Pesquisar no Blog

quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Uso de maconha entre idosos: um velho novo problema?

Transtornos mentais podem ser acentuados e mais complexos em pacientes que usam maconha, cujo consumo cresce exponencialmente no mundo, inclusive na população com 45 anos ou mais

 

A cannabis é a substância psicoativa mais consumida do mundo. E se engana quem pensa que apenas o público jovem cai na marola da maconha, acreditando que a droga está associada a fins recreativos e que não causa dependência. Os idosos também estão entre os consumidores da droga, de acordo com diversas pesquisas científicas.

Os dados o National Epidemiologic Survey on Alcohol and Related Conditions (NESARC-III) de 2012-2013, mostraram que 3,9% das pessoas com idade ≥ 50 anos relataram o uso de maconha no ano anterior a pesquisa. Outro estudo importante, desenvolvido a partir dos dados da National Epidemiologic Survey on Drug Use and Health, com amostra probabilística (47.140 americanos com idade igual ou superior a 50 anos) e coletada entre 2006 a 2013, mostrou que o consumo de maconha nessa população aumentou significativamente em 57,8% para adultos com idades entre os 50- 64 anos, e 250% para os acima de 65 anos.

Para Alessandra Diehl, psiquiatra e vice-presidente da Associação Brasileira de Estudos Sobre o Álcool e outras Drogas (ABEAD), essa questão preocupante é tratada num capítulo intitulado "Uso de maconha entre idosos: um velho novo problema" da obra “Maconha: prevenção, tratamentos e políticas públicas”, organizado por ela em parceria com a pesquisadora Sandra Pillon, que acaba de ser lançado pela editora Artmed.

"O consumo de cannabis nesse grupo etário da população nas últimas décadas aumentou significativamente, superando as projeções e o recente crescimento observado em todas as demais faixas etárias", relata a psiquiatra. Na opinião da especialista, o consumo de substâncias nas populações jovem e adulta são temas já bem documentados em estudos, mas ainda há lacunas nas pesquisas científicas que abordem o fenômeno do consumo de maconha entre os idosos.

Segundo ela, existem algumas possibilidades que talvez possam justificar estas taxas crescentes de consumo de maconha entre os idosos. Uma delas entende que as pessoas que vivenciaram a adolescência em momentos em que as drogas eram populares e amplamente disponíveis foram os mais propensos para o uso de drogas e, possivelmente, continuaram usando. “Os indivíduos nascidos entre os anos de 1946 e 1965, os babies boomers, apresentaram taxas mais elevadas de uso de substâncias durante a juventude em comparação à população de cortes anteriores. Uma parte significativa dessa geração continuou a usar drogas e, atualmente, essas pessoas têm mais de 50 anos”, argumenta Alessandra.

Ela relata que, outra possibilidade, pode estar ligada à legalização do uso recreativo em alguns países e estados americanos. Esse fator contribui para a diminuição nas percepções dos riscos associados ao uso de maconha e, portanto, apesar dos efeitos adversos relatados, muitas pessoas acreditam que a cannabis pode ser uma terapia alternativa ou complementar importante. “Em relação ao "uso medicinal", os resultados de estudos incipientes são muitas vezes inconclusivos e diversos nesta população. Muitos pacientes mais idosos agora solicitam o uso da cannabis para o tratamento das morbidades e consequências adversas relacionadas, como dor crônica, por exemplo. Compreendendo que a grande parte da população e uma proporção ainda mais proeminente de usuários dos serviços de saúde, os idosos constituem um grupo-alvo que também têm feito a requisição de "tratamento" com cannabis medicinal em outros países”, diz Alessandra.

Vale lembrar que a população geriátrica tem maior probabilidade de apresentar múltiplas comorbidades e está sujeita a polifarmácia. O uso de maconha, medicinal ou recreativo, complica o quadro com efeitos colaterais aditivos do sistema nervoso central. Os transtornos relacionados ao uso de substâncias implicam em consequências biopsicossociais na população idosa, incluindo prejuízos cognitivos, questões de saúde como queda, problemas respiratórios e delirium, sociais e enfraquecimento funcional. No entanto, a identificação do uso de maconha entre os idosos tem sido uma barreira entre os serviços de saúde, sendo que muitos usuários nunca recebem tratamento específico, por uma série de razões, sendo a mais notável a falta de detecção.

A psiquiatra alerta ainda que, à luz da escassez de evidências clínicas e do aumento das solicitações de informações ou do uso dos pacientes idosos por canabinoides medicinais, irá requerer uma abordagem clínica pragmática. “Precisamos estabelecer um diálogo racional com pacientes idosos e seus familiares, destacando a importância da criteriosa avaliação e do cenário atual de evidências científicas sobre o uso da maconha com fins medicinais”.  

 

Aumento da expectativa de vida X saúde pública

Outra situação que deve ser levada em conta é o aumento da expectativa de vida e da inversão da pirâmide demográfica. No Brasil, a população idosa cresce em ritmo acelerado e passou de 19,5% no período entre 2012 e 2017. Acredita-se que, até 2060, os idosos vão chegar a 81 anos e representar 32% da população brasileira - sendo que em 2013 ocupavam apenas 13% da pirâmide demográfica. Os dados são do IBGE.

“É consenso que os idosos usam drogas prescritas ou não, ilícitas ou legais, os quais podem ser catalisadoras ou agravantes de outras doenças mentais. Esse é um problema grave, sobretudo se consideramos que a previsão é de 15 milhões de idosos com transtornos psiquiátricos para 2030 em decorrência das mudanças na pirâmide demográfica”, finaliza Alessandra Diehl.




