O ano de 2018 mal começou e os relatos
de casos da febre amarela têm provocado dúvidas e ansiedade na população. Isso
porque a doença, provocada por um vírus cuja circulação está em expansão, já
contaminou 213 pessoas e matou 81 desde julho de 2017, de acordo com o mais
recente monitoramento do Ministério da Saúde, divulgado em 30 de janeiro de
2018. A doença é uma das mais temidas nas Américas.
As primeiras manifestações da
enfermidade são febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular,
náuseas e vômitos por cerca de três dias. A forma mais grave da doença é rara e
costuma aparecer após um breve período de bem-estar (até dois dias), quando
podem ocorrer insuficiências hepática e renal, icterícia (olhos e pele
amarelados), hemorragias e cansaço intenso. A maioria dos infectados se
recupera bem e adquire imunização permanente contra a febre amarela,
entretanto, as taxas de letalidade dos casos graves, no Brasil, oscilam
entre 40 e 60%.
Combatida por Oswaldo Cruz no início do
século 20 e erradicada dos grandes centros urbanos desde 1942, a enfermidade
voltou a assustar os brasileiros nos últimos dois anos, com a proliferação de
casos, especialmente no verão. A principal arma contra a doença continua sendo
a vacinação. A vacina atenuada contra o vírus da febre amarela, utilizada no
Brasil desde 1937, tem altos índices de segurança e eficácia. Sua produção é
baseada na tecnologia de replicação de vírus em ovos embrionados, na qual cada
ovo produz em torno de 400 doses da vacina.
No Brasil, a vacinação é recomendada
para toda a população, exceto para quatro grupos de pessoas:
- crianças menores que seis meses de idade;
- mulheres grávidas,
- pessoas com histórico de hipersensibilidade aos componentes de vacina ou ovo;
- pessoas com imunidade mais baixa por conta de doenças ou do vírus HIV.
Isso ocorre porque a atual vacina
utiliza o vírus atenuado — em que o vírus está vivo, mas enfraquecido e sem
possibilidade de produzir a doença. Para imunizar as pessoas que não podem tomar
a atual vacina, diversas pesquisas lançam mão da biotecnologia para desenvolver
vacinas com a tecnologia do DNA recombinante, em que haveria inserção de genes
no genoma do vírus. Um destes projetos está sob o comando da Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco. O centro estuda a
eficácia de um imunizante preparado com base no material genético do vírus e
deve iniciar em 2019 os testes clínicos. Para a diretora-executiva do Conselho
de Informações sobre Biotecnologia (CIB), Adriana Brondani, essa estratégia já
é utilizada contra outras doenças. “A biotecnologia, que já é uma aliada na
produção de vacinas contra a dengue e a hepatite B, tem grande potencial para
diversificar os métodos de combate à febre amarela”.
Macacos x febre amarela
Assim como os seres humanos, os macacos
são hospedeiros do vírus da febre amarela e não reservatórios da doença. Mas,
se para nós a doença pode ser detida por meio da vacinação, para os macacos,
não há vacinas e a enfermidade é fatal. As mortes de primatas indicam áreas de
maior risco de transmissão do vírus e orientam as campanhas de vacinação. a
morte dos animais pela doença é um alerta aos órgãos de saúde sobre a
necessidade de vacinação da população humana nos arredores. Ou seja, eles
permitem aos gestores de saúde implementar estratégias preventivas, antes de o
vírus atingir populações humana.
“Sem os macacos, estamos desprotegidos para perceber a chegada e os
deslocamentos dos vírus”, alerta o biólogo Júlio Cesar BIcca Marques, em
entrevista à revista Pesquisa Fapesp. Os macacos não transmitem o vírus
diretamente às pessoas e acabam sendo vítimas duas vezes: da doença, à qual as
espécies são muito sensíveis, e da perseguição das pessoas, que acham
erradamente que eles transmitem a doença. Segundo a Sociedade Brasileira de
Primatologia (SBPr), o Brasil vive um dos períodos de maior mortandade de
primatas da história devido à febre amarela silvestre no país. O quadro pode
levar à extinção de espécies, prejudicando todo o meio ambiente.
Fonte: Conselho
de Informações sobre Biotecnologia (CIB)