Com a crise do emprego, remuneração e chances
de crescimento profissional pesaram mais do que a vocação
Sonhadores
e, na maioria das vezes, inexperientes, os estudantes costumam enfrentar muitas
dúvidas na hora de escolher uma graduação. Afinal, essa é uma decisão que
certamente vai impactar todo o seu futuro. Nesse momento, alguns fatores
costumam, tradicionalmente, pesar na escolha do jovem: o sonho de fazer
determinado curso, a vocação para alguma área e, até mesmo, a opinião dos
familiares. No entanto, em tempos de mercado acirrado, alguns estudantes têm
ponderado aspectos mais tangíveis – é o que aponta um estudo realizado entre
esse público. Segundo um levantamento feito pela Companhia
de Estágios – consultoria e assessoria especializada em programas de
estágio e trainee – mais de um terço dos universitários brasileiros escolheram
seus cursos baseados nos benefícios oferecidos pelo mercado de trabalho; para
eles, a vocação ficou em segundo plano frente às tendências profissionais.
Vocação x Sucesso
O
estudo, que contou com mais de 5.400 jovens de todas as regiões do país,
revelou que, embora a vocação ainda seja o principal fator na hora de escolher
um curso de graduação, 32% dos universitários em atividade alegam que sua
decisão foi baseada, principalmente, nas tendências do mercado de trabalho.
Esses jovens estão, de certa forma, mais preocupados com a remuneração e as
chances de crescimento oferecidas pelas profissões, mostrando maior inclinação
para aquelas que estão em alta. Curiosamente, quase 60% desses estudantes estão
nos dois primeiros anos de curso, ou seja, ingressaram na faculdade durante a
crise do emprego. De acordo com Tiago Mavichian, diretor da Companhia de
Estágios, esse fenômeno é, certamente, um dos motivadores dessa virada “Como o
mercado de trabalho está cada vez mais dinâmico, o jovem precisa de muito mais
ferramentas na hora de decidir pelo curso. Atualmente, é preciso ir além da
orientação profissional e do autoconhecimento: ele precisa se manter informado
sobre o que é tendência. E, é nesse momento que ele pode ser impactado pela
atmosfera do mercado e acabar escolhendo seu curso com base nessa percepção.”
Estágio: aprendizado ou bolsa auxílio?
A
pesquisa ainda revelou que, quando se trata de programas de estágio, os
“universitários influenciados pelo mercado” consideram mais os aspectos
materiais da vaga do que os “universitários motivados pela vocação”. Em
comparação, a preocupação com o valor da bolsa auxílio é 5% maior entre os
jovens que escolheram a profissão de olho nas oportunidades; o mesmo acontece
quando se trata das chances de efetivação oferecidas pelo empregador. E, embora
a prioridade dos candidatos seja, em ambos os casos, as chances de aprendizado
proporcionadas pelo estágio, os “estudantes motivados pela vocação” valorizam
mais essa característica numa vaga.
Vocação influencia no otimismo
Quem
escolhe o curso pensando em “trabalhar com o que ama” se sente mais otimista em
relação ao mercado de trabalho. Comparando os perfis, os universitários guiados
pelas tendências são ligeiramente (12%) mais pessimistas do que os que
escolheram o curso por vocação. Segundo Rafael Pinheiro, gerente de recursos
humanos, essa percepção pode estar ligada tanto ao nível de satisfação do
estudante com o curso, quanto ao seu nível de informação sobre o mercado de
trabalho: “Se por um lado o estudante que “faz o que gosta” se sente mais feliz
em relação a profissão, o que está de olho nas tendências do mercado pode estar
mais consciente do cenário atual e, por isso, tem uma visão mais cética”. Para
o especialista não existe uma percepção mais “correta”, visto que, no geral, os
estudantes estão otimistas em relação ao mercado, no entanto, ambos devem
ponderar as escolhas para que não se sintam “na zona de conforto” ou desmotivados
em relação à profissão.
É preciso ponderar...
Segundo
os recrutadores, acompanhar as tendências do mercado pode ser uma estratégia
interessante, no entanto, o estudante também deve considerar sua vocação para
tal área na hora de escolher o curso “Qualquer carreira tem seus altos e
baixos, muitos deles motivados pelo quadro econômico do país. Por isso, por
mais que o estudante se sinta atraído pelos cargos e salários oferecidos por
uma determinada área, precisa refletir sobre seu real interesse em atuar nela
por anos, independente dos benefícios. Se ele não estiver minimamente envolvido
com a realidade da profissão e fizer suas escolhas baseadas apenas nos retornos
materiais, corre o risco de se sentir profissionalmente frustrado” – aponta
Pinheiro.
Tiago
Mavichian ainda cita um exemplo recente do mercado de trabalho brasileiro “Nos
anos de crescimento econômico, há cerca de uma década atrás, o Brasil vivenciou
um déficit de engenheiros, pois a área estava superaquecida e o país precisava
se preparar para receber a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Naquela época, os
cursos de engenharia, principalmente a civil, eram a principal tendência do
mercado. No entanto, anos depois, quando a crise começou a deflagrar no país,
os engenheiros recém-formados encontraram o contrário do que esperavam: ao
invés de um mercado favorável, poucas vagas e desaceleração do setor. Por isso,
por mais que o mercado indique uma carreira em alta, é essencial que o
estudante realmente queira atuar nessa área.”
Estratégia: conhecer a profissão
Para
os estudantes que estão divididos entre tendência e vocação, o estágio ainda é
um dos melhores caminhos para conhecer, na prática, a realidade do mercado. De
acordo com os especialistas, a modalidade – cada vez mais requisitada pelos jovens,
frente a queda das vagas formais – ainda permite que os universitários que
estão desanimados com o curso possam vislumbrar outras vertentes dentro da sua
área, enxergando outras possibilidades de atuação profissional.