O Livro “Maconha: Prevenção, Tratamento e Políticas Públicas”, das autoras Alessandra Diehl e Sandra Pillon, lançado no último mês de setembro de 2020, já está disponível para pré-venda e maiores informações de conteúdo no link: https://busca.grupoa.com.br/search/?query=maconha.

 

Estação Capão Redondo terá vacinação gratuita contra o sarampo amanhã (23/10)

Ação em parceria com a UBS do Jardim Lídia conta com apoio de colaboradores da ViaMobilidade para orientar população

 

Nesta sexta-feira, dia 23 de outubro, a Estação Capão Redondo da Linha 5-Lilás de metrô, receberá, das 10h às 15h, mais uma etapa da campanha de vacinação contra o sarampo. A ação - uma parceria da ViaMobilidade, concessionária responsável pela operação e manutenção da Linha 5-Lilás de metrô de São Paulo, com a Unidade Básica de Saúde (UBS) Jardim Lídia - será repetida na próxima quarta-feira, dia 28, no mesmo local.

O sarampo é uma doença grave e de alta transmissibilidade, uma pessoa pode transmitir para até 18 outras pessoas. A disseminação do vírus ocorre por via aérea ao tossir, espirrar, falar ou respirar.

Nesta nova etapa de Mobilização Nacional de Vacinação contra o Sarampo, a vacina tríplice viral, que protege contra sarampo, rubéola e caxumba, deve imunizar a população com idade entre 20 a 49 anos. Para receber as vacinas é necessário apresentar um documento de identificação.

Colaboradores da concessionária orientarão os passageiros em fila para que mantenham o distanciamento físico correto. Os profissionais de saúde que aplicarão as vacinas estarão equipados com máscaras, aventais e utilizando álcool em gel.

 

Serviço - Vacinação contra o sarampo dias 23 e 28 de outubro

Estação Capão Redondo (Linha 5-Lilás)

Horário: Das 10h às 15h

Endereço: Av. Carlos Caldeira Filho, 4261


Em São Paulo, busca por exames de mamografia cai pela metade nas redes pública e privada de saúde

Levantamento da Fidi aponta queda de 53% na realização desses exames desde a chegada da Covid-19 ao país, na rede pública

Na rede privada, diminuição dos agendamentos chegou a 46%, segundo pesquisa do HCor


Ao longo de sete meses de pandemia, ao mesmo tempo em que o número de infectados pelo novo coronavírus crescia nos hospitais do país, ocorria uma redução significativa da realização de exames de rotina importantes para a saúde, como é o caso da mamografia.

É o que mostra um levantamento realizado pela Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (Fidi) - gestora de serviços de diagnóstico por imagem da rede pública - que aponta queda de 53% na busca por exames de mamografia neste período. Os números dizem respeito ao intervalo entre março e setembro, comparando o ano de 2019 com 2020.

A principal hipótese para a redução desses cuidados é o medo de contaminação pela Covid-19. "Houve uma diminuição expressiva no número de pacientes que deram continuidade ou que iniciaram seus tratamentos oncológicos, sejam eles cirúrgicos ou clínicos, neste momento de pandemia", observa Vivian Milani, médica radiologista da Fidi.

A interrupção no acompanhamento e na realização de exames de rastreamento pode acarretar um diagnóstico tardio e, consequentemente, tratamentos mais complexos e invasivos. A radiologista destaca, ainda, que o câncer de mama tem até 95% de chances de cura se for precocemente detectado.

Segundo a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), a mamografia de rotina deve ser realizada anualmente a partir de 40 anos de idade. No caso das mulheres com risco aumentado para o desenvolvimento do câncer de mama, a orientação é que iniciem esse rastreamento um pouco mais cedo. Nestes casos, o exame deve ser solicitado pelo médico que orientará a idade de início e o intervalo de tempo em que a mamografia deverá ser realizada, com base na avaliação individual.


Semelhanças com a rede privada

Com movimento semelhante de declínio, os pacientes da rede privada também se afastaram dos centros de diagnóstico, por conta do medo da infecção pela Covid-19.

No HCor, em São Paulo, uma pesquisa apontou que, desde o início da pandemia, a queda na busca por exames de mamografia foi de 46%. O comparativo foi feito entre março e setembro deste ano com o mesmo período de 2019.

De acordo com Dr. Abdalla Skaf, coordenador do Departamento de Diagnóstico por Imagem do HCor, para se ter uma ideia, nos meses de quarentena mais rígida no estado, abril e maio, essa baixa chegou a níveis de 93% e 88%, respectivamente.

"Em agosto, passamos a enxergar um movimento de retomada em nossos Centros de Diagnóstico, inclusive no agendamento e na realização de mamografias. No entanto, ainda é necessário que essa rotina seja totalmente normalizada", comenta Skaf.

Na ponta dos atendimentos, a presença nos consultórios da Oncologia também diminuiu. No intervalo dos últimos sete meses, o hospital teve uma queda de 45% de consultas realizadas em pacientes oncológicos.

Segundo o Dr. Afonso Nazário, mastologista do HCor, a melhor forma de se fazer o diagnóstico precoce, bem como acompanhamento dos tumores de mama, é com a realização da mamografia. "O câncer de mama em média duplica de tamanho a cada 6 meses. Por isso é muito importante que as mulheres respeitem o período de retorno proposto pelo médico", enfatiza.


