Quando o termo "empresas
sustentável" ganhou notoriedade, a maioria das organizações não fazia
ideia do que isso realmente significava para o todo de seu negócio. Muitas
delas abraçaram a causa por questões de preocupação ambiental, vendo na
"moda" uma oportunidade de colocar em prática valores que já
possuíam, e tantas outras simplesmente queriam se reafirmar perante seus
consumidores exigentes de uma postura renovada da empresa. Para não ficar para
trás e perder público, quase todo mundo buscou se tornar um pouco mais
sustentável. Talvez tenha sido esse um dos primeiros valores que mudaram a forma
como as pessoas passaram a se relacionar com as marcas.
Na era do lover e hater,
ser sustentável é quase uma demanda básica. Porém, a verdade é que muitos
adotaram essa postura por uma questão de relacionamento, e não de valor de
gestão empresarial, um erro básico. Por estarem distantes da realidade da
sustentabilidade, muitas empresas não entendiam, e ainda não entendem o
potencial financeiro de realmente cuidar do meio ambiente. Falando
primeiramente do óbvio, a imagem da empresa nunca esteve tão em jogo quanto
hoje. Ser sustentável determina ter ou não um consumidor fiel. O boicote a
marcas que agridem o meio ambiente, que poluem, tem escala mundial graças a
internet.
Ser sustentável é afirmar que
se respeita o consumidor, e que ele pode confiar e "amar" sua marca,
sem culpa, sabendo que indiretamente ele mesmo está fazendo um bem ao planeta.
Seguindo essa lógica, realmente há muito a se ganhar com uma adequada gestão de
resíduos. Empresas que implementam processos de gestão adequada de resíduos, ou
cuidado com poluentes que possam ser gerados em suas produções, ganham em
diversos momentos do processo produtivo. Basicamente temos que levar algumas
coisas em consideração.
Primeiramente, os recursos
naturais são finitos. Uma hora eles irão acabar, e mesmo que isso não aconteça
no tempo de vida de um gestor X ou Y, a empresa precisa existir com o olhar no
futuro, de forma a ser muito mais longeva do que seu fundador. Sendo assim, é
preciso aproveitar o máximo de um recurso, e isso significa, basicamente, aplicar
a reciclagem. Reciclando é possível garantir que a matéria prima se renove,
assim como a fonte de produção da empresa. Sem matéria prima, sem empresa. Isso
não é discutível, é só a realidade.
Em um segundo momento é
preciso se preocupar com o impacto ambiental da empresa na região onde ela se
encontra. O Brasil é um dos países com mais processos por saúde ocupacional,
dos funcionários, e das populações que moram ao redor das empresas. Poluentes
mal descartados, não tratados, geram contaminação nas comunidades que, não só
consomem o que a empresa produz como são parte de seu corpo de funcionários e
seus familiares. Há perdas em mão de obra, e também em processos judiciais
contra a empresa. A empresa acaba por se auto infligir ataques em sua estrutura
mais básica.
O modo como a empresa lida com
essas questões, a gestão de pessoal em seus aspectos físicos e psicológicos,
determinam ganhos e perdas da empresa. As empresas esquecem que são
responsáveis, pela comunidade em que estão inseridas. É essa comunidade que a
faz movimentar seus negócios em primeira instância, por maior que seja
companhia. Cuidar de saúde e bem estar, físico e mental, dessas comunidades é
primordial. Perda de pessoal, seja por problemas de saúde ou judiciais, geram
novos encargos de contratação, de gestão de pessoal, etc. O dinheiro só sai, e
enquanto isso seu consumidor se afasta mais ainda de você. É cíclico.
A verdade é que lidar com todo
esse problema é simples. É preciso aplicar à empresa processos e diretrizes que
manobrem a operação para agir de forma realmente sustentável. Não é uma questão
de selo de comprovação, embora ele ajude na hora de comunicar ao seu público
sua consciência ambiental, é uma questão de poupar e ganhar dinheiro com os
novos processos. Certificar sua empresa na ISO14001 é o primeiro passo. Ela
fala justamente de práticas de sustentabilidade para as empresas. A
certificação é testada, estudada, atualizada, e realmente garante que a empresa
tenha estrutura sólida para agir de forma sustentável.
A chave de tudo é a mudança, a
construção de novos hábitos, a busca por novos meios de enxergar e lidar com
problemas antigos, e é por isso que a certificação geralmente é a chave para
atingir esses resultados. Feito isso é possível pensar em melhor se comunicar
com a comunidade, e ai sim atestar "minha empresa é sustentável", sem
modismo, sem belos ideais e práticas falhas, com real consciência e lucro.
Alexandre Pierro - engenheiro mecânico, bacharel em física
aplicada pela USP e fundador da PALAS, consultoria em gestão da qualidade.