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sábado, 30 de outubro de 2021

Para além do câncer de mama: a luta contra a mente das mulheres e da sociedade


Medo, insegurança, autoestima, aceitação, coragem. Todas essas palavras fazem parte de uma grande caminhada de quem descobre o câncer, seja ele qual for e independentemente do quão otimista o paciente possa estar com o seu tratamento. Lutar contra a doença é um ato que coloca não somente o nosso corpo em uma batalha, mas também a nossa mente. E quando isso está associado também a aspectos físicos pessoais tão emblemáticos e importantes? Neste caso, temos um desafio ainda maior e esse é um dos principais pontos que avaliamos quando estamos diante do Câncer de Mama.

As campanhas de Outubro Rosa já estão muito presentes na sociedade brasileira. A importância do autoexame, do cuidado constante e do diagnóstico precoce estão muito presentes na mentalidade mundial, embora ainda tenhamos muitos diagnósticos tardios do câncer que mais mata mulheres em todo o mundo. Mas, para além disso, ainda discutimos pouco sobre os aspectos psicológicos que envolvem a luta contra essa doença. Qual é o papel sócio emocional da população em geral para ajudar essas mulheres? Qual é o papel da família neste processo? Qual é o papel da nossa própria mente ao lidar com essa situação?

Em primeiro lugar, é importante compreendermos o quanto a doença e, especificamente o câncer de mama, desestrutura uma mulher diante das incertezas do tratamento, da possibilidade de não se curar totalmente ou de se curar e ter uma recidiva. Uma vez que a paciente descobre o câncer é como se passasse a pensar que conviverá com isso durante toda a vida, ainda que se cure totalmente. Além disso, estamos falando de algo que vai mexer com uma das partes mais significativas do corpo feminino: o seio. E sob essa ótica, temos que entender que a influência dessa parte do corpo humano se dá não somente pela sexualidade feminina, mas pelo que representa para muitas mulheres, principalmente quando falamos de uma mulher jovem que ainda não foi mãe e que sonha um dia com a amamentação, por exemplo. São inúmeras as problemáticas psicológicas associadas a isso.

Vamos ainda além: É uma doença que atinge a personalidade feminina e faz com que essas mulheres questionem sua própria beleza, sua aceitação diante de parceiros(as), família, filhos e até amigos. É muito comum, inclusive, encontrarmos pacientes que se fecham e não compartilham da sua doença por medo de olhares estranhos ou de pena pela sua própria aparência ao lutar contra isso.

Diante de todos esses pontos, o cuidado integrado e coordenado de saúde de uma mulher nesta situação é fundamental para a evolução e sucesso do seu tratamento e o mais indicado é que o atendimento psicológico seja iniciado imediatamente após o diagnóstico. Após uma avaliação do profissional que acompanhará essa paciente, será indicada a conduta e os tipos de acompanhamento que deverão ser feitos. Em muitos casos, inclusive, este tratamento envolve não somente a paciente, mas também seus parceiros e família, já que é uma luta de todos e os medos e inseguranças também são compartilhados.

Estudos demonstraram que essa redução da qualidade de vida emocional, social e sexual acontece muito além do período de um a dois anos após o tratamento inicial, chegando até cinco anos depois. E é por isso que, de acordo com o INCA, no momento da alta hospitalar deve-se encaminhar a mulher para grupos de apoio que discutem o que estão vivenciando, visando integrá-las à vida cotidiana novamente. Também há estudos que demonstram que as intervenções interdisciplinares (que são compostas por médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e nutricionistas) são essenciais para a efetividade durante e após o tratamento. E, neste quesito, o cuidado coordenado, que valorizamos muito e temos como principal na Amparo Saúde, é a ferramenta-chave.

Por fim, é uma doença difícil, mas com muita esperança de cura principalmente quando associamos a tratamentos psicológicos que dão suporte às mulheres para adaptarem suas vidas e enxergarem novos caminhos importantes em sua existência.

Como sociedade, precisamos entender nosso papel também nessa construção de novos olhares e perspectivas diante do câncer de mama. Evitarmos frases indiscretas, olhares diferentes, afastamentos. Se formos além e espalharmos esperança, entendendo que a doença quando compartilhada em uma rede de apoio eficiente, a mulher se torna ainda mais forte e, com certeza teremos ainda mais vitórias e curas!



Muriell da Silva Coelho - psicóloga clínica em consultório particular e especialista em saúde mental de adultos. Possui experiência em psicologia hospitalar de áreas como oncologia, neurologia, cardiologia, gerontologia, nefrologia e cuidados paliativos. Atualmente, atua na Amparo Saúde como líder de Psicologia em Atenção Primária à Saúde.


Compaixão gera Autossatisfação

Compaixão transforma a compreensão da dor alheia em resultado positivo para todos os envolvidos, iniciando por nós mesmos, e, diferente da empatia promove ação.

A felicidade é a base para a construção de "tempos melhores".

O sucesso futuro é uma consequência do bem-estar subjetivo do presente, é o que mostra um estudo consagrado de 200 casos que somaram mais de 275 mil participantes, realizado pela professora Sonja Lyubomirsky, da Universidade da Califórnia em Riverside, Ed Diener, da Universidade de Illinois, e Laura King, da Universidade do Missouri.