Autocuidado de janeiro a janeiro

Com a chegada do mês de outubro, marcado pela conscientização e combate aos tumores de mama, a prevenção à doença ganha destaque. Entretanto, os médicos relembram que a atenção aos sinais e sintomas devem fazer parte da rotina ao longo do ano.

O autoexame é importante para que a mulher conheça bem o seu corpo e perceba com facilidade qualquer alteração nas mamas, no entanto, ele não substitui a mamografia, que é o principal exame de imagem para a detecção precoce, complementada de acordo com cada caso com o ultrassom e a ressonância magnética.

O autoexame deve ser praticado mensalmente entre o 7º e o 10º dia contados a partir do 1º dia de menstruação. As mulheres que não menstruarem devem escolher um dia do mês.

Para examinar a mama esquerda, coloque a mão esquerda atrás da cabeça e apalpe com a mão direita. Para examinar a mama direita, faça o movimento inverso, colocando a mão direita atrás da cabeça e apalpe com a mão esquerda. Já no mamilo, faça pressão suave e verifique se há alguma secreção. As axilas também podem omitir pequenas alterações, portanto, após examinar as mamas, apalpe toda a área debaixo dos braços.


Saúde prepara ações para controle do excesso de peso e da obesidade

Dados do IBGE divulgados nesta quarta-feira (21/10) servirão de base para ampliação de iniciativas na Atenção Primária à Saúde

 

O segundo volume da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, trouxe dados sobre desnutrição, sobrepeso e obesidade na população acima de 15 anos de idade. O levantamento, divulgado nesta quarta-feira (21/10), servirá de base para ampliação das ações para prevenção e controle da obesidade na Atenção Primária à Saúde e otimização dos recursos no Sistema Único de Saúde (SUS).

O Ministério da Saúde irá disponibilizar, ainda neste ano, em caráter excepcional e temporário, incentivo financeiro federal para atenção às pessoas com doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), incluindo obesidade. Serão recursos para qualificação das ações de promoção de alimentação saudável e da atividade física.

“Inquéritos como a PNS são as melhores fontes de evidências disponíveis, tendo em vista sua abrangência e a robustez dos dados por eles gerados. Com base nessas informações, é possível o Ministério da Saúde traçar estratégias, políticas e programas que estejam de acordo com o cenário epidemiológico da população brasileira”, ressalta o diretor substituto do Departamento de Saúde da Família do Ministério da Saúde, Alexandre Fortes.

Para levantamento dos dados, o cálculo feito pela pesquisa é baseado no Índice de Massa Corporal (IMC), feito a partir relação entre peso e altura (IMC = peso/ (altura x altura)). Acima de 25kg/m² há excesso de peso e acima de 30 kg/m², obesidade. 

“Nós já vínhamos acompanhando a evolução dos indicadores de sobrepeso e da obesidade, mas agora com esses dados novos temos uma informação real, mensurada, que reforça a necessidade de compromisso do Ministério da Saúde e da sociedade para enfrentamento de um dos principais fatores para doenças de risco, como diabetes e doenças cardiovasculares, entre outras”, disse Eduardo Macário, diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância de Doenças Não-Transmissíveis do Ministério da Saúde.

Entre 2003 e 2019, os resultados de duas pesquisas do IBGE – Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) e Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) – mostraram que a proporção de obesos na população com 20 anos ou mais de idade no Brasil passou de 12,2% para 26,8%. Nesse período, a prevalência da obesidade entre mulheres aumentou de 14,5% para 30,2% e entre os homens, de 9,6% para 22,8%.

Já a proporção de pessoas com excesso de peso na população com 20 anos ou mais de idade no país passou de 43,3% para 61,7%, nos mesmos 17 anos.

O Ministério da Saúde também prepara o lançamento de iniciativas voltadas à qualificação dos profissionais de saúde, tais como o “Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de sobrepeso e obesidade” e a publicação do “Instrutivo de Cuidado da Obesidade em Crianças e Adolescentes”, com o objetivo de apoiar a formação de profissionais nos cuidados e particularidades da atenção às crianças e adolescentes com obesidade.


EXCESSO DE PESO

De acordo com a PNS 2019, 60,3% da população adulta apresenta excesso de peso, o que representa cerca de 96 milhões de pessoas - 62,6% em mulheres e 57,5% em homens.

Entre adolescentes com idades entre 15 e 17 anos, o excesso de peso foi constatado em 19,4% (1,8 milhão de pessoas), sendo mais elevado em adolescentes do sexo feminino (22,9%) em relação aos do sexo masculino (16,0%).


OBESIDADE

A obesidade foi observada em 21,8% dos homens e em 29,5% das mulheres com 18 anos ou mais de idade. O indicador foi mais elevado no sexo feminino, chegando a 38,0% das mulheres com idade de 40 a 59 anos, em comparação com 30,0% dos homens no mesmo grupo de idade. Para adolescentes com idades entre 15 e 17 anos, o dado ficou em 6,7%, com cerca de 8,0% para o sexo feminino, e 5,4 % no sexo masculino.


DESNUTRIÇÃO

O déficit de peso em adultos com 18 ou mais anos de idade foi de 1,6%, (1,7% para homens e 1,5% para mulheres), ficando, portanto, bem abaixo do limite de 5% esperado na população. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), prevalências de déficit de peso iguais ou superiores a 5% são indicativas de exposição da população adulta à desnutrição.

Em quase todos os grupos de idade, o déficit de peso dos homens é mais elevado. A exceção são os idosos (60 anos ou mais): nesse grupo, a prevalência das mulheres é maior (2,9%) que a dos homens (2,2%), de acordo com a PNS 2019.


