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segunda-feira, 4 de maio de 2020

Temporada de balanços mostra que bancos já se preparam para uma onda de inadimplência


Começou oficialmente no Brasil a temporada de balanços 2020. As primeiras leituras já começam a apontar a direção que a economia do país deve seguir nos próximos meses e o possível impacto da pandemia de coronavírus nos principais setores da economia.

A CIELO (CIEL3), maior empresa de pagamentos do Brasil, registrou uma contração do lucro líquido de 65,4% nos primeiros três meses do ano no comparativo anual, totalizando R$ 202,6 milhões contra R$ 585,5 milhões em 2019. Já as despesas financeiras aumentaram 41,5%, em relação a 2019. “A Cielo está diretamente exposta à queda de consumo interrompida bruscamente com o isolamento social”. Apesar dos números preocupantes, o pior resultado ainda está por vir no segundo trimestre, quando os dados irão retratar o período mais intenso do isolamento social.

O Banco Bradesco (BBDC4), segundo maior banco privado do país, apresentou  lucro recorrente de R$ 3,753 bilhões no primeiro trimestre de 2020, registrando uma queda de 39,8% no comparativo anual. Enquanto isso, as despesas líquidas com provisões para devedores duvidosos (PDD) chegaram ao montante de R$ 6,708 bilhões, um salto de 86,1% no comparativo anual.

Os resultados do banco ficaram mais concentrados ao crédito PJ neste começo de ano, mas o que chama a atenção é o forte aumento das provisões, indicando que o Bradesco está se preparando para uma disparada da inadimplência.

Contudo, o cenário ainda não está claro para o setor bancário. O banco espanhol Santander (SANB11) provisionou R$ 3,424 bilhões com despesas líquidas e provisões para devedores duvidosos (PDD), uma alta de 19,2%, bem abaixo do Bradesco. Apesar de haver diferença na exposição do crédito entre as instituições, a disparidade pode ser um forte indicador de que os bancos dividem opinião sobre a oferta do crédito nos próximos meses. 

Na área das commodities, a mineradora Vale (VALE3) registrou um lucro líquido de R$ 984 milhões neste começo do ano, uma recuperação significativa se comparada ao prejuízo de R$ 6,4 bilhões em 2019 devido à tragédia de Brumadinho (MG). De acordo com a companhia, a melhora no resultado aconteceu por conta do reconhecimento de despesas pontuais no 4º trimestre de 2019, como baixas contábeis em ativos de níquel e carvão (R$ 17,3 bilhões) e provisões relacionadas a Brumadinho (R$ 3,7 bilhões).

Já a dívida líquida da Vale ficou estável em US$ 4,8 bilhões em relação ao quarto trimestre de 2019, mas com forte queda no comparativo anual, quando o endividamento chegou a US$ 12,031 bilhões. O cenário da companhia reflete muito a expectativa da retomada econômica da China, tornando-se uma referência para o que pode ser projetado nos próximos meses quando a pandemia arrefecer por aqui.

Com tudo isso, conclui-se que a forte queda do consumo local ainda é o maior inimigo dos setores do varejo e serviços financeiros, enquanto o provável aumento no desemprego pressiona as provisões de inadimplência dos bancos.

Já para as exportações, em especial para a Ásia, uma frágil melhora de perspectiva começa a ser formada, ajudada principalmente pela alta do dólar.

Por fim, fica cada vez mais claro que para que haja melhora sistêmica nos setores, é necessária a flexibilização do isolamento social. No entanto, o movimento pode ser arriscado, já que a flexibilização abre espaço para a possibilidade de uma nova onda de contágio pelo coronavírus.





Ernani Reis - analista da Capital Research

Capital Research


O impacto econômico trazido pela pandemia e a necessidade de uma gestão de crise nas empresas


Todos já nos conscientizamos sobre os efeitos da pandemia no Brasil e no mundo. Enquanto médicos e cientistas correm contra o tempo para consolidar um tratamento mais efetivo contra a Covid-19, a população se resguarda em casa, para reduzir o contágio. Porém, esse cenário vem causando reflexos preocupantes na economia. É certo que enfrentaremos nos próximos meses uma recessão de grande escala. Segundo a previsão do governo federal, estima-se que o Produto Interno Bruto (PIB) para o ano, reduzirá drasticamente, e isso causará impacto nas empresas e em todos os setores. 

No primeiro momento, a prioridade deve ser preservar as vidas. É o mínimo que deve ser feito. Porém, é preciso ter um equilíbrio na tomada de decisão, especialmente pela pressão nos líderes e governantes. É necessária uma análise técnica ponderada do cenário atual. 

Do ponto de vista econômico, em 2019, o PIB do Brasil fechou em R$ 7,3 trilhões de acordo com o IBGE, e a arrecadação foi R$ 2,5 trilhões, conforme o Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo. Ou seja, o estado arrecadou cerca de 34,2% do PIB. Quando se tem uma previsão inicial de queda de PIB de 5% sobre o previsto, estamos falando de cerca de 365 bilhões. A arrecadação em cima desse valor seria de R$125 bilhões, mas na ausência dessa produção, não há arrecadação proporcional. 

Sobre a saúde pública, segundo o portal da transparência, em 2019, o orçamento para a área foi de R$114 bilhões. Estima-se que o SUS abrange regiões do país que somadas possuem, aproximadamente, 150 milhões de pessoas beneficiadas. Segundo o jornal científico The Lancet, em 2018 morreram no Brasil 153 mil cidadãos por falta de estrutura relativa à saúde pública, e, entre esses, 51 mil faleceram por falta de acesso. 