Os cientistas concluíram que pessoas felizes apresentam mais oportunidades de ter ótimas relações de amizade, excelentes relacionamentos conjugais, alcançam salários maiores, performar melhor no trabalho, mais criatividade, logo solucionam problemas com maior rapidez, mais saúde, otimismo, energia, altruísmo do que aquelas "menos felizes". A metanálise traduziu ainda dados relevantes para ambientes corporativos, colaboradores felizes são, em média:

* 31% mais produtivos;

* vendem 37% a mais;

* são três vezes mais criativos;

O comportamento compassividade é uma fonte geradora de felicidade exponencial. Alguns cientistas se referem a essa experiência como sendo um efeito dual da felicidade: por um lado, ser feliz é a causa, e, por outro, é o objetivo principal da vida de todo ser humano, (segundo pesquisa da ONU de março de 2021).


Compaixão vai além da empatia

A compaixão seria uma resposta emocional à empatia com resultados concretos. Enquanto a compaixão nos leva à ação, a empatia cria laços de identificação nem sempre favoráveis, que precisam ser bem identificados para evitar emoções negativas, como a identificação com uma dor presumida em outra pessoa, como a projeção de um sentimento pessoal do qual não se tem consciência.

O CEO do LinkedIn, Jeff Weiner, disse, durante seu Talk no Wisdom 2.0, que o foco de sua vida é "expandir a sabedoria coletiva do mundo por meio da compaixão". E que isso se tornou a estrela guia da rede social. Weiner também expressa a importância de se entender a diferença entre compaixão e empatia. Durante um seminário na Stanford Graduate School of Business, o CEO falou sobre preconceitos, dizendo que "a reação natural que muitas pessoas têm quando discordam de alguém é de espelhar cegamente as emoções, ou assumir más intenções".

Já a compaixão é a "bondade enraizada na apreciação de outros seres humanos como pessoas reais, que também sofrem, independentemente de nossas afinidades e semelhanças" é o que mostrou o professor de psicologia C. Daniel Batson.

No estudo, participantes que se imaginaram na posição "dolorosa" do outro, demonstraram sinais mais fortes de desconforto e angústia pessoal, levando o observador a não prestar atenção integral à experiência do outro, ou até de evitá-la.

Agir de forma compassiva é uma resposta mais objetiva, que gera uma ação apropriada, que transcende a emoção pessoal. O ato de ajudarmos ao outro gera sentimentos positivos para nós mesmos, para quem é alvo de nossa ajuda e para quem testemunha essa ajuda. Segundo pesquisadores da Universidade Estadual de Oregon, quando vemos alguém ajudar outro o nosso sistema nervoso simpático entra em ação, e ainda que provoque certo desconforto de início, no momento seguinte nosso sistema nervoso parassimpático é ativado, aliviando esse sentimento e nos proporcionando prazer ao observar a dor amenizada.

É preciso desconstruir antigas máximas: compaixão é ingrediente indispensável para a satisfação pessoal duradoura, além de criar um ambiente positivo, produtivo, e não por acaso, feliz.

 

Sandra Teschner - pós-graduada em Neuropsicologia e Chief Happiness Officer certificada pela Florida International University. Fundadora do Instituto Happiness do Brasil, centro de estudos e projetos de Felicidade Intencional. É palestrante internacional, e empreendedora social.

https://sandrateschner.com.br/)

Instagram: @sandrateschner


Quente demais? Saiba quais cuidados tomar ao praticar exercícios no calor

Apesar das atividades físicas proporcionarem benefícios ao corpo e a mente, a prática em altas temperaturas pode trazer riscos à saúde

 

Não é novidade que a prática de exercícios físicos é essencial para a manutenção da saúde - tanto física quanto mental. Contudo, apesar de só trazer benefícios, durante os períodos com temperaturas mais altas é importante tomar alguns cuidados ao fazer atividades físicas.

Um dos maiores pontos de atenção é a hidratação. As altas temperaturas levam as pessoas a transpirar ainda mais durante os exercícios, uma vez que o suor é um processo para regulação de temperatura corporal.

"Muitas pessoas ainda acreditam que quanto mais se transpira durante o exercício, mais calorias são perdidas. Mas a verdade é que, quanto maior a transpiração, maior a desidratação. É importante ficar atento à hidratação durante toda a atividade", explica Izabela Ludovico, profissional de educação física da Bodytech do Goiânia Shopping.

Além da desidratação, exagerar nas atividades durante períodos mais quentes pode trazer diversos outros problemas. Por isso, é indicado ficar atento a alguns sinais, como cansaço além do normal, dores de cabeça, tontura, vômitos e intolerância ao esforço.

"Se você passa a não conseguir realizar o mesmo exercício que realizava antes e sente qualquer um ou mais destes sintomas, alguma coisa está fora de ajuste. Recomendo parar imediatamente e procurar um médico, de preferência da área desportiva", pontua Izabela.

Além de fazer o alerta para possíveis sintomas, a especialista dá algumas dicas para otimizar e fazer os exercícios físicos de forma segura. Confira:

- Não consumir muita bebida alcoólica

- Usar protetor solar a cada duas horas e se proteger com roupas caso a atividade seja ao ar livre

- Dar preferência para roupas leves

- Se nutrir com alimentos leves, como frutas, lanches naturais e água de coco - não só antes e durante as atividades, como também tentar manter uma rotina alimentar saudável

- Caso o exercício seja durante o dia, dar preferência ao horário de antes das 10h e depois das 16h, por no máximo 45 minutos

- Não exagerar e respeitar os próprios limites.