AÇÕES E HÁBITOS SAUDÁVEIS

Com o objetivo de qualificar a atenção às pessoas com sobrepeso e obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS), o Ministério da Saúde tem investido em diferentes ações de promoção da saúde, prevenção e tratamento, incluindo programas, diretrizes, materiais e publicações nas temáticas de promoção da alimentação adequada e saudável e obesidade, além de apoiar projetos de pesquisa, extensão e formação de diferentes categorias profissionais.

Entre outras iniciativas, a pasta também investe em programas para auxiliar as comunidades nas orientações sobre alimentação saudável nas escolas, como:


·         Programa Crescer Saudável: conjunto de ações articuladas entre saúde e educação para fortalecer e garantir o adequado acompanhamento do crescimento e desenvolvimento na infância, com vistas a prevenir, controlar e tratar a obesidade infantil. Participam da iniciativa 4.118 municípios com alcance de 10,5 milhões de escolares menores de 10 anos participantes PSE e repasse de R$ 32,5 milhões;


·         Programa Saúde na Escola: desde 2017, a iniciativa faz o acompanhamento da saúde dos estudantes rede pública de ensino de educação básica. Está presente em 5.289 municípios (95% do território nacional), atingindo 22 milhões de estudantes em 91 mil escolas. O investimento financeiro, em 2019, foi de mais de R$ 89 milhões. 

A alimentação tem papel fundamental no processo de melhora dos indicadores. O Ministério da Saúde vem ampliando a divulgação do Guia Alimentar para a População Brasileira e do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 Anos – documentos que permitem aos cidadãos se informar, de maneira simples e descomplicada, sobre recomendações de hábitos saudáveis.

 


Marina Pagno

Ministério da Saúde


A obesidade não para de crescer

Considerada um dos principais problemas de saúde pública do mundo, a obesidade não para de crescer. A Pesquisa Nacional de Saúde 2019, divulgada dia 21 de outubro pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), aponta que o percentual de adultos obesos mais que dobrou no Brasil em 17 anos. O índice, que era 12,2%, entre 2002 e 2003, subiu para 26,8%, em 2019. A mesma pesquisa mostra que 60,3% da população com idade acima de 18 anos estava com excesso de peso no ano passado. Os dados são alarmantes e preocupantes, afinal, a obesidade reduz não apenas o tempo de vida das pessoas, mas também sua qualidade de vida.

A obesidade é uma doença. Ela não é desleixo. É uma doença grave, que não tem cura, mas é tratável. Só que este tratamento precisa ser feito por toda a vida. O maior problema da obesidade é que ela gera ou agrava outras doenças, que chamamos de comorbidades. Temos dezenas de comorbidades, mas vou citar aqui apenas as principais: hipertensão arterial, aumento do colesterol e do triglicérides, diabetes tipo 2, apneia do sono, problemas ortopédicos, hemorroida, varizes nos membros inferiores, problemas pulmonares, como asma e bronquite, e cefaleia. Com essa pequena lista, já podemos ter uma ideia do quanto a obesidade é grave.

Alguns pacientes costumam dizer que são “gordinhos saudáveis”, mas isso não existe. A obesidade, por si só, já é uma doença, e, com o tempo, vai gerar ou agravar outras doenças. Por isso, é importante agir desde cedo, ainda na infância, estimulando as crianças a terem uma alimentação saudável e a serem mais ativas. Hoje, é comum que as crianças fiquem horas no videogame ou com o celular na mão, o que reduz o gasto calórico, se comparado a um jogo de futebol, a uma brincadeira na rua com os amigos. Além disso, com a correria do dia a dia, os pais costuma adotar uma alimentação mais calórica, com alto consumo de fast food, por exemplo. São maus hábitos que acabam sendo levados por toda a vida.

Tratar a obesidade não é fácil, por isso, é melhor prevenir, com bons hábitos. Os tratamentos para obesidade variam desde clínicos até cirúrgicos. Normalmente, o paciente acima do peso começa adotando uma alimentação mais saudável e praticando atividades físicas. Em alguns casos, ele também pode optar por tratamentos medicamentosos. Também temos opções de tratamentos por endoscopia (balão intragástrico e endossutura gástrica) e tratamentos cirúrgicos, que são as cirurgias bariátricas. A indicação do melhor tratamento varia de acordo com a pessoa e com o seu grau de sobrepeso/obesidade.

O que percebemos, na prática, é que para ter sucesso em qualquer tratamento para perda de peso, é necessária uma mudança de vida e um acompanhamento multidisciplinar. A obesidade é uma doença multifatorial e, portanto, precisa da abordagem de vários profissionais: nutricionista, endocrinologista, psicólogo e, nos casos mais graves, cirurgião bariátrico, entre outros. É comum que as pessoas obesas passem por vários tratamentos sem sucesso ao longo da vida. Não emagrecem ou emagrecem e voltam a engordar.

Precisamos ter em mente que a pessoa obesa sofre uma série de restrições em sua vida. Muitas vezes, se isola socialmente, se sente envergonhada e desmotivada para sair de casa. É comum ouvirmos relatos de mães que não conseguem brincar com os filhos por causa da obesidade e se sentem culpadas por isso. Tarefas simples do dia a dia, como amarrar um sapato, encontrar uma roupa que sirva e até fazer a própria higiene, costumam ser difíceis.

