O Carnaval está batendo à nossa porta. E, com ele,
uma série de contingências chega até nós. Dentre essas amenidades, uns pensam
como aproveitarão melhor os dias de feriado, outros apenas querem mesmo é
cair na folia sem preocupação, apenas curtindo os dias de festa.
Seja qual for a sua forma de passar esta festa tão
popular quanto tradicional, o cuidado com a saúde deve ser essencial em todos
os aspectos. Na escolha da fantasia, por exemplo, o critério “saudável” deve
ser levado em conta.
Isto parece um pouco estranho, mas na realidade,
meu amigo leitor, vou me fazer melhor entendido por meio de exemplos. Imagine
você que a fantasia escolhida pelo folião é quente demais. Geralmente, os dias
também são quentes, o que poderá acarretar em maior desidratação e,
consequentemente, maior necessidade de ingestão de água. Outro exemplo pode ser
dado, ainda sobre a fantasia, como o material do qual é feita. Isto parece
outra preocupação boba, mas, com a transpiração, poderá ocorrer a soltura de
tinta, e muitas não são tão saudáveis à pele, podendo causar irritações.
Mas, quero mesmo é comentar sobre um velho
adereço, extremamente utilizado nos dias de folia: o salto alto. Visto
como fundamental na composição das fantasias, ele pode ser extremamente
importante para compor o visual do folião. No entanto, é também um problema, haja
vista as consequências que pode trazer às articulações e à coluna.
O salto alto é responsável por algumas mudanças
posturais que podem ser no mínimo nocivas a quem fizer uso dele, ainda mais se
a pessoa já possui alguma predisposição, ou simplesmente já teve algum episódio
de lesão.
Tudo acontece por conta da anteriorização do
centro de gravidade, que leva a projeção da massa corporal para a frente. Isto
exigirá constante ajuste do sistema postural, para que a pessoa possa manter-se
na postura de pé. Imagine então, meu caro leitor, como isto acontece em meio ao
“sambar frenético” de um folião mais apaixonado.
A coluna vertebral precisa ajustar-se, de modo a
aumentar sua curvatura lombar (lordose). Isto ocorre porque o segmento pélvico
(bacia) também se ajusta, realizando uma báscula (pequeno movimento rotacional)
para a frente. Consequentemente, a musculatura posterior do tronco deverá se
tornar mais ativa, realizando a manutenção do equilíbrio corporal.
A questão aqui, é agora o tempo em que a pessoa se
manterá nesta condição, uma vez que o tecido muscular, apesar de ser bastante
resistente, poderá entrar em fadiga, desprotegendo as articulações da coluna e,
desta forma, condicionar alguma lesão. Sem contar na diminuição da ação
abdominal, também responsável por proteger a coluna de impactos.
Outra articulação que poderá sofrer com o salto
alto é o joelho. Este deverá realizar um ajuste,etal ajuste poderá variar desde
uma hiperextensão, ou uma semiflexão mantida. No primeiro caso, os tecidos
adjacentes à articulações dos joelhos se tornarão frouxos, diminuindo a fixação
da patela, também acarretando em uma desproteção do segmento femoro-patelar.
Isto poderá levar a dores ou até mesmo à uma lesão da estrutura cartilaginosa,
caso o tempo de exposição à carga seja grande o bastante.
Se o joelho se mantiver em semi-flexão (meio
dobrado), a musculatura da coxa será extremamente exigida, já que não possui a
função de se manter por muito tempo em contração. Este fator levará também ao
cansaço muscular, resultando em dores desta mesma musculatura, geralmente
sentida após 48 horas, ou até mesmo desalinhamentos patelares e aumento do
atrito entre as superfícies articulares do joelho.
Não poderia deixar de falar dos pés, não é mesmo?
Com a anteriorização do centro de gravidade, os pés passam a trabalhar sobre um
regime de pressão completamente anormal, pelo simples fato de o peso corporal
concentrar-se totalmente na região da frente. Além disso, para aquelas
pessoas acostumadas a usar salto, certamente, já ocorreu algum grau de
encurtamento da musculatura da região posterior da perna (“panturrilha”).
Nosso organismo é bastante limitado para
informar-nos as condições exatas de força a que estamos sendo submetidos. Mas,
quanto à pressão, somos constantemente avisados através de sensores
específicos. Você sabe por quê, meu amigo leitor?
Porque aumentos de pressão podem levar a lesões
bastante sérias, tais como: bolhas e lacerações da pele, diminuição do aporte
sanguíneo para a região, trauma sobre as terminações nervosas e déficit de
sensibilidade. Isto tudo podendo causar complicações como dor persistente na
região do antepé, ou em alguns casos mais extremos, fraturas por estresse nessa
região, dependendo do tempo e do regime de cargas aplicadas.
Bem, amigos, parafraseando um conhecido locutor de
televisão, não quero aqui falar apenas que o salto alto é um vilão. Sem dúvida
alguma é um forte aliado na composição de conjuntos e fantasias maravilhosas,
originando verdadeiros espetáculos nessa festa tão familiar ao brasileiro. Mas,
por isso, é preciso cuidados importantes.
Seguem algumas dicas a quem não quiser abrir mão
deste adereço:
- Não utilize saltos tão altos. Com eles os
efeitos descritos poderão ser maximizados. Utilize saltos de médios para
baixos.
- Não abuse do tempo sobre eles. As estruturas
anatômicas também possuem um limite de tolerância.. Se for necessário, escolha
dois sapatos para revezar entre eles em meio à folia destes dias, entre um com
um salto mais alto e outro mais baixo.
Então, com cuidado e informação, o Carnaval pode
ser sim melhor aproveitado por todos. Com muita festa, mas também com saúde e
bem-estar.
Pedro
Luis Sampaio Miyashiro - Professor das disciplinas de
Cinesiologia, Biomecânica e Anatomia da Universidade Anhanguera de São Paulo,
unidade São Bernardo