Para ser mãe não precisa ser perfeita


Vejo muitas mães se culpando ou desdenhando da sua ocupação mais bonita: a de ser mãe. Vejo mães julgando outras mães como se o conceito de "a melhor forma de ser mãe" estivesse estabelecido em cartilha ou lei.

Quantas sogras condenam suas noras por escolherem uma "didática disciplinar" diferente? Muitas, inúmeras, é de perder as contas. Vejo mulheres criticando a mãe do lado por prender mais, soltar menos, dar banana esmagada com canela, deixar na creche aos seis meses e tantas outras coisas que só à mãe e ao filho convém.

Com exceção das mães ruins de fato, essas que assistimos nos noticiários diariamente, quase todas as outras são as melhores mães que podem ser, dentro do cenário em que vivem e das ferramentas que possuem para exercer esse papel.

Fato é que, às vezes, ser mãe cansa, desgasta, esgota e é chato pra caramba! Só que poucas mulheres têm coragem de dizer isso. Ser mãe é pesado! Bem como, claro, ser mãe também é lindo, enriquecedor, profundo e especial em quase todos os sentidos. Os dois lados, o bom e o ruim, são legítimos e se completam. Você só precisa admitir que a tarefa não é fácil e que errar é absolutamente humano (e necessário).

Já vi amigas lutarem para esconder olheiras escuras, sedentas por uma noite de sono tranquilo. Também já ouvi mulheres dizendo que ser mãe é viver no país das maravilhas, mentira delas. Desculpa, mas essa afirmação é falsa. (E nem precisa ser mãe para saber que não é verdade esse bilhete).

Mães, vocês erram e está tudo bem. Vocês são humanas e o mais lindo da relação com seus filhos é justamente a possibilidade de aprender e reaprender tudo. Permita-se humanizar essa relação, deixando de lado a ideia de que para ser mãe é preciso ser perfeita.

Não, você só precisa ser a melhor mãe que conseguir, e entender que isso já é o suficiente. Ser mãe é um livro em branco, criado com tempo, resiliência, paciência e calma. No mais, é viver e aprender, aceitando que não se pode fazer tudo e que algumas coisas vão além da sua interferência. A culpa é só uma forma de punir seu espírito por algo que ele não fez.

Ser mãe, mais do que acertar, é errar, é errar sendo. Só assim se é mãe de verdade. Nenhuma mãe é perfeita, não se iluda. E, se houver alguma, me desculpe, mas que pessoa chata não haverá de ser.

As boas mães não são perfeitas. As melhores mães são aquelas que chegam o mais perto disso possível, mas sabendo que haverão pedras no caminho e que ignorá-las é caminhar pela metade.

A coisa mais perfeita que você pode deixar de lição para seu filho é permitir que ele seja imperfeito. Milagre não é ser a mãe perfeita. Milagre é ser a melhor mãe que você pode e se sentir feliz com isso. E ponto

 

Ju Farias - jornalista e autora do livro Com licença, posso entrar?, pela editora Autografia. Além disso, é autora das páginas @ascartasqueguardeioficial no Instagram e @comlicencaoficial no Facebook.


Conheça dicas para lidar com 5 condições sabotadoras da saúde mental

Segundo pesquisa realizada recentemente pelo Instituto Datafolha, um em cada 10 brasileiros relatam problema psíquicos como ansiedade ou depressão em decorrência da pandemia. Psicólogos e psiquiatras apontam que esse cenário já era previsto e podem se agravar ainda mais no período pós-pandêmico. Na análise da Amil, uma das maiores operadoras de planos de saúde do país, cinco comportamentos têm sido predominantes no abalo à saúde mental nesse período: necessidade de controle, busca incessante pela perfeição, desafios da autopercepção, medo das incertezas e dificuldade de lidar com o sofrimento. Esses temas são tratados em uma série de vídeos e uma landingpage lançados pela operadora na última semana com a recomendação de especialistas sobre como lidar com cada um desses fatores.


Necessidade de controle

Os avanços tecnológicos potencializaram o senso de controle do ser humano: desde os equipamentos eletrônicos às fotos editadas por filtros nas timeline das redes sociais, tudo pode ser controlado. Essa autonomia leva o cérebro ao entendimento de que é possível e imprescindível estar no controle, gerando expectativas exageradas quanto à realidade.  Essa ilusão do controle pode causar consequências como frustração e sentimento de impotência quando se percebe que o controle absoluto não é algo tangível. Para lidar com esse sentimento, é preciso se adaptar à realidade se livrando da rigidez da onipotência – o desejo do completo e do perfeito que não chega nunca e nem com a impotência, em que a pessoa acredita ser impossível conviver com o fracasso e com o sofrimento. A dica é trabalhar com a potência, que é a flexibilidade de viver com a condição real de incertezas e utilizar das ferramentas disponíveis para resolver, contornar, improvisar e criar alternativas para aliviar as angústias.