Por tudo isso, precisamos ter mais empatia com a pessoa obesa. Precisamos acabar com o preconceito com a pessoa obesa, precisamos apoiar e incentivar quando ela decide fazer qualquer tipo de tratamento contra a obesidade, inclusive a cirurgia bariátrica. Ainda há muita desinformação sobre isso e a pessoa, quando opta pelo tratamento cirúrgico, costuma ouvir uma série de críticas, que vão desde que esse “é o caminho mais fácil” até “você vai morrer”. Os riscos de uma cirurgia bariátrica são mínimos. Mas os riscos da obesidade são muitos.

Também precisamos de políticas públicas eficientes que ajudem a prevenir a obesidade e que ofereçam amplas opções de tratamento para esta doença. No Brasil, o acesso a alguns tratamentos ainda é muito limitado, principalmente para o paciente que depende do SUS (Sistema Único de Saúde).

Ao emagrecer, seja através de tratamento clínico, endoscópico ou cirúrgico, a pessoa, normalmente, passa por uma transformação. Ganha autoestima, ganha qualidade de vida e, mais que isso, ganha saúde.

  

 Fonte pesquisa IBGE sobre obesidade



Dr. Admar Concon Filho - cirurgião bariátrico, cirurgião do aparelho digestivo e médico endoscopista. Ele é membro titular e especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva, Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, além de membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e membro da International Federation for the Surgery of Obesity and Metabolic Disorders. / CRM – 53.577


Outubro Rosa: Movimento alerta a população sobre a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de mama

IGESP

Prática de hábitos saudáveis reduzem em até 30% as chances de desenvolver a doença


Nosso corpo tem história, carrega marcas e gera vida e, por isso, deve ser cuidado, amado e protegido. Celebrado mundialmente desde os anos 90, o Outubro Rosa foi criado pela fundação americana Susan G. Komen for the Cure (em português, Susan G. Komen para a cura) e é uma campanha sensível, que incentiva o contato e conhecimento entre mulheres e o seu corpo para combater o câncer de mama.

No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), essa é a doença que mais acomete mulheres no país e são estimados 66.280 novos casos em 2020. Além disso, o câncer de mama é a principal causa de mortes entre as mulheres brasileiras e, no mundo, essa doença fica em segundo lugar, apenas do câncer de pulmão.

O câncer de mama se desenvolve a partir da multiplicação desordenada das células da mama que formam um tumor maligno, podendo evoluir rapidamente ou lentamente, dependendo do tipo de tumor e comportamento apresentado pela doença. São incomuns em pessoas com menos de 35 anos, sendo mais frequente acima dos 50 anos de idade.

Sintomas:
Os sintomas mais comuns, são o aparecimento de nódulo (“caroço”) endurecido na mama e/ou na axila, geralmente indolor no início da doença (em 60% dos casos), alterações da pele que recobre a mama (aspecto de “casca de laranja”, retrações, alteração da cor da pele), mamas assimétricas, secreções pelo mamilo, em mulheres que não estejam amamentando. Como os homens também têm mama, é interessante ressaltar que o câncer de mama também acomete homens, contudo são relatados em menos de 1% dos casos da doença.

Fatores de risco:

O risco do câncer de mama está relacionado ao aumento da idade, fatores hormonais, como por exemplo, o início da menstruação antes dos 12 anos e menopausa após os 55 anos de idade e a reposição hormonal na menopausa. Ser mulher é um fator de risco pelo menos 100 vezes maior do que ser homem. O risco é mais elevado, também em indivíduos obesos ou sobrepeso, fumantes, aqueles com hábito de consumir bebidas alcoólicas e o sedentarismo. Os fatores genéticos também são importantes, pois ter um parente de primeiro grau com câncer de mama, aumenta o risco da doença, todavia isso não significa ser portador de câncer hereditário. Felizmente o câncer de mama hereditário, ou seja, com genes herdados dos pais, é responsável por apenas 5 a 10% dos casos.

Antigamente, o tratamento local do câncer de mama era muito radical e a maioria das mulheres eram submetidas à mastectomia (retirada cirúrgica da mama inteira). Hoje são oferecidas cirurgias conservadoras, com a retirada apenas do tumor ou de um segmento da mama afetada pela doença. Mesmo que seja necessário a mastectomia, a mulher pode optar, na maioria das vezes, pela reconstrução imediata da mama, evitando a sensação de mutilação pela doença.

Prevenção:
Para prevenir a doença, o autoexame das mamas e o acompanhamento médico é o melhor caminho para realizar o diagnóstico precoce, fundamental para a realização do tratamento. Seu médico vai indicar quais exames necessários para o diagnóstico da doença, como o ultrassom das mamas e mamografia.

Para diminuir o risco da doença, opte por uma dieta saudável, pratique exercícios físicos regulares e não fume. Segundo o INCA, cerca de 30% dos casos podem ser evitados quando essas medidas são adotadas na rotina das pessoas.

Conheça o seu corpo e ao menor dos sintomas, procure seu médico.

Compartilhe informações, fique atenta, apoie outras mulheres ao seu redor e não deixe de consultar o seu médico.

 

Trasmontano Saúde

https://www.trasmontano.com.br/

Cisto sinovial é o tumor mais frequente nas mãos

 O cisto sinovial é comum nos punhos e nos dedos 
Divulgação

Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão explica o problema

 

O aparecimento de um caroço próximo das articulações, como nas mãos, por exemplo, pode indicar um problema chamado cisto sinovial, um tipo de tumor benigno considerado o mais frequente nesse membro. Com aspecto arredondado e mole, ele é formado por acúmulo de líquido, uma substância que serve para lubrificar as articulações.

