"Um país se faz com
homens e livros", ensinou Monteiro Lobato ao Brasil de seu tempo, de
maioria analfabeta. Por via de consequência, podemos afirmar que a construção
de um país passa, também, por professores e livros didáticos. Estas verdades
acacianas foram entendidas pelos totalitarismos, que sempre usaram o sistema de
ensino para a indigna tarefa de moldar gerações segundo os devaneios de seus
dirigentes políticos. E a missão prossegue, mesmo em regimes de feição
democrática, mediante infiltração, para idêntico fim, de modo militante, nas
mentes dos homens e na alma dos livros.
Não é só a escola, portanto, que deve
ser sem partido. Também ao material didático impõe-se essa condição. Contam-se
às dezenas de milhões os livros que os governos de esquerda e centro-esquerda
enviaram às escolas para transmitir aos estudantes brasileiros visões
distorcidas da política, da economia, da história, da vida social, do
cristianismo e da Igreja Católica. Tivessem maior credibilidade os militantes
da causa, não fossem tão escandalosamente sectários, não abusassem tanto do
poder de ensinar que lhes foi outorgado, não fossem tão desautorizados pelos
fatos, e o estrago teria sido muito maior.
A mais recente edição do Fórum da
Liberdade - "O futuro da democracia" - foi uma evidência de que nem
tudo está perdido. Milhares de estudantes lotaram espontaneamente o auditório
da PUC/RS, durante dois dias, para assistir e aplaudir, com entusiasmo,
conferencistas nacionais e internacionais que discorreram sobre liberdades
políticas e econômicas, autonomia do indivíduo, papel subsidiário do Estado,
empreendedorismo e causas estruturais da pobreza e da riqueza. Chega a ser
surpreendente que aqueles jovens procedessem de salas de aula nas quais apenas
20% dos professores se consideram politicamente neutros; onde 86% deles, na
opinião dos alunos, transmitem um conceito positivo de Che Guevara, e 78% creem
que seu principal papel seja o de "formar cidadãos" já se sabe para
quê (matéria completa do Spotniks aqui).
Mas não é só por livros didáticos e
professores militantes que o veneno da mentira e da ocultação da verdade a
serviço da causa se infiltra no meio estudantil. Tal prática parece correr
solta, também, em sites com conteúdos escolares. É o de que me adverte um
leitor, diante de matéria no portal "Brasil Escola". No meio de um
texto que descreve a situação da Alemanha no período entre as duas grandes
guerras e o surgimento do nazismo, o autor do conteúdo
permitiu-se instalar este "jaboti":
"Em 1917, a Rússia, comandada pelo socialista Lênin, derrubou o
governo do Czar Nicolau II e instaurou uma nova forma de governo democrático: o
comunismo. Os países que baseavam suas economias no capitalismo e na exploração
do trabalhador se viram ameaçados. Uma onda de movimentos antidemocráticos
surgiu no cenário mundial, com o intuito de conter o crescimento do
comunismo."
Se você enxerta uma opinião pessoal em
meio a um relato histórico neutro, você amplia a credibilidade da
propaganda que faz. Mutretas como essa
saltam de livros didáticos, sites de educação, polígrafos, provas escolares,
exames do ENEM, mostrando que Escola sem Partido é uma imposição da realidade.
Para dizer como os "companheiros": é preciso problematizar essa falta
de escrúpulos e de limites. O país não pode ficar refém do atraso e da perfídia
de deseducadores.
Percival Puggina -membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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