Busca incessante pela perfeição

O que é perfeição para você? Essa pergunta pode ser o ponta pé inicial para começar a entender de onde vem a obsessão pela perfeição e como é possível conviver com esse sentimento imposto muitas vezes pelo contexto em que vivemos. As redes sociais, por exemplo, criam um padrão ilusório de beleza, resultando em comparações e conflitos. É preciso compreender que ninguém será perfeito o suficiente e também que é importante se conectar consigo mesmo para lidar melhor com a realidade.


Desafios da autopercepção

O autoconhecimento é fundamental para evitar a criação de expectativas exageradas sobre a identidade pessoal, ou seja, sobre a imagem transmitida ao mundo externo. Mas engana-se quem acha que o ser humano possui apenas uma identidade. Na ânsia pelo controle e pela perfeição, é possível aderir a personagens para entregar ao mundo o que as pessoas acreditam ser exigido delas. Psicólogos e psiquiatras indicam fazer um mergulho interior para que as pessoas façam uma releitura mais resiliente e flexível sobre elas próprias e sobre o mundo externo no qual elas estão inseridas. Esse é um exercício diário de autopercepção.


Medo das incertezas

A incerteza é uma condição humana. Para resolver essa questão, a humanidade desenvolveu diversas disciplinas como a astronomia, a filosofia, a ciência e por último a tecnologia. O problema não está em buscar formas de aliviar as incertezas e sim na tentativa obstinada de eliminar a incerteza, o que pode acarretar em angústia, por exemplo, pois a incerteza é parte da vida e é preciso construir estratégias para lidar com isso. A maioria das pessoas cria a expectativa de que a vida só será plena quando todos os problemas estiverem resolvidos. Mas a incerteza pode ser encarada como um convite para novas possibilidades.


Dificuldade de lidar com o sofrimento

Nem sempre está tudo bem e isso é normal. Na verdade, estranho mesmo seria ser feliz o tempo todo. A vida não é uma linha reta, ou seja, sofrer faz parte dessa jornada. Buscar aprender a suportar a dor, contornar momentos mais difíceis e encontrar caminhos para seguir adiante, é o que faz crescer. Nesse aspecto, ter resiliência, que é a capacidade de suportar problemas, é fundamental para retornar ao equilíbrio extraindo aprendizado da dor.


Depressão ou só tristeza?

 Psicóloga do Grupo São Cristóvão Saúde dá dicas para quem deseja reconhecer e tratar sintomas do transtorno de humor


Contrariando o pensamento de muitos, a depressão não é um sinal de fraqueza, falta de pensamentos positivos ou alguma condição que possa ser superada por esforço ou força de vontade de quem a tem. Tampouco se trata de apenas uma "mudança de humor" ou um baixo astral passageiro. Desde o início da pandemia e com a incerteza do futuro, notou-se uma crescente no número de pessoas sofrendo por estresse, ansiedade e depressão. Porém, como identificarmos se um ente querido está realmente sofrendo com esta doença?

Considerada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como o "Mal do Século", o quadro depressivo é um Transtorno Afetivo (ou do humor), caracterizado por uma alteração psíquica e orgânica global e como consequência, altera na maneira de valorizar a realidade e a vida. De acordo com a psicóloga do Grupo São Cristóvão Saúde, Aline Melo, "é importante ressaltarmos que o paciente que sofre dela não tem controle ou não age propositalmente nos sintomas que ocorrem devido ao quadro", revela a especialista.

Para auxiliar quem está passando por tais dificuldades, além de agir de maneira acolhedora, paciente e amorosa, é necessário ter conhecimento sobre a doença para fortalecer o outro no enfrentamento desse processo. "O não entender do quadro faz o parceiro pensar que, assim como um momento de tristeza, as sensações de quem sofre dessa doença também vão passar logo, ou mesmo comparam o quadro da pessoa com outras situações de sofrimento, com o objetivo de fazê-la sentir-se melhor e diminuir sua dor. Porém, o impacto desta atitude é profundamente negativo e pode gerar um sentimento de culpa no paciente ou de que estão minimizando sua dor", revela a psicóloga do Grupo São Cristóvão Saúde.

Não se pode afirmar a causa exata da depressão, pois varia entre indivíduos. Antes de bater o martelo no diagnóstico, é possível que o médico peça alguns outros exames para verificar se não há outra doença que possa estar causando os sintomas. Problemas de tireoide, por exemplo, podem causar sintomas idênticos aos de um transtorno depressivo. Dentre os fatores de risco que podem ser um gatilho para desencadear o transtorno, podemos citar:

• Hereditariedade (tendência familiar)

• Efeitos colaterais derivados de medicamentos

• Eventos emocionalmente angustiantes, especialmente quando envolvem uma perda

• Alterações dos níveis hormonais (quando se trata do sexo feminino)

• Certas doenças físicas

Com o isolamento por conta do Covid-19, sentimentos de solidão e tristeza podem surgir, dificultando ainda mais o acolhimento do outro. Sendo assim, a especialista recomenda procurar assistência caso apresente alguns dos sintomas abaixo por duas ou mais semanas:

• Tristeza

• Desânimo e fadiga

• Insônia

• Perda ou aumento de apetite

• Falta de esperança

• Dificuldade em sentir prazer nas coisas

• Sonolência excessiva

• Sentimento de culpa

• Falta de concentração

• Libido baixa

• Sentimentos de medo e vazio

• Insegurança

• Dores pelo corpo, como dor de barriga, tensão nos ombros ou nuca, dor de cabeça, pressão no peito ou até mesmo prisão de ventre

Trazer para perto outras pessoas da família ou de confiança pode contribuir para a melhora deste sentimento. Ao não darmos a devida atenção aos sintomas, um episódio de depressão não tratado costuma durar cerca de seis meses, mas, às vezes, prolonga-se por dois anos ou mais e tendem a se repetir diversas vezes ao longo da vida.

