Um
casal que opta ter um bebê deseja a notícia da gravidez o mais rápido possível.
No entanto, estimativas apontam que mesmo sendo saudáveis, mantendo relações
sexuais regulares sem método anticoncepcional, a chance de engravidar é em
torno de 20%. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casais que não usam
métodos contraceptivos durante 12 meses e não conseguem engravidar podem ser
inférteis. Para mulheres acima de 35 anos, o recomendado é avaliação com 6
meses de tentativas infrutíferas. Após esse período, conforme recomenda a
Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), o indicado é que casal
procure um médico especialista para realizar exames e fazer uma investigação
detalhada do problema a fim de confirmar o diagnóstico, identificar as causas e
o tratamento mais adequado.
“Conhecer
as causas da infertilidade, saber como lidar com a descoberta e ter a quem
recorrer para conseguir apoio é fundamental para conduzir o processo de busca
por uma solução”, afirma o médico creditado pela SBRA, Matheus Roque. Ele
recomenda que a mulher, com idade igual ou superior a 35 anos, busque
assistência após seis meses de tentativas malsucedidas de engravidar.
De
acordo com o especialista, o casal não deve perder tempo. Assim que tiver
indícios de infertilidade deve procurar um médico especialista em reprodução
humana. O profissional capacitado fará toda a investigação necessária para
identificar as causas e apontará as melhores alternativas para solucionar o
problema. Entre as alterações iniciais que apontam para o problema estão a
endometriose, infecção pélvica prévia, menstruações irregulares, síndrome dos
ovários policísticos, entre outros. Atualmente, a idade da mulher é um dos
principais fatores associados à dificuldade de gravidez, uma vez que o avançar
da idade (principalmente após os 35 anos) faz com que a quantidade e qualidade
dos óvulos diminua progressivamente, resultando em menores chances de gravidez,
incrementando os riscos de aborto e doenças genéticas.
Causas
- Estatísticas da OMS mostram que 50 a 80 milhões de pessoas em todo o mundo
podem ser inférteis. No Brasil, esse número chega a cerca de 8 milhões. As
causas da infertilidade são diversas e podem ser femininas, masculinas ou
devidas à associação de dificuldades dos dois componentes do casal.
Atualmente,
é estimado que cerca de 35% dos casos de infertilidade estão relacionados à
mulher, cerca de 35% estão relacionados ao homem, 20% a ambos e 10% são
provocados por causas desconhecidas. No entanto, a maior parte é perfeitamente
tratável. Por isso, o sonho da maternidade ou paternidade é possível para a
maioria.
Para
Matheus Roque, a informação é o primeiro passo para o casal enfrentar o
problema. “Muitos casais chegam ao meu consultório com medo da infertilidade e
frustrados após alguns meses de tentativa, sem saber que ainda há muitas
alternativas pela frente e que, na grande maioria dos casos, a gravidez será
alcançada com uma ajudinha menor ou maior da medicina ou com as técnicas de
reprodução assistida”, revela.
Diagnóstico
e tratamento - Segundo o especialista, o diagnóstico de infertilidade é um
momento difícil e que causa sofrimento ao casal, podendo gerar apreensão,
ansiedade e frustração. “Com a assistência adequada, a grande maioria dos
casais pode vencer esses obstáculos e realizar o sonho de formar uma família.
Saber lidar com o diagnóstico é fundamental para encontrar o tratamento mais
apropriado e minimizar o desgaste emocional que ele pode causar”, afirma Roque.
A
evolução dos tratamentos de reprodução assistida tem possibilitado o surgimento
de novas técnicas que tem propiciado esperança para quem deseja realizar o
sonho de completar a família. Abaixo, o especialista da SBRA aponta os
principais tratamentos para infertilidade e as taxas de sucesso de cada caso:
-
Indução da ovulação com namoro programado: indicado para mulheres com
distúrbios de ovulação. Trata-se da utilização de hormônios para estimular o
ovário a produzir um óvulo na época fértil, que deve coincidir com o namoro
programado nesse período.
-
Inseminação intrauterina: técnica na qual o médico transfere os
espermatozoides previamente tratados e selecionados em laboratório para o
útero, cerca de 24-36 horas após o pico do hormônio responsável pela ovulação.
É indicada em casos nos quais há distúrbios de ovulação, endometriose leve,
alterações seminais discretas, sempre com a presença de pelo menos uma trompa
funcionando adequadamente (avaliada habitualmente pela histerossalpingografia).
Sua taxa de sucesso varia conforme a idade da mulher, porém inferior a 20% a
cada ciclo de tratamento.
