Mais de 16
milhões de brasileiros adultos possuem diabetes, sendo que cerca de ½ desses
indivíduos desconhece portar a doença entre 5-10 anos antes do diagnóstico,
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)¹. O diabetes tipo 2 (DM2), cuja
evolução é silenciosa por vários anos, tem entre seus principais desafios o
diagnóstico precoce. Aumento de apetite e sede, cansaço, perda rápida de peso e
alteração na visão podem ser sinais de alerta para diabetes, explica o
endocrinologista do Hospital Albert Einstein e membro titular da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Frederico Maia. Além do diagnóstico,
prevenir e controlar a doença, mantendo a saúde em dia também são pontos
relevantes. Pensando nisso, o especialista selecionou mitos e verdades que
ajudarão a desmistificar esse mal crônico, ainda sem cura.
Existe
pré-diabetes? VERDADE
O estado
de pré-diabetes é a fase anterior ao diagnóstico do Diabetes tipo 2, definido
por uma hemoglobina glicada acima do ideal máximo de 5.6%. O pré-diabetes,
assim como o DM2, acontece quando há uma alteração no mecanismo de controle dos
níveis de açúcar no corpo, feito pelo do pâncreas. Com isso, surge resistência
à insulina, hormônio essencial do nosso organismo para controlar o açúcar do
sangue. Um dos principais fatores de risco para essa condição é o ganho de peso
aliado ao sedentarismo e dieta inadequada. Embora mais comum em indivíduos
acima de 45 anos, atenção especial deve ser dada às crianças e adolescentes
acima do peso, já que os índices de pré-diabetes e DM2 tem aumentado
progressivamente. Para saber como está seu
índice glicêmico, busque orientação médica. Lembre-se que esta é a única fase
em que a doença ainda pode ser revertida ou ao menos retardada.
Há
apenas dois tipos diferentes de diabetes? MITO
O diabetes, de forma geral, pode ser classificado em tipo 1 e tipo 2. O
primeiro tem base genética, de natureza autoimune, ocorrendo uma destruição
progressiva das células produtoras de insulina no pâncreas. É mais frequente em
crianças e adolescentes, sendo indicado como tratamento imediato a reposição do
hormônio insulina. Já o tipo 2, ocorre em indivíduos que produzem a própria
insulina, mas o organismo não utiliza da forma correta, sobretudo devido ao
excesso de peso e resistência à ação da insulina no organismo. Geralmente,
ocorre em indivíduos com predisposição genética somada aos hábitos de
saúde inadequados.
A doença ainda pode surgir na forma Latente Autoimune do Adulto (LADA); durante a gestação; induzidas por medicações como corticoides por longos períodos; bem como quando há fatores de riscos associados, como: sobrepeso e obesidade, idade avançada, ovários policísticos, histórico de diabetes na família e hipertensão na gestação.
Vitamina
D pode reduzir o risco de diabetes em crianças e adolescentes acima do peso? VERDADE
De acordo
com estudos recentes3,4, estima-se que entre 62% a 76% das crianças
e adolescentes possuem deficiência de Vitamina D (com níveis de 25OHVD abaixo
de 20ng/ml) e apresentaram maiores níveis de insulina no sangue, caracterizando
o estado de resistência insulínica em cerca de metade dos casos, explica o Dr.
Frederico Maia. Um estudo americano na universidade do Missouri mostrou que
após 6 meses de suplementação de vitamina D3 em doses moderadas 4000ui/dia,
comparadas a placebo, em adolescentes acima do peso, houve uma redução expressiva
do risco de diabetes.5 A avaliação conjunta do pediatra com o
endocrinologista é fundamental para identificação dos casos que merecem
tratamento, bem como o acompanhamento com exames de sangue para ajustes da dose
de Vitamina D utilizada.
Vitamina
D pode prevenir o diabetes e reduzir a mortalidade nesse grupo de indivíduos? VERDADE
A vitamina
D pode ser utilizada como forma de prevenção para várias doenças e entre elas
está o diabetes. Crianças recém-nascidas que usaram doses de vitamina D3 mais
elevadas que o de costume (2000 ui ao dia em comparação com as 600 ui
geralmente prescritas por pediatras) tiveram um risco de cerca de 30% menor
para o aparecimento de diabetes tipo 1.7 As pessoas que têm contato
com o sol ou suplementam vitamina D têm 80% menos de chance de ter diabetes
tipo 1 comparado com alguém que não teve contato com o sol².
Já um estudo publicado em uma das mais importantes revistas científicas em diabetes, a Diabetes Care, acompanhou quase 300 indivíduos com Diabetes tipo 2 por cerca de 15 anos, de idade média de 54 anos. Os autores notaram um aumento significativo de mortalidade geral e por doença cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 2 e baixos níveis de Vitamina D (abaixo de 35ng/ml).6 O especialista chama atenção para a necessidade de se investigar os níveis de vitamina D em crianças, adolescentes e adultos de risco (acima do peso e resistência insulínica), bem como, o diagnóstico de DM2, para se estabelecer o tratamento adequado.
Referências:
¹Estudo Organização
Mundial da Saúde http://www.who.int/diabetes/global-report/en/
²Holick, Michael F.
Vitamina D/ Michel F. Holick; [versão brasileira da editora] – 1. Ed. – São
Paulo,SP:Editora Fundamento Educacional Ltda.,2012.
3. Roth CL1, Elfers C, Kratz M, Hoofnagle AN. Vitamin d deficiency in obese children and its relationship to insulin resistance and adipokines. J Obes. 2011;2011:495101.
4. Gul A1, Ozer S, Yılmaz R, Sonmezgoz E, Kasap T, Takcı S, Demir O. Association between vitamin D levels and cardiovascular risk factors in obese children and adolescents. Nutr Hosp. 2017 Mar 30;34(2):323-329.
6. JOERGENSEN C, et al. Diabetes Care 2010; 33:2238–2243.
7. Dong JY et al. Nutrients. 2013 Sep
12;5(9):3551-62.
8. Ford ES, et al. Diabetes Care 2005;28(5):1228-30.