Desse modo, além de procurar profissionais da saúde que possam auxiliar nestes momentos delicados, a principal dica é o autoconhecimento. Leituras de autoajuda, podcasts e outros materiais são ferramentas podem proporcionar conhecimento sobre o tema, mas não substituem o atendimento terapêutico. "Quanto mais compreendermos nosso funcionamento emocional, fica mais fácil de identificarmos quando algo não anda bem em nosso psicológico e tratarmos antes que vire uma patologia mais grave", finaliza Aline Melo.

 

Grupo São Cristóvão Saúde


Neuroplasticidade: 6 formas de estimular o cérebro a aprender mais e por mais tempo

O hábito da leitura permite a capacidade mais rápida de aprendizado
Crédito: divulgação/Colégio Positivo
As crianças têm uma capacidade imensa de aprender novos conhecimentos graças ao que chamamos de neuroplasticidade. Também conhecida como plasticidade neural ou maleabilidade cerebral, é a habilidade do cérebro de se reorganizar para aprender algo novo. No entanto, à medida que as crianças vão se tornando adultas, essa capacidade tende a diminuir, principalmente por conta da falta de estímulo. "Existe a possibilidade do cérebro criar novos circuitos e conexões neurais ao longo da nossa vida como resposta a determinados estímulos que recebemos, resultando em mudanças funcionais no comportamento do próprio cérebro", explica a psicóloga educacional do Colégio Positivo - Jardim Ambiental, em Curitiba (PR), Lianna Calderari Oliveira.

Isso significa que o sistema nervoso não tem uma estrutura rígida e imutável, como se pensava há algumas décadas, mas ele modifica sua estrutura funcional sob diferentes circunstâncias, expressando assim uma capacidade plástica durante o processo de adaptação. "Exames de imagem já mostraram a plasticidade do cérebro, inclusive, que pode ser alterada por fatores como ambiente, estado emocional, nível cognitivo, entre outros", conta a psicóloga.

Segundo Lianna, a neuroplasticidade trabalha também na formação de hábitos. "Na prática, isso ocorre como se estivéssemos ensinando o nosso cérebro a como se comportar melhor. Com isso, é possível adaptar o paladar e se acostumar com o gosto de alimentos saudáveis e reduzir o consumo de produtos industrializados, por exemplo — o que favorece a saúde como um todo", revela. Os conceitos da plasticidade são utilizados, principalmente, na área da saúde, por fisioterapeutas e psicólogos e podem ajudar, por exemplo, na melhoria de dores crônicas, no desempenho de atletas, nas técnicas de aprendizagem, além da prevenção ao envelhecimento cerebral. 

Estimular a neuroplasticidade pode potencializar as capacidades intelectuais, aumentar a reserva cognitiva e manter as pessoas ativas por muito mais tempo, inclusive na velhice. Lianna Calderari Oliveira ensina algumas formas simples para ativar a plasticidade do cérebro.

 

1 - Exercícios físicos

Estudos mostram que a prática de atividade física - independentemente da modalidade - pode exercer efeito plástico sobre o sistema nervoso central. A neuroplasticidade é aumentada após o exercício físico, favorecendo o aprendizado, a memória, a vascularização cerebral e atenuando o declínio mental decorrente do envelhecimento. Além disso, pesquisas mostraram que o exercício físico provoca um efeito protetor no sistema nervoso, atuando na prevenção e no tratamento de problemas como obesidade, câncer, depressão, declínio cognitivo associado ao envelhecimento e aos distúrbios neuropáticos como doença de Parkinson, doença de Alzheimer, AVC e lesões medulares ou encefálicas.


2 - Aprender coisas novas

Fazer coisas que estejam fora da zona de conforto, como aprender a tocar um instrumento, praticar um esporte, dançar, fazer um curso em uma área totalmente nova… "O maior inimigo do cérebro é a rotina”, afirma a especialista. Segundo a coordenadora do Ensino Bilíngue do Centro de Inovação Pedagógica, Pesquisa e Desenvolvimento do Colégio Positivo (CIPP), Ana Paula Teixeira, aprender um novo idioma é uma das melhores formas de desenvolver a plasticidade do cérebro. "Isso se deve, em grande parte, ao treinamento que nosso cérebro recebe ao alternar entre um idioma e outro ao decidir como se comunicar", explica. O neurocientista Sam Wang (2011) descobriu que a demência é retardada por uma média de cerca de quatro anos para bilíngues em vez de monolíngues. 


3 - Alimentação saudável

Existem alimentos que são considerados brainfoods porque são comprovadamente eficazes no estímulo da neuroplasticidade. Entre eles estão os peixes gordurosos, como salmão, truta, atum, arenque e sardinha. "Todos esses peixes são ricos em ácidos graxos ômega-3, utilizados pelo organismo para construir células cerebrais e nervosas essenciais para o aprendizado e a memória", afirma Vanessa Queiroz, nutricionista dos colégios do Grupo Positivo. Outros alimentos que contribuem para a saúde dos neurônios são frutas vermelhas, ovos, açafrão e chá verde. Por outro lado, o consumo excessivo de álcool inibe a neuroplasticidade.


