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segunda-feira, 11 de junho de 2018

ESCULHAMBAÇÃO GERAL


Começo com uma historinha que sempre lembro para explicar estas nossas tropicais plagas. Há, no mundo, quatro modalidades de sociedade: a primeira é a inglesa, aberta, onde tudo é permitido salvo o que for proibido; a segunda é a alemã, rígida, onde tudo é proibido salvo o que for permitido; a terceira é a totalitária, ultra-fechada, de índole ditatorial, onde tudo é proibido mesmo o que for permitido; e, por último, a brasileira, onde tudo é permitido mesmo o que for proibido.

Querem um exemplo? A última greve dos caminhoneiros, que bloqueou o livre trânsito de pessoas e automóveis e deu prejuízo que alguns estipulam em R$ 60 bilhões até o momento, com consequências sérias sobre a vida das pessoas – educação, saúde, alimentação, serviços etc. O fato é que o país retrocedeu passos em seu avanço civilizatório. Pois bem, multas foram estipuladas, como se viu na decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, de determinar que 96 empresas transportadoras pagassem em 15 dias R$ 141 milhões pelo descumprimento da liminar que determinava o desbloqueio imediato de rodovias.

Depois, o TST determinou que os petroleiros, em greve logo depois, arcassem com multa de R$ 2 milhões por dia.

E o que estamos vendo? A Câmara dos Deputados avalia anistiar as penalidades impostas, na esteira de um projeto de lei que regulamenta o transporte rodoviário de cargas no país e cujo relator é o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP).

Se isso vier de fato a ocorrer, o Brasil mostra sua cara sem retoques: a desmoralização das Cortes judiciárias, a desfaçatez, a hipocrisia dos nossos representantes e, mais, a prova inconteste de que, por aqui, tudo é possível: transgredir a lei e não ser punido, descumprir o ordenamento jurídico do país e, em troca, receber aplausos por conduta ilegal, imoral, restritiva aos valores de nossa democracia. Cai bem sobre nossa fisionomia institucional aquela frase atribuída a De Gaulle  - o Brasil não é um país sério. (A frase, na verdade, é de autoria do embaixador brasileiro na França entre 1956 e 1964, genro do presidente Artur Bernardes, Carlos Alves de Souza Filho, a propósito da “guerra da lagosta”, assunto que envolveu uma pergunta que lhe fez o correspondente do JB em Paris, Luis Edgar de Andrade. O diplomata cochichou aquele dito.)

O fato é que por estas nossas bandas, não é só a corrupção que suja a veste de políticos, governantes e empresários. A lama se espalha em uma enxurrada que agrega um amontoado de futricas, politicagem, grupismo, fisiologismo, desmandos, rasgos da lei maior, a Constituição, malhas intestinas, projetos de lei com foco no corporativismo, domínio de castas, desleixo, incúria, desmandos de todos os tipos.

Se amanhã novas greves surgirem, os grevistas saberão, de antemão, que haverá um político “de espírito cívico” a lhe estender a mão. Não serão punidos. Ganharão loas. Fico imaginando a reação de um alto ministro de nossas Cortes ao ver jogada no lixo do desprezo sua decisão de punir quem não anda nos traçados da lei. Se os malfeitos do nosso cotidiano se multiplicam é porque os “bem-feitores” da representação política mexem com o pauzinho que têm às mãos, a “fazeção de leis”. E que ninguém se assuste com as máfias criminosas que dão ordens de dentro das prisões. A propósito, o faturamento do PCC pode chegar, este ano, a R$ 800 milhões. Grana que dá para eleger uma grande bancada.






Gaudêncio Torquato - jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato


O socialismo é contra você







O país tem uma parte capitalista (o setor privado) e uma parte socialista (o Estado). O Estado vive do que retira da sociedade. Se gasta mais do que arrecada, tem de fazer dívida. Se persiste, tem de aumentar impostos. Na crise, o setor privado (pessoas e empresas) aperta o cinto, reduz gastos e luta para não ir à falência. Já o governo segue inchando, não reduz gastos, seus servidores não perdem o emprego, e a saída é sempre a mesma: mais dívidas e mais impostos.

A Revolução Americana de 1776 foi a revolta do povo contra os impostos cobrados pela monarquia inglesa. Foi a luta pela independência dos EUA. Porém, os norte-americanos sabiam que não ter nenhum governo levaria ao caos, e que a função primária do governo é cuidar da defesa nacional e instituir um sistema judicial. Mas os “pais fundadores” da pátria tinham duas premissas: uma, o governo não deve depender de políticos e burocratas altruístas e angelicais (que não existem); outra, não tinham a intenção de permitir que o governo se tornasse um mecanismo para “roubar” os frutos do trabalho de um homem e dar a outro que não trabalhou para obtê-los.

