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quarta-feira, 19 de abril de 2017

Sem final feliz: a devolução da criança pelo adotante



        Reprodução


Estudo avalia o retorno pelo olhar da assistente social


O Brasil tem hoje aproximadamente 40 mil crianças e adolescentes vivendo em abrigos. A violência doméstica, o abandono, a pobreza e a dependência química são um dos principais fatores que levam estas crianças para serviços de acolhimento. Em 2016, o número de adoções foi de 1.226, segundo o Conselho Nacional de Justiça.

A legislação brasileira orienta que a prioridade é a permanência da criança com a família, porém quando ocorre a destituição do poder familiar, o Estado intervêm para garantia dos direitos sociais da criança e esta pode ser encaminhada à adoção.

O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), por meio do Cadastro Nacional de Adoção (CNA), tem em seus registros aproximadamente sete mil crianças e adolescentes cadastrados, vivendo em situação de abrigo. O cadastro apresenta também 39 mil pretendentes habilitados para adotar estas crianças ou adolescentes.

“O problema é que o número de crianças e adolescentes cadastrados no CNA não corresponde à realidade dos abrigos. Há um descompasso muito grande”, diz Angélica Gomes da Silva, assistente social no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, comarca de Uberaba, que defendeu tese de doutorado pela Unesp de Franca, intitulada: Quando a devolução acontece nos processos de adoção: um estudo a partir das narrativas de assistentes sociais no Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

O Cadastro, segundo ela, computa apenas as crianças que já foram destituídas do poder familiar. “Na verdade, temos milhares de crianças que estão vivendo nos abrigos brasileiros e que aguardam decisão judicial para retorno à família de origem ou encaminhamento para adoção”.

Outro dado importante é o número de pretendentes cadastrados no CNA: para cada criança na fila de adoção há cinco famílias interessadas.   O impasse, diz a pesquisadora, é que a maioria dos 39 mil pretendentes à adoção desejam uma criança branca, saudável e com menos de cinco anos, diferentemente dos perfis das crianças que vivem nos abrigos brasileiros, que em sua maioria são negros e pardos, em grupos de irmãos, com mais de seis anos de idade e com deficiências físicas e mentais.  


Adoção: doses de amor e carinho

“Adoção é um processo de construção de vínculos, como em diversas outras experiências de relações humanas”, diz Angélica. O conflito pode estar presente, pode fazer parte de um percurso necessário no estabelecimento da criança em sua nova família.

A pesquisadora trabalhou em sua tese com as dificuldades enfrentadas pelos assistentes sociais com a devolução da criança e do adolescente. “É preciso que as famílias adotivas compreendam que toda criança e todo adolescente encaminhado para adoção vêm de uma história com marcas bastante dolorosas e difíceis, que precisam ser cuidadas a vida toda”.

Por outro lado, os pais adotivos também podem ter suas feridas, e nos encontros possíveis pela adoção, entre “pais e filhos”, elas se expressam de forma mais clara. A intervenção, diante de problemas, pressupõe especialmente a participação das famílias e a busca por apoio e orientação. “Os profissionais precisam compreender o momento de se aproximar e se afastar, com competência técnica, conhecimento teórico e compromisso ético”.


Devolução: um sonho não realizado

“A devolução não é uma experiência rara, infelizmente está presente no cotidiano das comarcas brasileiras”, relata Angélica. Ela conta que este é um problema que precisa ser reconhecido, debatido e publicizado, pois infelizmente, na atualidade, estes dados não são mensurados, nem tratados com a relevância que exigem.

Para o estudo, Angélica entrevistou cinco assistentes sociais que atuam em comarcas nas regiões sul e do triângulo do Estado de Minas Gerais, que relataram suas experiências com devolução de crianças, nos processos de adoção.

Em sua avaliação, ela identificou que a devolução é realizada e encaminhada para o profissional apenas quando a situação alcança um nível insuportável de conflitos entre os pais adotivos e a criança: “com as pessoas bastante marcadas, sofridas e resistentes às intervenções possíveis e necessárias”, diz.

Uma constatação importante da pesquisa são os problemas que o assistente social encontra ao tratar da devolução junto às outras prioridades do seu trabalho como, as demandas de processos, as estruturas precárias, as equipes reduzidas, a falta de profissionais de psicologia e a forte cobrança e pressão que há na hierarquia do judiciário.

Para a orientadora da pesquisa, Ana Cristina Nassif Soares, professora do Programa de Pós-graduação em Serviço Social da Unesp de Franca, a importância do tema se destaca por haver poucas pesquisas na área, além de ser de extrema relevância, uma vez que afeta diretamente crianças e adolescentes devolvidos, adotantes e profissionais que realizam o processo de adoção.

