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quarta-feira, 7 de março de 2018

Dia da Mulher não é dia de celebração e sim de luta



A especialista explica porque muitas mulheres não comemoram o Dia Internacional da Mulher

 
O Dia Internacional da Mulher, celebrado amanhã, 8 de março, é o dia que geralmente as pessoas ressaltam as conquistas pela igualdade de gênero, porém, é preciso refletir melhor. Mais de 12 mil mulheres são agredidas por dia no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 99,6% já sofreram assédio, aponta a Ong Think Olga e a diferença salarial entre homens e mulheres chegam a quase 53%, além disso são minoria em cargos de gestão, relata o site de empregos Catho. Diante desses dados como é possível festejar?

A socióloga da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rosana Schwartz, explica que é preciso ressignificar esta data, que está desgastada ou equivocada em alguns pontos. “Ninguém pode comemorar as lutas que as mulheres precisam enfrentar, o intuito é discutir problemas que impossibilitam a igualdade de gênero”. Além disso, a especialista relata que a data remete ao incêndio que ocorreu em 1857, no qual mulheres morreram depois dos patrões terem incendiado a fábrica ocupada, mas existiam outros episódios marcantes que também mereciam tamanho destaque. Por exemplo, a marcha das mulheres que acontece desde 1908 nos Estados Unidos, o movimento das Suffragettes que defendia o direito ao voto, dentre outros marcos históricos que não são lembrados.

Apesar deste cenário ainda problemático, Schwartz ressalta que a sociedade avançou nesta discussão principalmente por meio dos grupos feministas, compostos por coletivos segmentados que propõem pautas sobre problemas diversos que afetam as mulheres como assédio, presença da mulher, equidade de gênero e o combate incisivo contra a violência e descriminação da mulher, dentro de um mundo que ainda não reconhece o valor da igualdade.

A socióloga enfatiza que os homens estão em processo de transformação e que precisam compreender que a desigualdade realmente existe. “É preciso reconhecer o sexismo em torno da mulher, no qual a desigualdade é real, para então tentar descontruir o preconceito que foi alimentado ao longo dos anos”. Schwartz alerta que outras ações também ajudam a fomentar um ambiente saudável e igualitário. “Não dar risada com piadas machistas, não assistir conteúdos sexistas, não comprar produtos que relacionam a mulher como objeto e incluir essa discussão no ensino".



Considerada frescura, TPM é distúrbio que atinge 12% das mulheres



A chamada Tensão Pré-menstrual, conhecida pela sigla TPM, se enquadra nos distúrbios pré-menstruais, que são de dois tipos: a Síndrome Pré-Menstrual (SPM) e o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM). Essas condições chegam a atingir até 12% das mulheres e abrangem sintomas psicológicos e físicos que podem causar comprometimento significativo das atividades cotidianas durante a fase lútea do ciclo menstrual. A fase lútea começa após a ovulação e termina com o início da menstruação, corresponde à terceira e quarta semana do ciclo menstrual, ou seja,  de sete dias a quatorze dias após a ovulação. Os sintomas são auto-limitados, pois se resolvem após a menstruação.

“Não se pode considerar a TPM uma como frescura, pois as mulheres que apresentam esses distúrbios possuem maiores taxas de ausência no trabalho, maiores despesas médicas e menor qualidade de vida relacionada à saúde. Os médicos estão atentos para diagnosticá-los e acompanhá-los”, explica Magda Almeida, médica de família e comunidade, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade (SBMFC).

Na SPM, a mulher experimenta pelo menos um sintoma afetivo e um sintoma somático que deve causar disfunção no desempenho social, acadêmico ou no trabalho. Os sintomas afetivos são concentrados nas alterações de humor: explosões de raiva, ansiedade, confusão, astenia, irritabilidade e retraimento social. Os sintomas somáticos são: distensão abdominal, sensibilidade ou edema mamário, dor de cabeça, dores articulares ou muscular, edema de extremidades e ganho de peso.

Já no TDPM os sintomas se assemelham, mas possuem maior intensidade. “A mulher pode ter problemas para executar seu trabalho ou na sua interação com a família e os amigos na semana anterior à menstruação. Ela pode se sentir com dificuldade de concentração, com letargia, fadiga, falta de energia, alteração destacada no apetite (comer em excesso ou fissura em alimentos específicos), ter hipersonia ou insônia e apresentar a sensação de estar sobrecarregada ou sentimentos subjetivos de descontrole emocional”, relata Mylkleany Martins de Castro, integrante da Liga de Saúde da Família (LISF) da Universidade Federal do Ceará.

Mylkleany reforça que é necessário primeiro avaliar o quadro de sintomas e a partir daí tomar a decisão conjunta ao paciente de utilizar medicação. Cerca de 80% das mulheres relatam pelo menos um sintoma físico ou psicológico durante a fase lútea do ciclo menstrual. No entanto, a maioria não relata prejuízo significativo em sua vida diária. As mulheres que ganharam peso ou tiveram um evento estressante são mais propensas a desenvolverem sintomas. Apenas 10% das mulheres declaram que os sintomas são inconvenientes a ponto de exigir a necessidade de auxílio profissional.

A cronologia dos sintomas é muito importante para o diagnóstico correto dos distúrbios pré-menstruais. A relação com o ciclo menstrual é essencial para afastar outras doenças como como depressão ou ansiedade, que podem piorar durante a fase lútea, mas acabam persistindo por todo o do ciclo menstrual. Também é necessário afastar outros diagnósticos, como endometriose, hipotireoidismo, anemia, que têm sintomas parecidos.