O cisto sinovial é comum nos punhos e nos dedos. Este mês, a apresentadora Ana Hickmann, em seu perfil no Instagram,  contou que passou por uma cirurgia para retirar um cisto no dedo indicador da mão esquerda, pois ele estava atrapalhando as atividades do seu dia a dia.

O presidente da SBCM (Sociedade Brasileira de Cirurgia da Mão), Dr. João Baptista Gomes dos Santos, explica que, por ser benigno, não há a possibilidade de o cisto evoluir para um tumor maligno, mas se aumentar de tamanho e comprimir nervos, tendões ou estruturas adjacentes, pode resultar em dor, diminuição do movimento ou perda da função articular.

 

Causa e sintomas

O cisto sinovial pode ser causado por traumas no local,  esforços ou desgaste por doença degenerativa. O tamanho varia e há casos de versões ocultas, que dificultam o diagnóstico.

O sinal mais comum é o surgimento de um caroço arredondado e mole que aparece perto da articulação. “Como cresce perto de músculos, nervos ou tendões, algumas pessoas podem sentir dor, formigamento e perda de força ou de sensibilidade, principalmente quando o cisto tem um tamanho muito grande”, ressalta Dr. João. “Se estiver oculto, porém doloroso, um exame pode auxiliar no diagnóstico”, completa.

 

Tratamento

Algumas vezes, os cistos desaparecem sozinhos, mas no caso de ser um cisto de tamanho grande ou provocar dor e diminuição da força, é preciso entrar com medicamento analgésico, prescrito pelo médico, que ajuda a melhorar os sintomas, mas não faz o cisto sumir.

Já quando não houver melhora, pode ser necessária a utilização de técnica invasiva. Uma alternativa é a aspiração do cisto, que consiste em drenar com uma agulha o líquido, podendo-se injetar, em seguida, um corticoide. “Se ainda assim não houver melhora, aí é indicada cirurgia, que pode ser via aberta ou artroscópica, com equipamento que permite olhar para dentro da articulação, com mínima cicatriz”, fala o presidente da SBCM.

O paciente é liberado no mesmo dia, com a orientação de repouso e o especialista pode recomendar sessões de fisioterapia.

 


SBCM - Sociedade Brasileira de Cirurgia de Mão

http://www.cirurgiadamao.org.br/


Existe ou não relação entre a Vitamina D e o Coronavírus?

Estudo feito por pesquisadores da Ufes, Ifes e IFSP verificou potencial função da vitamina como antiviral contra a COVID-19


Um estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo e de São Paulo (Ifes e IFSP) verificou que a Vitamina D pode atuar como antiviral contra o novo coronavírus.

Segundo os pesquisadores, os estudos mostram que a Vitamina D se ligou fortemente na MPRO, a protease principal do SARS-COV-2, especificamente na região que corresponde ao sítio ativo, onde se ligaria um fármaco inibidor, sugerindo que a Vitamina D pode apresentar ação antiviral.

O que se pode afirmar, até o momento, com base em todos os estudos que já foram publicados e, também, com base nas literaturas científicas, é que níveis adequados de Vitamina D no organismo são essenciais para o bom funcionamento do sistema imunológico.

Quando o corpo está com a quantidade ideal de Vitamina D, além de evitar sintomas desagradáveis como as dores de cabeça, ajuda também a manter os ossos saudáveis, melhora o desempenho muscular, potencializa o sistema imunológico e auxilia o cérebro no envio e captação de reações.

No caso da Covid-19, os estudos indicam que a imunidade elevada, com níveis adequados de Vitamina D, pode levar o paciente a sofrer apenas sintomas leves da doença, desde que não tenha comorbidades, como, por exemplo, problemas cardíacos, hipertensão, diabetes e obesidade.

Mas, e quando falta Vitamina D? A carência da vitamina é encontrada em 70% da população entre 1 e 21 anos, em 73% da população adulta e em 78% da população idosa. Segundo Lúcia Barreira, Gerente Técnica-Científica do Laboratório Gross, o distúrbio está associado à desnutrição, à privação da exposição solar em indivíduos sem acesso à vitamina D dietética ou suplementar, à problemas de absorção intestinal, à síndrome nefrótica (por perda das proteínas carreadoras de vitamina D), à idade avançada (por perda de massa dérmica e da estrutura normal da pele), à hiperpigmentação dérmica, ao uso de filtro solar, à disfunção hepática (insuficiência da enzima vitamina D 25-hidroxilase) e à obesidade (por sequestro da vitamina D sanguínea para tecido adiposo).

"Os idosos pertencem ao grupo de risco do coronavírus e, também, apresentam os índices mais baixos de Vitamina D. Isso faz com que eles fiquem menos imunes e vulneráveis perante o novo vírus. Mas, com o isolamento, ficou complicado tomar sol e, por isso, suplementos vitamínicos são super indicados", explica Lucia Barreira.

Um suplemento vitamínico que vem sendo indicado pelos médicos é o Mildê, do Laboratório Gross, pois sua ingestão complementa o consumo de Vitamina D adquirido por meio da alimentação e/ou da exposição solar, prevenindo seus estados de carência.

"O Mildê é um suplemento especialmente desenvolvido para auxiliar e suprir as necessidades de Vitamina D no organismo, garantindo a manutenção da saúde óssea. Sua comodidade permite uma suplementação adequada específica para as necessidades de cada paciente", confirma a Gerente Técnica-Científica do Laboratório Gross.