4 – Sono

O sono é um período restaurador essencial para a neuroplasticidade
Crédito: Pixabay

De acordo com Lianna, a aprendizagem ocorre por meio de conexões neurais - as sinapses. Durante o sono, essas sinapses voltam ao normal porque o cérebro não está recebendo tanta informação. "O sono é um período restaurador essencial, sem o qual, ocorre um pico de atividade por muito tempo, o que impacta diretamente na neuroplasticidade, ou seja, na capacidade do cérebro de criar novas conexões. Essa pausa é fundamental para armazenar tudo que foi aprendido naquele dia para então retomar no dia seguinte”, explica Lianna. De acordo com o neurocientista Tomás Ortiz Alonso, o ideal é dormir de 7 a 9 horas todos os dias.


5 - Meditação

O estresse inibe a neuroplasticidade, pois provoca ruído cerebral, impedindo o desenvolvimento de capacidades. Faz aumentar a substância chamada cortisol que afeta os receptores do hipocampo, que já não conseguem desenvolver sua capacidade de memória, atenção e codificação de coisas novas. A meditação é uma excelente ferramenta de combate ao estresse e, consequentemente, benéfica à plasticidade cerebral.


6 - Leitura

O hábito da leitura estimula a sinaptogênese e neurogênese, permitindo que as pessoas tenham capacidade mais rápida de aprendizado. Segundo o neurocientista Michael Merzenich, a leitura, assim como qualquer outra atividade, tem de ser feita com prazer, pois a motivação é que provoca a mudança do cérebro e ativa a neuroplasticidade. A regularidade também é fundamental.

De acordo com a neurociência, o cérebro começa a ter perdas de memória, menos capacidade de concentração e lentidão de raciocínio a partir dos 30 anos. Mais uma razão para treinar a neuroplasticidade o quanto antes.


Volta às aulas presenciais: como ajudar as crianças a recuperar o interesse pela escola


Mais de dez estados brasileiros já retomaram as aulas presenciais em 2021 e, a partir da próxima segunda-feira (18), os alunos de escolas públicas e particulares do Estado de São Paulo voltam, obrigatoriamente, para as escolas. O retorno em São Paulo acontece 19 meses depois da suspensão completa de aulas no formato convencional por conta da pandemia de COVID19. Mais do que voltar para a escola, em muitos casos, os estudantes recomeçam os estudos presenciais após um período de intensos desafios pessoais, que, em muitos casos, os afastaram da rota de aprendizagem em que estavam inseridos.


 

Emoções na pandemia


Para Livia Ciacci, neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro, os obstáculos para o processo de aprendizagem durante as aulas remotas estão diretamente ligados à emoção dos estudantes. Uma emoção é um conjunto de respostas químicas e neurais que surgem quando o cérebro recebe um estímulo externo. No contexto da pandemia da Covid-19, houve um predomínio de emoções negativas e um estado de alerta constante, com risco à sobrevivência.

 

“Toda vez que o cérebro julga o ambiente como ‘ameaçador’, uma área cerebral chamada amígdala vai estimular outras regiões produzindo respostas de luta ou fuga. Quando está neste momento, o cérebro foca apenas na reação, não se motiva a aprender e tem dificuldade para socializar”, explicou a neurocientista do Método Supera – Ginástica para o cérebro, Livia Ciacci.

 

Por outro lado, quando alguém julga o ambiente como “seguro”, os mecanismos inibitórios que controlam as respostas de luta-fuga se mantém ativos. “Nessa situação, as vias neurais ativadas preparam o corpo para o contato social deixando os processos mentais como atenção, raciocínio e concentração livres para funcionar. O desafio dos educadores nesta retomada está em principalmente tornar o ambiente seguro para todos os envolvidos, alunos e professores, o que vai impactar diretamente na capacidade de assimilar novas informações”, detalhou a especialista.


 

Aluno validado e aprendendo mais

 

Estudos recentes mostraram que os processos cognitivos e emocionais estão profundamente ligados. A emoção é parte integrante do processo de raciocínio e o auxilia em vez de atrapalhá-lo, como se costumava pensar antes. “A emoção afeta o processo de retenção das informações e a memória e é altamente dependente do significado que atribuímos às coisas e acontecimentos. Comprovamos isso quando executamos exercícios mentais (ábaco, jogos, enigmas etc.) para a atenção, raciocínio lógico e memória - onde a prática leva ao prazer de melhorar as funções, e o prazer motiva a tentar um desafio mais difícil, ou seja: tudo está ligado e por isso é tão importante neste processo de retomada validar os sentimentos de crianças e adolescentes”, lembrou a especialista, que completou “A motivação atua no sistema de recompensa do cérebro. Quando um aluno é afetado positivamente por algo, ele se interessa, e então ele entende e consegue resolver um desafio novo. Ao conseguir superar o desafio o cérebro ativo os centros de recompensa e gera a sensação de bem-estar que mobiliza a atenção da pessoa e reforça o comportamento dela em relação ao assunto que a afetou”, lembrou Livia Ciacci, Neurocientista do Supera – Ginástica para o cérebro.


