabalhista é objeto de discussão acalorada há muito tempo. Editada no ocaso do período ditatorial varguista, em 1943, a Consolidação das Leis do Trabalho (C.L.T.), principal diploma infraconstitucional em vigor, espelha um momento das relações trabalhistas que não mais se coaduna com as necessidades sociais e econômicas atuais. Baseada em uma economia marcada pela prevalência do setor industrial, com vínculos de hierarquia mais rígida, as normas trabalhistas não mais se adequam ao panorama hodierno, plasmado pelo crescimento do setor de serviços e por relações mais horizontalizadas, típicas de uma sociedade em rede, conforme já observado pelo pensador espanhol Manuel Castells. 

Assim, diversamente do que se diz em certos meios, a revisão da legislação laboral não tem por objetivo precarizar os direitos dos trabalhadores, mas adaptar o regramento à realidade que lhe subjaz. O ajuizamento de cerca de três milhões de ações trabalhistas no Brasil, em 2016, demonstra que há algo errado. Embora empregados e empregadores tenham interesses imediatos naturalmente contrapostos, o interesse mediato deve ser o mesmo: prezar pela saúde financeira da empresa. Note-se que o ente produtivo, além de representar fonte de renda para o trabalhador e de lucro para o empregador, guarda relevância social por si, dado que é também origem de tributos necessários para custear a sociedade em diversos campos. Conferir tratamento hostil à empresa prejudica, destarte, toda a população, especialmente o empregador e os obreiros, agentes diretamente envolvidos no cotidiano produtivo. 

Preocupação semelhante deve ocorrer com a reforma previdenciária. Há dois motivos principais para a realização do ajuste: a demografia e a disparidade normativa entre os setores sociais. O aspecto demográfico é evidente, bastando ser feita a análise da pirâmide etária nacional. A população jovem diminui, devido à queda na taxa de natalidade, e a população idosa cresce, em virtude de avanços na medicina e melhores condições de vida. Assim, enquanto há redução no número de contribuintes, incrementa-se a quantidade de beneficiários do sistema previdenciário. Evidentemente, a conta não fecha, provocando déficits bilionários aos cofres públicos.

No que tange ao segundo motivo, é evidente que a sociedade deve repensar o pacto intergeracional que é materializado na Previdência ao observar a diferença entre o Regime Geral e os Regimes Próprios da Previdência Social. Ambos apresentaram déficit de cerca de cento e cinquenta bilhões de reais cada, em 2016, para o custeio de benefícios, com uma diferença: enquanto o setor privado despendeu o referido montante para mais de vinte e nove milhões de pessoas, o setor público atendeu menos de quatro milhões de cidadãos. O senso de comunidade, respeitado o direito adquirido, deve prevalecer. Em respeito às gerações vindouras, é mandatório um pacto social que, inexoravelmente, traga sacrifícios a todos os setores da sociedade. É o preço a ser pago pela omissão governamental histórica em relação a esse assunto. 

As reformas trabalhista e previdenciária são, em suma, temas que exigem uma análise acurada e desapaixonada. A sociedade demanda mais democracia, mais segurança jurídica e o fim dos privilégios. Para alcançar tal objetivo, porém, é necessário o uso de mais subjetivos e menos adjetivos, ou seja, um discurso que contenha mais verdade e menos pós-verdade.





Elton Duarte Batalha - Advogado e Professor de Direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie



Relatório mostra como as mudanças climáticas favorecem o terrorismo



● As mudanças climáticas não criam terroristas, mas ajudam a criar um ambiente em que os terroristas prosperam e operam mais livremente.
● Grupos terroristas exploram a escassez de água e alimentos para controlar as populações
● A mudança climática destrói os meios de vida tornando as pessoas mais vulneráveis ​​ao recrutamento por parte de grupos terroristas


Um novo relatório lançado hoje na Alemanha mostra como os impactos das mudanças climáticas contribuem com o surgimento e crescimento de grupos terroristas, como Boko Haram e o Estado Islâmico.  Elaborado pelo think-tank alemão Adelphi, o estudo Insurreição, Terrorismo e Crime Organizado em um Mundo em Aquecimento concluiu que as alterações do clima multiplicam e interagem com ameaças, riscos e pressões já existentes, como a escassez de recursos, o crescimento populacional e a urbanização.  Segundo Lukas Rüttinger, autor do relatório, a junção desses fatores leva à fragilidade e conflitos violentos nos quais esses grupos podem prosperar.
 