“Angélica consegue, com muita sensibilidade e firmeza, abordar esta questão a partir de narrativas de assistentes sociais judiciárias que estiveram no cerne do processo, o que dá visibilidade ao sofrimento, às angústias e às inquietações das mesmas”, diz.


De que forma é feito o acolhimento?

O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, aprovado em 2006, pelo Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, passou a distinguir duas modalidades de acolhimento: familiar e institucional.

No acolhimento familiar, a criança ficará com uma família que irá ampará-la por um período e, só será encaminhada, quando houver decisão judicial que decidirá se ela irá retornar para sua família de origem ou entrará para adoção. Neste caso, ela terá mais atenção e será melhor cuidada, explica Angélica: “Nada substitui a experiência de se viver em família”.

Já nas instituições de acolhimento, que podem ser casas comuns - com cuidadoras e auxiliares de serviços gerais - ou instituições maiores, que lembram os antigos orfanatos, geralmente são ofertados serviços bons, bem organizados, onde a criança é bem acolhida.

Por outro lado, podemos encontrar estabelecimentos impróprios, com lugares sujos, espaços em que ocorrem violência, abuso e negligência institucional. “Com o discurso de proteção, estes estabelecimentos configuram-se violadores de direitos fundamentais”, diz.

Conforme relatório atual do CNJ, São Paulo é o Estado que mais acolhe no país. Em suas instituições estão abrigadas 1.602 crianças e adolescentes destituídos do poder familiar e 13.626 sem situação legal definida. Depois de São Paulo, o cadastro de acolhidos registra em segundo e terceiro lugar: Minas Gerais, com 4.987; e Rio de Janeiro, com 4.488.


Quando a devolução acontece

Após a devolução, a criança retorna ao serviço de acolhimento e precisa receber apoio profissional para superar esta vivência, que muitas vezes deixa marcas de sofrimento na criança. Posteriormente, ela poderá ser novamente encaminhada à adoção, “com a esperança de que encontre uma família afetiva e disponível para recebê-la. É preciso acreditar que é possível”, conclui. 

A equipe profissional de acompanhamento destes serviços geralmente é formada por assistente social, psicóloga, advogada, pedagoga e administradores.




Maristela Garmes

Fonte: http://www.unesp.br/ 



Um empecilho chamado “imunidade parlamentar”



 Luiz Carlos Borges da Silveira, ex- Ministro da Saúde, explica porque existem tantas dificuldades para condenar políticos

 

O foro privilegiado é um direito adquirido por algumas autoridades públicas e fazem referência a um julgamento especial e particular quando os mesmos são alvos de processos penais. Tal direito é atribuído aos indivíduos que ocupam cargos de alta responsabilidade pública: Presidente da República, Vice-Presidente, Procurador-Geral da República, Ministro e membros do Congresso Nacional. Segundo a Constituição Brasileira, a investigação e o julgamento das infrações penais das autoridades com esse direito passa a ser competência do Supremo. Porém, para o ex-ministro da Saúde e Deputado Federal, Luiz Carlos Borges da Silveira, esse dispositivo acaba retardando a tramitação dos processos e aplicação das penas e cumprimento das sentenças condenatórias em determinados casos.


Segundo Borges da Silveira, um bom exemplo desse empecilho é a própria Operação Lava Jato. “A grande dúvida dos brasileiros quando a operação é justamente isso, por que empresários, executivos e diretores de empresas privadas, assim como da estatal envolvida no escândalo, foram investigados, denunciados e julgados tendo as penas arbitradas e daí levados à prisão, enquanto políticos, alguns com grau de participação semelhante, continuam livres e parlamentares envolvidos exercendo normalmente seus mandatos? O foro privilegiado explica”, comenta.

Já no que se refere a imunidade parlamentar, o ex-ministro explica que essa é outra garantia dada aos parlamentares (senadores, deputados federais, deputados estaduais e vereadores) para que possam exercer as suas funções sem violações ou abusos, atuando com liberdade e independência no exercício de suas atividades sem o risco de serem processados judicialmente. “Diz-se, com certa razão, que se tornou espécie de salvo-conduto em casos de crime comum. Muitos são exemplos de candidatos que lutam de todas as formas para se eleger e assim conseguir o mandato que lhes resguarda de delitos que não são decorrentes de opiniões, palavras e votos”, completa.