A persistência e a gravidade dos sintomas não são contínuos pelo resto da vida. Um estudo mostrou que apenas 36% das mulheres que foram diagnosticadas com SPM continuaram a atender aos critérios diagnósticos um ano depois. A prevalência do TDPM é ainda mais baixa, de 1,3% a 5,3%. O foco do tratamento dos distúrbios pré-menstruais é o alívio dos sintomas. A utilização de medicamentos é feita principalmente em duas vias:  aqueles que abordam a supressão da ovulação, enquanto outros irão atuar na concentração de neurotransmissores no cérebro.


Cólica menstrual X endometriose
 
A apresentação clínica da endometriose é altamente variável, vai desde uma dor pélvica debilitante e infertilidade até a ausência de sintomas. Nesse ponto, a cólica menstrual pode sugerir problemas como a endometriose, mas esta também pode existir mesmo na ausência das cólicas menstruais. Muitas mulheres com endometriose apresentam sintomas inespecíficos, como dor lombar crônica, ou dor abdominal, o que leva a necessidade em média de 11,7 anos para que ela seja diagnosticada em mulheres com sintomas.

Os sintomas tendem a ser mais fortes pré-menstruais, diminuindo após a cessação da menstruação. A dor pélvica é o sintoma mais comum, além de dispaurenia, dor na defecação e dor na micção. Em um estudo britânico sobre mulheres com dor pélvica, muitos pacientes que eventualmente foram diagnosticadas com endometriose foram diagnosticados anteriormente com síndrome do intestino irritável.

Cuidados com a alimentação e no estilo de vida podem ajudar a minimizar o impacto dos sintomas como a redução do consumo de sal e cafeína; evitar cigarros e reduzir o consumo de bebidas alcóolicas.
No caso de apresentar dores, a mulher pode por curto período fazer uso de analgésicos ou anti-inflamatórios não esteroides prescritos pela sua médica ou médico. Na dúvida, sempre procure seu médico ou médica de família e comunidade.






Fontes:
BIGGS, W. S.; DEMUTH, R. H. Premenstrual syndrome and premenstrual dysphoric disorder. Am Fam Physician, v. 84, n. 8, p. 918–924, 2011.
Green LJ, O’Brien PMS, Panay N, Craig M on behalf of the Royal College of Obstetricians and Gynaecologists. Management of premenstrual syndrome. BJOG 2017;124:e73–e105


A educação como ferramenta da emancipação feminina



Em 1838, na sociedade fortemente patriarcal, escravagista e oligárquica do Segundo Império, na qual a mulher, mesmo pertencendo à elite dominante, tinha um papel subalterno e de submissão, a escritora Nísia Floresta (pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, 1810-1885) abriu a primeira escola para meninas no Brasil. No “Colégio Augusto”, as meninas aprendiam gramática, escrita e leitura do português; francês e italiano; ciências naturais e sociais; matemática; música e dança. As ideias libertárias de Nísia se inspiravam na escritora inglesa Mary Wollstonecraft, do século 18. Ao enfocar a perspectiva de autonomia feminina com base na educação, Nísia tornou-se a precursora brasileira da luta pelos direitos da mulher. A luta pela educação abriu caminho para outras lutas – pelo voto feminino, por salários iguais e contra a violência doméstica. 

Hoje, 180 anos depois da fundação do “Colégio Augusto”, quando comemoramos mais um Dia Internacional da Mulher, a perspectiva apontada por Nísia Floresta – a educação como meio para a conquista da igualdade de gênero – continua sendo fundamental para a emancipação feminina. De lá para cá, o papel das mulheres na sociedade brasileira mudou muito graças à educação e a inserção feminina no mercado de trabalho, com a conquista de espaço em setores tradicionalmente destinados aos homens. Mas esse avanço ainda não se refletiu plenamente na economia brasileira. Hoje no Brasil, as mulheres representam 57% da População Economicamente Ativa (PEA), mas apenas 36% delas estão empregadas. E o salário das mulheres representa em média 85% do salário dos homens, independentemente da jornada de trabalho e do nível de escolaridade. E o pior, muitas mulheres cumprem jornada dupla, trabalhando fora e depois cuidando da casa e dos filhos. Sem contar que, apesar de avanços como a Lei Maria da Penha, os índices de violência contra a mulher são indecentemente altos no Brasil. 

Acreditamos que só um aprofundamento dessa opção pela educação como instrumento de emancipação, de ‘empoderamento’ feminino poderá mudar essa situação. As instituições educacionais são aquelas que ainda estão em melhores condições de garantir uma educação democrática, difundindo, entre outros valores, o de igualdade de gênero. 

Também é preciso criar uma cultura escolar nessa direção, supervisionando os currículos e os materiais pedagógicos, assegurando a igualdade de gênero na tomada de decisões e aumentando a porcentagem de mulheres em cargos de responsabilidade e de chefia.  






Luis Antonio Namura Poblacion - Presidente da Planneta (www.planneta.com.br); Engenheiro Eletrônico pelo ITA – Instituto Tecnológico de Aeronáutica; com especialização em Marketing e Administração de Empresas e MBA em Franchising pela Louisiana State University e Hamburguer University – Mc Donald´s. Atua na área de educação há mais de 35 anos.


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