 


Gross

http://gross.com.br/


Como estão os tratamentos experimentais para a Covid-19

Quais são os principais remédios em testes para atenuar os efeitos do Coronavírus


Como ficou claro após meses de pandemia, a COVID-19 pode afetar as pessoas de diversas formas. Algumas são assintomáticas, ou seja, podem ser infectadas e não manifestar sintomas. Outras podem apresentar sintomas, mas não evoluir para uma doença grave. No entanto, uma terceira categoria pode precisar de hospitalização para complicações graves. Para as pessoas com sintomas ou para aquelas que estão progredindo para hospitalização, os pesquisadores estão analisando o que pode funcionar e encontrando sinais de esperança em terapias experimentais, tanto novas quanto antigas. No hospital, existem algumas formas pelas quais os pacientes podem receber assistência durante a doença. Há duas grandes categorias de terapia experimental: medicamentos antivirais e moduladores imunológicos. 

 

Medicamentos antivirais

Esse grupo de medicamentos impede que um vírus se replique. A interrupção do RNA funciona porque, diferentemente de células humanas e de DNA, o SARS-CoV-2 carrega suas instruções de replicação no RNA. Como os vírus não conseguem se replicar por conta própria (ou seja, eles não estão vivos da mesma forma que as pessoas estão), eles só conseguem criar mais vírus ao sequestrar uma célula hospedeira. Normalmente, os medicamentos antivirais têm como alvo um aspecto desse processo de sequestro/replicação e o bloqueiam. 

Um exemplo de medicamento antiviral é o Remdesivir. Remdesivir bloqueia a tradução do RNA que permite que o vírus se copie. De acordo com dados publicados em 22 de maio de 2020, no The New England Journal of Medicine, o medicamento encurtou o tempo de recuperação em quatro dias entre os pacientes hospitalizados, em comparação com um placebo. Foi autorizado pelo FDA para uso experimental no tratamento de COVID-19 grave em 1º de maio de 2020. No entanto, o efeito do remdesivir foi recentemente questionado em um artigo não revisado por pares do estudo SOLIDARITY da Organização Mundial de Saúde. Nesse relatório, entre 405 hospitais em 30 países, 2.750 adultos foram incluídos em um braço remdesivir. O remdesivir, nem qualquer uma das outras drogas testadas, mostrou uma redução definitiva na mortalidade de acordo com esta análise inicial.

Outra classe de terapias experimentais que está sendo analisada para pacientes deixa de se concentrar no vírus e foca o sistema imunológico do corpo. Esses novos medicamentos e terapias são baseados em medicamentos que existem para outras finalidades, assim como novos medicamentos que estão em desenvolvimento especialmente para o tratamento da COVID-19.


Tratamento experimental com foco no sistema imunológico

Conhecidas como terapias imunomoduladoras, esses medicamentos têm como foco a resposta do sistema imunológico ao vírus. Um grupo de medicamentos, chamados de esteróides, acalma o sistema imunológico. Normalmente, as pessoas usam esteróides para tratar doenças como artrite ou asma ou como parte do tratamento de alguns cânceres ou surtos de esclerose múltipla. Os esteróides agem na inflamação e nas formas com que a inflamação se desenvolve e continua aumentando. Pesquisadores estão analisando se esse tipo de intervenção é útil para casos graves de COVID-19. Em um artigo publicado em 17 de julho de 2020 no New England Journal of Medicine, reportou-se que um esteróide chamado dexametasona diminuiu a taxa de mortalidade, conforme mensurado durante 28 dias, de pacientes em ventilação ou que estavam recebendo oxigênio de 41,4 % para 29,3 % e de 26,2 % para 23,3 %, respectivamente.

Outros medicamentos imunomoduladores têm como foco a parte do sistema imunológico chamada anticorpos. Esses fragmentos de proteína em forma de Y têm várias funções, mas, basicamente, eles se prendem a algo que o corpo precisa prestar atenção e sinalizam a necessidade de cuidados para o sistema imunológico. Por exemplo, quando um vírus invade uma célula, ele perfura a membrana da célula, assume o controle e faz cópias até a célula explodir, enviando as novas partículas de vírus pelo corpo para infectar outras células. Conforme o vírus é disseminado, alguns desses agentes mal-intencionados acionam um “alerta vermelho” do sistema imunológico. Depois de uma série de eventos, células imunológicas chamadas células B se transformam em células plasmáticas e começam a produzir anticorpos. Alguns anticorpos sufocam o vírus invasor, basicamente colando-o em uma massa imóvel e pegajosa. Outros anticorpos se encaixam como uma chave em uma fechadura na membrana do vírus, impedindo-o de perfurar uma nova célula e de continuar o processo de replicação. 

De acordo com um artigo na Nature, os anticorpos foram descobertos pela primeira vez no sangue de animais expostos à difteria ou à toxina do tétano há mais de 100 anos. Porém, era difícil isolar apenas um tipo de anticorpo e reproduzi-lo para estudos. 

Em 1975, os pesquisadores encontraram uma forma de produzir somente o anticorpo que queriam. Para isso, combinaram a célula que produzia esse anticorpo com uma célula cancerosa de mieloma, que se replica sem as quebras celulares normais na divisão. As células foram clonadas e cultivadas até que uma linha que produziu apenas o anticorpo desejado foi isolada. Por fim, elas foram chamadas de anticorpos monoclonais. Medicamentos baseados em anticorpos monoclonais foram concebidos para colocar o sistema imunológico em ação ou bloquear sua atividade. Esses medicamentos também podem ajudar pesquisadores a desenvolver novas formas de diagnosticar e tratar doenças. Esses medicamentos ajustam ou modulam proteínas ou células responsáveis pelas respostas imunológicas.