  

Como ajudar as crianças a retomar o interesse pela escola?

 

Ao longo da pandemia, inúmeros levantamentos comprovaram os impactos psíquicos decorrentes do isolamento social em diferentes faixas etárias. Em especial aos jovens a pandemia levou ao uso excessivo de redes sociais e aumento dos sintomas de ansiedade, estresse e tristeza. “Quando pensamos que os jovens são um público que interage muito nas redes sociais, há uma tendência de eles voltarem à convivência presencial ainda “viciados” nas checagens constantes e dificuldade de concentração. Os estudantes ainda podem voltar trazendo emoções acumuladas nas tensões familiares e das experiências vividas no ensino remoto. Não há uma receita para o acolhimento perfeito, mas a maior preocupação daqui em diante deve ser a de criar um clima de segurança afetiva, só assim as emoções vão abrir caminho para o aspecto intelectual.


  

Validando sentimentos


Sabendo que os sentimentos positivos ou negativos interferem nos processos mentais mais complexos, como a tomada de decisão e o controle dos comportamentos, o foco da escola, segundo a especialista, deve ser na aceitação das diferenças e limitações de cada um, sem ignorar os impactos da pandemia em diferentes realidades sociais. “Estratégias personalizadas para que os alunos se autoavaliem e participem ativamente das metas que eles buscarão atingir podem ajudar na motivação. É hora de plantar a esperança, cada aluno deve sentir que ali é um lugar onde ele pode sentir o prazer de conseguir - seja qual for o seu interesse”, concluiu Livia Ciacci.


 

Confira algumas dicas que podem ajudar neste processo:

 

·        Melhore as conexões emocionais com as matérias a serem aprendidas, levando em conta as referências que fazem sentido para a geração;

·        Criar avaliações colaborativas, favorecendo mais a discussão e construção de conceitos do que as respostas certas;

·        Inclua a possibilidade de cometer erros e aprender com eles, usando estratégias que valorizem o erro;

·        Não é hora de “marcar provas” coletivas ou de comparar desempenhos, aliás, qualquer rotina escolar que dê margem para o clima de ameaça, opressão, vexame ou de desvalorização do esforço pessoal, vai fazer o sistema límbico, situado no meio do cérebro, bloqueie o funcionamento das funções cognitivas de integração que permitem a resolução de problemas;

·        O estudante, com seu repertório pessoal de vivências, deve avaliar o ambiente escolar e dar o colorido afetivo instantâneo, esse julgamento vai orientá-lo subjetivamente para tomar decisões. Se o objetivo é ter crianças e adolescentes motivados, as equipes escolares precisam oferecer uma recepção que favoreça os sentimentos positivos;

·        Tarefas muito difíceis ou muito fáceis não ativam o sistema de recompensa, como resultado, desmotivam e deixam o cérebro frustrado. Por isso são abandonadas ou evitadas. Qualquer receita para uma capacidade de aprender deve incluir: Um ambiente seguro para tentar e errar a vontade, pessoas dispostas a tornar os temas interessantes, níveis de dificuldade que propiciem o prazer de conseguir.


Os impactos psicológicos quando a mulher descobre um câncer de mama


Psicóloga Gabriele Costa explica as reações comuns de mulheres diagnosticadas com a doença e fala sobre a importância da saúde mental durante o tratamento

A atenção multidisciplinar é fundamental para garantir o bem-estar da mulher durante o tratamento de câncer de mama


Raiva, tristeza, inquietação, ansiedade, angústia, medo e luto. Esses são alguns dos sentimentos vivenciados por uma mulher quando recebe o diagnóstico de câncer de mama. Além da notícia, o processo de tratamento da doença também é algo muito impactante, o que leva a paciente a ter uma série de alterações no dia a dia, podendo levá-la inclusive à depressão. Estudo do Observatório de Oncologia mostra que 10% a 25% das mulheres com câncer de mama chegam a ter o transtorno.

Conforme explica a psicóloga clínica Gabriele da Rosa Costa, cada paciente vivencia de forma individual essa experiência, acerca de seu diagnóstico e dos aspectos psicossociais envolvidos nesse processo. "Algumas acabam usando a negação como mecanismo de defesa nesta circunstância. O que é muito perigoso, pois pode levá-la a não procurar ajuda médica e consequentemente ter uma piora do quadro", comenta.

Gabriele informa que a mulher acometida por essa doença se depara com a aceitação e convivência de um corpo marcado por uma nova imagem, podendo manifestar, assim, uma insatisfação compreensível, afinal, ocorrem alterações significativas em diversas esferas de sua vida, tais como atividades sexuais, vida social e até, em alguns casos, vida no trabalho.

Por esse motivo, além de todo o acompanhamento médico para tratamento da doença, o cuidado psicológico é fundamental para o bem-estar da mulher que está vivenciando esse momento delicado. "A perda dos cabelos e da própria mama, possíveis efeitos colaterais do tratamento, a nova rotina desgasta física e emocionalmente essa paciente. É neste contexto de mudanças que o acompanhamento psicológico pode trazer benefícios, em especial no processo de ressignificação dessa experiência dando força e esperança", reforça a especialista.

