Metais pesados foram encontrados em diversas
amostras. O alerta é evitar que o maior desastre ambiental do país se
transforme em uma tragédia de saúde pública
A apreensão do presidente da Federação Nacional dos Médicos
(FENAM), Otto Baptista, diz respeito aos metais pesados escondidos no que
restou da avalanche de dejetos de minérios, que já atravessou até o mar do
Espírito Santo. O resultado laboratorial das amostras de água coletadas
no Rio Doce, em Minas Gerais, apontou níveis acima dos aceitáveis de metais
pesados. Foram encontrados alumínio, ferro e mercúrio, entre outros.
As análises feitas em dez pontos diferentes no município de
Governador Valadares, em mais de 1.424 quilômetros de extensão, acusam taxas
alarmantes. Uma das amostras, colhida em 16 de dezembro no Bairro Capim (MG),
apresentou valores de chumbo 300% acima do limite estabelecido como aceitável
pela legislação vigente.
Para se ter uma ideia, a quantidade de alumínio encontrada
foi de 0,58 miligramas, e o máximo permitido é 0,01 miligrama - um número quase
seis vezes maior que o considerado seguro.Em outra inspeção, os índices de
mercúrio em um dos pontos ultrapassavam 13 vezes o que seria tolerável.
Com base nesses dados, a FENAM alerta à população que o
contato com a água bruta é perigosa. A preocupação dos médicos não é exagerada:
a intoxicação por metais pesados pode provocar danos por todo o organismo em
curto e em longo prazo. “A questão é que os efeitos dos metais pesados também
podem levar décadas para se manifestar. Na maioria das vezes, a contaminação é
cumulativa e ocorre ao longo dos anos por meio da ingestão de água ou alimentos
plantados em solos impróprios. Os metais pesados não somem do dia para a
noite”, denuncia o presidente da FENAM.
O alerta da entidade médica, que representa mais de 400 mil
médicos, é evitar que o maior desastre ambiental do país se transforme em uma
tragédia de saúde pública. Para isso, o presidente da FENAM sugere que controle
terá de ser contínuo.
“Precisamos que as populações que vivem nas áreas afetadas
passem por um monitoramento contínuo pelos profissionais de saúde que estão na
ponta, no posto de saúde e nas emergências. Os profissionais devem estar
capacitados para levarem em consideração nas manifestações clínicas a presença
destes elementos, para não serem surpreendidos e não associarem ao desastre de
Mariana”, alerta.
As amostras da água foram coletadas nos dias 16 e 17 de
dezembro de 2015, pelo laboratório independente Água e Terra. O estudo foi
custeado pela FENAM, em parceria com o Sindicato dos Médicos de Governador
Valadares.
Confira abaixo o que a presença exagerada de
metais pesados pode causar no seu organismo:
Alumínio:
No organismo causa cólicas abdominais, náuseas, fadiga,
raquitismo, alterações neurológicas com graves danos ao tecido cerebral. Na
infância pode causar hiperatividade e distúrbios do aprendizado. Inúmeros
estudos consideram que o alumínio tem um papel extremamente importante no
agravamento do mal de Alzheimer. O excesso de alumínio interfere com a absorção
do selênio e do fósforo.
Chumbo
Chumbo se deposita no cérebro, nos ossos e nos rins. Em
crianças, pode levar a retardo mental. Também leva a fraqueza, dores
musculares, sabor estranho na boca, dor de cabeça, irritabilidade, tremores,
queda da libido, entre outros.
Mercúrio
Está ligado a problemas sérios no cérebro e tem
repercussões nos sistemas digestivo e infecções frequentes, pois afeta o
sistema imunológico. É especialmente nocivo durante a gestação: bebês podem
nascer com doenças neurológicas. Causa ainda dores nas articulações, alterações
de coordenação e visão, perda de memória recente e dificuldade em concentração.
Ferro
Uma dose de ferro excessiva pode ser grave ou inclusive
mortal. Pode causar diarreia, vômitos, aumento do número de glóbulos brancos e
um alto valor de glicose no sangue.