 

COVID-19 e anticorpos monoclonais

No que diz respeito à COVID-19, os anticorpos monoclonais estão sendo analisados como um tratamento para pacientes com manifestação grave da doença e como uma forma de melhorar a resposta imunológica (chamada de imunidade passiva) entre as pessoas para as quais uma vacina não está disponível, não é eficaz ou não é recomendada. Pesquisadores estão analisando os anticorpos de pacientes recuperados para identificar quais são mais eficazes para impedir que o vírus sequestre células ou para controlar a resposta imunológica ao SARS-CoV-2. Até o momento, a grande maioria tem como alvo a proteína Spike do SARS-CoV-2, que ajuda o vírus a infectar uma célula humana.

Além disso, os pesquisadores também estão analisando medicamentos de anticorpos monoclonais existentes para determinar quais podem ser úteis no tratamento da COVID-19. A ClinicalTrials.gov lista cerca de uma dúzia de estudos que estão usando anticorpos monoclonais, isoladamente ou combinados, no contexto de infecção por COVID-19, pneumonia, lesão pulmonar ou síndrome do desconforto respiratório agudo. Os candidatos participam para tratar doenças tão comuns quanto câncer ou artrite reumatoide ou tão raras quanto linfo-histiocitose hemofagocítica

Um exemplo é o medicamento lenzilumab. Ele bloqueia um “alerta vermelho” químico do sistema imunológico que leva à solicitação de mais glóbulos brancos, como monócitos, macrófagos ou granulócitos. O medicamento é aprovado para o tratamento de asma, artrite reumatoide e leucemia. Testes estão sendo realizados para determinar se esse anticorpo monoclonal pode moderar os danos causados pelo sistema imunológico durante a manifestação grave da COVID-19. 

 

Como identificar os alvos mais promissores

Alguns dados já são conhecidos sobre os medicamentos de anticorpos monoclonais. Dois dos primeiros medicamentos estudados, o sarilumab e o tocilizumab, têm como foco um componente químico usado pelo sistema imunológico para se comunicar chamado de interleucina 6. Liberado por glóbulos brancos durante a infecção, a interleucina 6 aumenta as ações imunológicas e a inflamação. No entanto, se o rígido controle da interleucina 6 falhar, o resultado pode ser uma inflamação incessante e, por fim, um transtorno autoimune. Os medicamentos de anticorpos monoclonais bloqueiam o receptor da interleucina 6, impedindo que ela chegue até as células. Contudo, os dois medicamentos não apresentaram benefícios em relação ao placebo ou ao tratamento padrão de pacientes com COVID-19. 

Apesar disso, a IL-6 é somente um alvo. Pesquisadores de todo o mundo estão dividindo o vírus SARS-CoV-2 e desvendando como o sistema imunológico responde a esse novo vírus humano. De acordo com a Antibody Therapeutics Tracker, pelo menos 234 empresas em 26 países estão em busca de terapias baseadas em anticorpos para 48 alvos no vírus ou no sistema imunológico. Dos laboratórios de pesquisa aos estágios finais de aprovação de medicamentos, pesquisadores em todo o mundo esperam encontrar uma solução de novos anticorpos monoclonais para lidar com a COVID-19. 

 

Plasma convalescente

A opção mais histórica para moderar o sistema imunológico é usar os anticorpos criados pelas pessoas já que se recuperaram. Esses anticorpos são coletados do sangue de pacientes antigos e administrados em pacientes com manifestação grave da COVID-19. Em abril de 2020, a Mayo Clinic foi selecionada pela FDA para liderar um Programa de Acesso Expandido para a administração de plasma convalescente de COVID-19 em pacientes. O programa nacional dos Estados Unidos publicou dados sobre a segurança desse tipo de terapia e possíveis sinais de como ela poderia ajudar pacientes. Com base nesses relatórios, o plasma convalescente atendeu aos padrões de Autorização para Uso Emergencial da FDA e o Programa de Acesso Expandido foi suspenso. A autorização significa que pacientes podem continuar recebendo plasma convalescente enquanto as pesquisas na Mayo e no mundo todo continuam.  

 

Do antigo ao novo

Da sabedoria histórica a uma das mais recentes ideias na pesquisa de envelhecimento, os pesquisadores da COVID-19 estão considerando todas as possibilidades. Os pesquisadores da Mayo Clinic estão analisando um novo tipo de medicamento chamado de senolítico para o tratamento de suporte para pacientes com COVID-19. Os medicamentos senolíticos têm como alvo as chamadas células senescentes. Essas são células que o corpo encaminhou para serem desativadas, mas que se recusam a morrer. As células senescentes, ou células zumbis, foram associadas a diversas doenças de envelhecimento. No entanto, agora, um medicamento que tem essas células como alvo está sendo analisado para o tratamento da COVID-19. Em um ensaio clínico realizado na Mayo Clinic, os pesquisadores estão investigando se o medicamento pode impedir que pacientes com COVID-19 piorem. A piora é mensurada pela maior necessidade de suporte respiratório, pelo aumento de medidas gerais de fragilidade ou pela progressão de COVID-19 leve para doença grave. 

Ao agregar um grande número de pacientes a esses esforços, iniciando ensaios clínicos como os que estão em andamento na Mayo e coletando dados em programas como a iniciativa de plasma convalescente, os pesquisadores serão, com o tempo, capazes de separar o que funciona do que não funciona e compreender o que pode ser prejudicial. 

 


Mayo Clinic


Posts mais acessados