Para finalizar, Borges da Silveira alerta que só uma mobilização popular é capaz de fazer com que isso acabe. “Pode parecer utópico, mas seria o momento de se aproveitar os bons ventos de moralização e vontade de passar o país a limpo, para fazer essas mudanças. Boa parte dos males vem do foro privilegiado e da imunidade parlamentar, não será um mudança fácil, porém, se nós tivermos essa vontade de mudar, podemos conseguir, ainda que demore algum tempo”, completa.





No dia mundial da bicicleta, me ajuda a te ajudar



Nossa mais eu suo muito!”. Quem nunca escutou isso ao perguntar se determinada pessoa usa a bicicleta para ir ao trabalho? Neste 19 de abril, comemoramos o dia da bicicleta. Ao mesmo tempo, chegamos em 2017 com um aumento médio de 1,1º C na atmosfera da Terra e cenários de temperatura preocupantes, que podem dificultar mais ainda a vida de quem pedala em várias cidades brasileiras. Porém, isto não acontece por causa dos ciclistas, que tentam reduzir suas emissões se desafiando no trânsito das cidades brasileiras.

A cultura da bicicleta cresceu muito nos últimos anos, fortalecida pelo aumento do número de ciclovias nos principais centros urbanos. Somente em São Paulo, já são 414,5 Km de vias, seis vezes mais do que existiam em 2014. Assim como ela, outras grandes capitais seguem no mesmo ritmo e, junto com esse movimento, o interesse dos cidadãos pela bicicleta tem aumentado. Nos últimos anos somente o Bike Sampa atingiu 627 mil usuários, quase dobrando de 2014 para 2016, enquanto no Metrô, o embarque de passageiros com bicicleta aumentou em 41% em comparação a dois anos atrás. A bicicleta, com todos os problemas de mobilidade, tornou-se uma alternativa barata, sustentável e saudável.

E qual o custo benefício de fazer tantas ciclovias? Em 2016 o Sistema Único de Saúde registrou 11.741 internações com um custo aproximado de R$ 14,3 milhões para os cofres públicos somente com o tratamento de acidentes de trânsito. Os gastos com tratamento de doenças associadas à poluição geram um enorme custo aos centros urbanos. Em São Paulo, o valor gira em torno de R$200 milhões por ano para os cofres públicos estaduais. Se usamos o exemplo de da capital paulista, que gastou em torno de 48,5 milhões para instalar ciclovias, esse retorno a longo prazo mais do que se paga - e isso nem considera os bens associados à produtividade de pessoas nos seus postos de trabalho. As magrelas são muito mais do que uma opção ambiental; é uma questão de saúde pública e de eficiência de gastos públicos.

Ao optar pela bicicleta em detrimento ao carro, faz-se um bem para a sociedade e para a cidade. Atualmente, se consideramos grandes centros urbanos brasileiros, mais da metade das emissões é proveniente do setor de transporte. Porém, somente na cidade de São Paulo os ciclistas que circulam ali, podem reduzir até de 60 toneladas de CO2 eq por dia. Isso corresponde a aproximadamente a emissão de 20 mil carros no mesmo período na região. Além disso, as bicicletas reduzem o espaço necessário para carros e podem também significar mais verde e menos vias asfaltadas. Um carro ocupa quase seis vezes mais espaço que uma bicicleta nas vias urbanas no horário de pico. Ou seja, se você, motorista, vir um ciclista, pense que ele está lhe ajudando.

Por tudo isso, a bicicleta foi eleita como o transporte ecologicamente mais sustentável do planeta pela ONU, mas ainda não é tratada como tal. O Brasil continua sendo um dos países com mais acidentes com bicicletas no mundo, e o ciclista não é respeitado por ser um carro a menos. Segundo o levantamento do Ministério da Saúde, em 2013 tivemos uma média de 32 ciclistas internados por dia, vítimas de acidentes, e aproximadamente 1.357 ciclistas morrem por ano por acidentes no trânsito.

Apesar dos avanços, ainda precisamos reconhecer que mais bicicletas na rua é mais saúde, mais produtividade, economia, menos emissões de gases de efeito estufa, menos tempo no trânsito, mais áreas verdes e menos vias asfaltadas. Precisamos comemorar este dia e reconhecer a importância do ciclista na rua, o ciclista na ciclovia, o ciclista na cidade, afinal aquele ciclista está suando por ele, por você, pela cidade, pelo país e pelo mundo. Neste dia mundial da bicicleta, respeite mais o ciclista. Ajude-o a te ajudar a criar uma sociedade de baixas emissões e mais sustentável e ser parte da solução na sustentabilidade da nossa sociedade.



André Nahur e Ricardo Fujii -coordenador e analista de conservação do Programa Mudanças Climáticas e Energia, respectivamente, e apaixonados por bikes.
WWF-Brasil



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