A Constituição dos Estados Unidos foi elaborada para preservar as liberdades individuais e ter um governo com poderes limitadíssimos. A vida de um indivíduo pode ser vista em duas grandes partes: uma é o espectro de sua liberdade; outra é o espectro de suas ações comandadas por um aparato de coerção e controle, o governo. Os fundadores da nação norte-americana sabiam que quanto mais atribuições fossem dadas ao governo, maiores seriam os impostos, mais fortes seriam os controles sobre a vida das pessoas, e os poderes dos políticos e dos burocratas seriam crescentes. Cada vez mais a vida humana sairia do controle do indivíduo e passaria ao controle do Estado.

Em sua obra O Manifesto Comunista, Marx e Engels propunham a ditadura do proletariado – aquilo que chamavam de “socialismo” –, cuja construção dependeria de três coisas: eliminar o direito de propriedade privada (privar o homem dos frutos de seu trabalho); dissolver a unidade familiar (os filhos não pertenceriam mais aos pais, mas ao Estado); e destruir a religião (que para Marx era o “ópio do povo”). Com a queda do Muro de Berlim e a desintegração do império sanguinário soviético, os socialistas passaram a controlar a vida das pessoas por meio dos impostos, de excessivos poderes governamentais e da estatização de tudo que pudessem, desde o preço do ingresso que um bar cobra de homens e mulheres até que músicas podem ser tocadas no carnaval baiano.

O pai de Pítocles reclamava do excesso de gastos do filho, que vivia lhe pedindo sempre mais dinheiro, e recebeu do filósofo Epicuro o seguinte conselho: “Se queres enriquecer Pítocles, não lhe acrescentes riquezas, diminui-lhe os desejos”. É assim que devíamos agir contra a voracidade do governo, que insiste em crescer, confiscar sempre mais de nossa renda e controlar nossas vidas. A fibra de um povo é tão maior quanto menos ela depende do governo, que no fim das contas é um pai terrível.






José Pio Martins - economista e reitor da Universidade Positivo.


Competitividade: até que ponto ela é saudável para a empresa?


A competitividade é um tema recorrente na maioria das empresas. Normalmente, é ela que garante a alta produtividade e a motivação, engajando as pessoas na busca por resultados cada vez melhores. Segundo uma pesquisa recente feita pela Page Personnel, empresa global de recrutamento especializado em profissionais de suporte à gestão, 90,3% dos entrevistados afirmam que ser competitivo faz bem aos profissionais e às empresas.

Políticas internas que estimulam a competição costumam ser muito bem vistas por colaboradores que almejam maiores desafios na carreira. Planos de incentivo com comissionamento, remuneração meritocrática e fluxos entre áreas, são vistos como boas oportunidades de crescimento. A pesquisa mostra que 40,3% dos profissionais acreditam que a competitividade não é apenas importante, mas necessária para um melhor desenvolvimento profissional e para o sucesso da empresa para a qual trabalham.

No entanto, apesar de ser estimulante e extremamente saudável para o clima organizacional, é preciso muito cuidado com os limites. A linha é bastante tênue. Um ambiente hostil de trabalho, onde as pessoas são capazes de qualquer coisa para chegarem onde querem é nocivo em qualquer companhia. Isso sem contar nos danos causados aos profissionais, de forma individual, que podem inclusive adoecer.

Em casos extremos, a competitividade pode criar um ambiente sem limites, onde vale praticamente tudo para se conquistar as metas. Assim, a porta fica aberta para práticas ilícitas e corrupções de todas as espécies e dimensões. As fofocas ganham espaço e a famosa “puxação de tapete” também.

Um sinal de alerta de que a empresa está tendo mais prejuízos do que benefícios com as estratégias de competitividade é quando os relacionamentos entre as pessoas começa a dar sinais de deterioramento. Quando já não há clima para almoços prazerosos ou happy hours ao final do expediente, é sinal de que algo não vai muito bem.

Outro ponto importante é a rotatividade. Quando muitos profissionais pedem o desligamento da empresa, normalmente é porque a insatisfação com o clima está elevada. Nesses momentos, a área de recursos humanos precisa agir. Competitividade não pode ser confundida com rivalidade. Talvez, as políticas precisem ser revisadas.

Logicamente, há muitas empresas que adotam a competitividade excessiva como cultura. E, não há nada de errado nisso. No entanto, os processos seletivos precisam ter atenção a esse ponto. Pessoas mais colaborativas, tendem a encontrar dificuldades nesse tipo de ambiente. O recrutamento e seleção precisa estar alinhado ao perfil da companhia.

Acima de tudo, a empresa precisa definir suas estratégias e ser coerente com elas. De modo geral, é importante analisar sempre a sustentabilidade das empresas e das suas relações. Pressão extrema para superar metas pode corroer o clima organizacional. Trabalhar apenas a favor do individual pode comprometer os resultados coletivos.







Fernanda Andrade - Gerente de Hunting e Outplacement da NVH – Human Intelligence.

 

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