Cada vez mais os grupos terroristas estão usando recursos naturais - como a água - como arma de guerra, controlando o acesso a ela, agravando ainda mais e exacerbando sua escassez. Quanto mais escassos os recursos se tornam, maior poder é dado àqueles que os controlam, especialmente em regiões onde as pessoas dependem particularmente dos recursos naturais para sua subsistência.

Por exemplo, ao redor do Lago Chade, as alterações climáticas contribuem para a escassez de recursos que aumentam a concorrência local por terra e água. Esta competição, por sua vez, muitas vezes alimenta tensões sociais e até conflitos violentos. Ao mesmo tempo, esta escassez de recursos erode os meios de subsistência de muitas pessoas, agrava a pobreza e o desemprego e leva ao deslocamento populacional. Grupos terroristas como Boko Haram ganham poder neste ambiente frágil.

À medida que as alterações climáticas vão afetando a segurança alimentar e a disponibilidade de água e de terra, as pessoas se tornam mais  vulneráveis
​​não só aos impactos negativos do clima mas também ao recrutamento por grupos terroristas que oferecem meios de subsistência e incentivos econômicos alternativos.
"As áreas já vulneráveis podem ser colocadas em um ciclo vicioso, que torna mais fácil a operação do terrorismo, o que, por sua vez, leva ao surgimento desses grupos, com conseqüências para todos", resume Rüttinger.

Às vezes, os grupos terroristas tentam preencher a lacuna deixada pelo Estado, fornecendo serviços básicos para ganhar apoio da população local. À medida que os impactos do clima se agravarem, alguns Estados terão que lutar cada vez mais para conseguir fornecer serviços e manter sua legitimidade.
Este relatório coincide com a ameaça da fome, da seca e da guerra sobre milhões de pessoas na região em torno do lago Chade, na África. Em 31 de março, o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) aprovou uma resolução sobre essa região, onde o Boko Haram atua, a qual destacada a preocupação com a interação dos fatores que levam à crise e pedindo uma melhor colaboração entre os membros das Nações Unidas para lidar com a situação. A resolução, que também solicita que o Secretário Geral da ONU emita um relatório sobre a crise, veio depois que os embaixadores do CSNU visitaram a região recentemente.
O relatório lançado hoje confirma algumas das conclusões da ONU:

● Lidar com a mudança do clima, impulsionar o desenvolvimento e fortalecer os governos reduzirá a ameaça do terrorismo.

● A ação climática, o desenvolvimento, as estratégias de luta contra o terrorismo e a consolidação da paz devem ser conduzidas de forma holística e não isoladamente, como acontece frequentemente e que gera o risco de agravar cada um dos fatores.

● Melhorar o Estado de Direito e fortalecer as instituições locais ajudará a reduzir o risco que a mudança climática representa para o crescimento e crescimento de grupos terroristas, além de ser um componente essencial da adaptação e construção da paz.

● As pessoas que são vulneráveis
​​ao recrutamento por grupos terroristas dependem frequentemente da agricultura para a sua subsistência, pelo que os esforços de desenvolvimento devem centrar-se na garantia de que esses meios de subsistência são sustentáveis ​​diante de um clima em mudança.
 
● As cidades são frequentemente a válvula de pressão quando o clima, conflito e fragilidade ocorrem - a construção de cidades resilientes minimizará as chances de as tensões se derramarem.

"Uma perspectiva mais ampla ajudará a enfrentar melhor as causas do surgimento e o crescimento de grupos armados não estatais", disse Rüttinger.





Adelphi





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