De acordo com a profissional, a informação também é um artifício essencial para a conscientização sobre o câncer de mama. Uma vez que as mulheres são informadas a respeito da importância de realizar o exame de mamografia, muitas vidas são salvas. "Para minimizarmos os impactos da doença, é necessário que esse assunto chegue ao conhecimento de toda população feminina, pois o diagnóstico precoce é um fator que, além de aumentar as chances de cura, dá mais ânimo para as pacientes", destaca.

Durante o tratamento, o conhecimento sobre a doença se torna ainda mais indispensável, isso porque o diagnóstico desestabiliza a paciente, que pode acabar indo procurar informações em fontes não confiáveis. "É muito importante a paciente se informar e tirar todas as dúvidas com um profissional de saúde especializado na área. O conhecimento ajuda as mulheres a entenderem o que está acontecendo com os seus corpos, e evita que elas acreditem em notícias falsas sobre o câncer de mama", comenta Gabriele.

A psicóloga frisa ainda que o acompanhamento multidisciplinar, composto por profissionais de diferentes áreas é a peça principal para estabelecer o bem-estar físico e mental das pacientes. "É neste momento que a psicologia se torna um braço do tratamento oncológico e prepara as mulheres para enfrentarem os desafios sem se entregarem para a doença. Do diagnóstico até a alta, este suporte faz toda diferença", finaliza a especialista.

 

Gabrielle Rosa da Costa - Psicóloga, terapeuta cognitiva comportamental, especialista em sexualidade humana e gestão de estratégia de recursos humanos.

Diversidade cerebral da criança: dificuldades de aprendizagem


As dificuldades de aprendizagem se tornam uma preocupação cada vez mais pontual quando pensamos no desenvolvimento psicológico e no tempo de aprendizagem de cada criança, uma vez que, no ambiente escolar, pode haver a manifestação de uma dificuldade de aprendizagem peculiar que diverge das demais. Ou seja, uma criança pode apresentar uma diferença cerebral que faz parte do tempo individual de aprendizado.

Às vezes, essas diferenças podem ser observadas em um primeiro momento pelos professores que trabalham diretamente com as crianças em sala de aula. Em um segundo momento, outros profissionais como psicopedagoga(o), neuropsicóloga(o), psiquiatra infantil, ao receberem a criança indicada com uma possível dificuldade comportamental e/ou intelectual, buscam desenvolver um método de intervenção pedagógica ou o acompanhamento clínico terapêutico, a fim de, inicialmente, amenizar o problema.

Uma coisa é certa: não há dois cérebros iguais no mundo. Por isso, cada criança é um ser único, com características psicológicas e emocionais exclusivas. Atualmente, conforme nos apontou o pesquisador Howard Gardner, sabemos que as crianças também possuem diferentes tipos de inteligências a serem estimuladas, despertadas e construídas em todo o processo de ensino-aprendizagem. Sejam elas a inteligência emocional, a musical, a matemática, a corporal, entre outras. São as denominadas inteligências múltiplas. Mesmo assim, vale destacar que, quando discutimos o comportamento em sala de aula e o ritmo de aprendizagem, as características emocionais estão em evidência. E, como Henri Wallon nos mostrou assertivamente há anos, o fator emocional observado no comportamento das crianças está relacionado diretamente às experiências afetivas vivenciadas em ambiente social: família, escola, sociedade.

Com isso, queremos dizer que as dificuldades de aprendizagem fazem parte de um fenômeno de diversidade cerebral. Ou, assim como divulgado por Judy Singer, estamos lidando com um fenômeno neurológico diferente e atípico no século XXI. O universo de discussão da neurodiversidade abrange psiquiatras, psicólogos, pedagogos, sociólogos, filósofos etc., que procuram analisar essas dificuldades antecedendo diagnósticos de doença mental.

As dificuldades passam a ser observadas como fenômenos diversos que são mais conhecidos por Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), ou seja, Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD). Mas, e se essas diferenças forem emocionalmente divergentes em um contexto escolar, o que professores e coordenadores pedagógicos devem fazer?

Quando sofrem algum trauma de infância, além da experiência comprometer o desenvolvimento de sua aprendizagem, é previsto que as crianças apresentem, às vezes, o TDI (Transtorno Dissociativo de Identidade). Sabemos que esse transtorno é responsável por caracterizar a dissociação psicológica, e até, afetar a memória, o comportamento, o sentimento e a própria identidade da criança. Ou seja, ela pode criar, como forma de proteção e fuga, uma outra personalidade ou até mais de uma, desencadeando, assim, várias dificuldades inconscientes ou divergentes no processo de aprendizagem.

Quem assistiu ao filme Coringa (Joker), agora poderá entender, por uma visão psicológica, o porquê do personagem ter se tornado o Coringa (não há spoiler). Os traumas são oriundos dos seus estímulos primários da infância e até do seu isolamento e fracasso social. Eis aí, o pano de fundo de uma catarse (descarga emocional) para o TDI do personagem. Mas seria possível identificar e tratar o transtorno, caso fosse percebido em sala de aula? Possivelmente sim. Por isso, o mais assertivo é procurar ajuda profissional multidisciplinar para a criança. A escola e os pais devem estar juntos nessa busca.

 


Gustavo Luiz Gava - filósofo e doutor em Filosofia da Mente, é professor do curso de Pedagogia da Universidade Positivo.


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