O sistema de saneamento básico também requer atenção. Em 2019, o orçamento para o setor foi de apenas um bilhão de reais. E, segundo o Ministério da Saúde, morreram nos últimos dez anos, 73 mil pessoas, uma média de 7,3 mil por ano. Conforme a Agencia Reguladora de Serviços de Abastecimento de Agua e de Esgotamento Sanitário do Estado de Minas Gerais (ARSAE-MG), esse número pode chegar a 15 mil. Isso em um cenário com o qual já estávamos acostumados. Com os avanços da pandemia, a estimativa de mortes, infelizmente, aumenta. E ainda, os investimentos serão menores. 

Se a queda no PIB ficar em 5%, serão perdidos R$ 125 bilhões de arrecadação, mais do que o orçamento de um ano da saúde pública, que, com os recursos disponíveis, já não atende a todos com eficácia. 

Esses números são apenas alguns exemplos de como devemos analisar a questão com um olhar mais abrangente e racional para que possamos agir com o equilíbrio que o momento requer.
Além de ter essa visão quanto as perspectivas do país, os empresários ainda precisam redobrar a atenção com relação a quatro pontos, que são fundamentais para o desenvolvimento das empresas: seus colaboradores, clientes, cadeia de suprimentos e finanças. Por isso, algumas medidas, são essenciais nesse cenário, como: criar comitês de crise especializados nessas temáticas, que serão responsáveis por elaborar planos de contingência e tomar medidas como: antecipação de férias, e redução das jornadas de trabalho mantendo forte comunicação com os colaboradores e sendo transparente; antecipação de possíveis rescisões de contratos, aproximação com os clientes; análise de produtos substitutos na cadeia de suprimentos; e outras ações focadas em redução de custos. 

Além disso, direcionar uma equipe para apoiar o setor financeiro, fazendo análises criteriosas e detalhadas: custos operacionais devem ser reduzidos de acordo com a proporção das perdas em receitas; deve-se aproveitar pra fazer análise mais criteriosa se há falhas de produtividade ou eficiência operacional. Despesas administrativas como viagens, energia, água e vale-transporte devem ser naturalmente reduzidas, mas devem ser restringidos ainda gastos como aluguel, entregas e deslocamentos. É necessário rever o diferencial competitivo e revisitar o plano de marketing e vendas e avaliar se há necessidade de ajuste, na cartela de produtos ou serviços.  Os canais de venda deverão ser direcionados para as plataformas digitais. É preciso analisar o que está prosperando para direcionamento do target. Outros investimentos com visão de longo prazo devem ser mantidos e cortados apenas alguns de menor impacto e de curto prazo. 

Esse é um momento para manter o equilíbrio e a racionalidade, e para identificar oportunidades que possam recuperar e retomar a longevidade dos negócios.






Dino Bastos - presidente da Federaminas Jovem e  CEO da Partners Comunicação Pro Business


Quais os aprendizados que o coronavírus trouxe para a Diversidade e Inclusão nas empresas?


Durante este momento de quarentena por conta da pandemia do coronavírus (COVID-19), podemos observar várias lições, entre elas, a humanização nas relações e o quanto é importante se preocupar com o outro. Esses momentos de desafios nos levam a refletir sobre o nosso posicionamento na vida, e espero que traga muitos aprendizados e transformações.

O coronavírus não tem o mesmo impacto nas pessoas, segundo o Ministério da Saúde, ele tem sido mais letal entre pretos e pardos e este fato está ligado à desigualdade social, além das doenças associadas. Infelizmente pessoas em condições de vulnerabilidade socioeconômica estão mais expostas.

E é neste cenário que podemos notar a empatia, a doação e a caridade se espalhando nas ações das pessoas e das empresas. Essas ações estão criando um caminho para que a solidariedade e a cultura da doação se espalhem pelo Brasil.

Podemos aproveitar essas lições que estamos aprendendo a cada dia também no universo corporativo. Ninguém pode se dizer melhor do que o outro apenas pelo cargo que ocupa, afinal, eu "não sou o cargo", eu "estou no cargo", isso é momentâneo. E quando você assume essa postura inclusiva e enxerga as diferenças como algo que agrega, a empresa como um todo só tem a ganhar.

Quando pensamos em diversidade e inclusão, precisamos entender que o posicionamento institucional da corporação deve estar totalmente alinhado para receber e acolher todas as pessoas, entendendo que as experiências, vivências e culturas distintas podem gerar uma troca relevante para a companhia, ocasionando mudanças internas e externas.

Muitos talentos já buscam por vagas em empresas que estão abertas a diversidade e que tenham uma cultura inclusiva. Eles entendem que uma companhia com valores reais de diversidade e inclusão, também possui valores corporativos que sobressaem aos interesses e crenças individuais, e que valoriza o profissional. Esse olhar flexível para as mudanças nas corporações se faz necessário, já que é uma estratégia cada vez mais indispensável para reter os profissionais.

As mulheres, pessoas negras, LGBTI+, com deficiência devem ter as mesmas oportunidades que as demais pessoas e a crise atual vem justamente para abrir nossos olhos em relação a inclusão. A esperança que fica agora é que esse aprendizado seja para sempre.






Cris Kerr - CEO da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, Mestra em Sustentabilidade e idealizadora do 10º Super Fórum Diversidade & Inclusão, evento que apoia as corporações a construírem ambientes mais diversos e inclusivos, tornando-as mais inovadoras e sustentáveis.


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