-
Fertilização in vitro clássica ou convencional: Inicia-se com a estimulação
ovariana para que a mulher amadureça mais folículos e sejam coletados o máximo
óvulos maduros. A coleta é feita por um procedimento que se chama aspiração
folicular, feita por ultrassonografia transvaginal sob sedação e dura em média
10-15 minutos. Após a aspiração folicular é feito o tratamento seminal em
laboratório, onde serão separados os espermatozoides mais saudáveis para
fertilizar os óvulos aspirados. A seguir, cada óvulo é colocado em uma cultura
que contém em torno de 40 mil espermatozoides capacitados para que ocorra a
fecundação espontânea. Depois dessas etapas, acompanha-se o desenvolvimento
celular dos óvulos fecundados. Os melhores embriões são transferidos para o
útero da paciente, com a expectativa de iniciar a gestação, ou então
podem ser congelados. É um método que obtém até 60% de gravidez, em cada
transferência embrionária. O resultado também é dependente da idade da mulher e
indicado para casais que já tentaram outras alternativas ou que são
impossibilitados de obter uma gravidez naturalmente ou por meio de outras
técnicas.
-
Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI): uma técnica de FIV na
qual os procedimentos iniciais, como a estimulação, aspiração, coleta e
tratamento de espermatozoides, são idênticos a fertilização in vitro clássica.
O que diferencia essa técnica é que o espermatozoide é injetado diretamente
dentro do óvulo por meio de uma agulha seis vezes mais fina que um fio de
cabelo. É a micromanipulação, uma variação da fertilização in vitro indicada
para casos onde os fatores masculinos são severos, a idade da mulher é mais
avançada, após congelamento de óvulos na preservação.
-
Mini Fertilização in vitro (Mini-FIV): uma técnica de FIV na qual na 1a etapa
do tratamento (estimulação ovariana) doses mais baixas de hormônios são
utilizadas e obtém-se uma quantidade menor de óvulos ao final do processo.
Devido ao menor gasto com os hormônios, essa técnica é mais barata que a FIV
clássica, embora isso limite o número de embriões que serão formados e, assim,
reduza a chance de sucesso do tratamento.
-
Doação de óvulo (ovodoação): Quando a mulher não produz mais óvulos, seja pela
menopausa ou pela destruição do tecido ovariano em tratamentos médicos
(quimioterapia ou cirurgias ovarianas complexas), quando já se submeteu a
diversos tratamentos com os próprios óvulos e não teve sucesso, ou quando se
trata de um casal homoafetivo masculino, é necessário o uso de óvulos doados.
Todo o processo é feito de forma anônima por meio da clínica de reprodução que
busca uma doadora que preencha os requisitos legais e seja compatível com o
fenótipo (aparência física) desejado pelo casal. Uma vez que os óvulos são
obtidos, segue-se o procedimento padrão da fertilização in vitro com utilização
do sêmen do parceiro ou de um banco de sêmen para a fecundação e transferência
dos embriões para o útero da mulher que vai gerar a criança. A transferência
dos embriões para o útero materno é realizada após alguns dias de preparo do
endométrio da mãe, que normalmente é realizado através de hormônios por via
oral, transdérmico e vaginal. A chance de sucesso é estimada em até 60% por
transferência embrionária.
-
Doação de espermatozoide (banco de sêmen): Quando o homem não produz
espermatozoides ou trata-se de um casal homoafetivo feminino, é necessário
utilizar espermatozoides doados anonimamente, que poderão ser utilizados tanto
para a realização de uma inseminação artificial quanto de uma FIV. Nesses
casos, os pacientes deverão recorrer aos bancos de sêmen. No Brasil, devido
algumas restrições legais e também nosso contexto cultural, existem poucos
bancos de sêmen. Porém, hoje é possível obter amostras de bancos de sêmen do
exterior, de maneira legal e sem grandes dificuldades. A chance de sucesso
depende do tratamento a ser realizado (Inseminação intrauterina ou FIV) e da
idade da mulher.
-
Gestação de substituição / doação temporária de útero: O útero de substituição
é necessário quando o órgão da mulher apresenta alguma condição que prejudica a
implantação do embrião ou impede a progressão da gestação, quando a mulher
apresenta alguma condição clínica que a impeça de engravidar ou torne a
gestação de alto risco, assim como quando se trata de um casal homoafetivo
masculino. No Brasil, é necessário que a mulher doadora seja uma parente de até
quarto grau (mãe, irmã/avó, tia, prima, filha ou sobrinha), saudável, que
esteja fazendo a doação por pura solidariedade ao casal, sem qualquer
recompensa financeira. O resultado depende da idade da mulher que gerou os
óvulos e não da mulher que doará o útero temporariamente. A chance de sucesso
são as mesmas da fertilização in vitro, variando de acordo com a idade da
mulher.
-
Teste genético pré-implantacional (PGT): é feito quando o casal apresenta
alguma doença genética ou seja carreador do gen anormal e deseja selecionar os
embriões livres da doença antes da implantação no útero para que a gravidez
gere uma criança saudável. Mesmo que o casal não apresente nenhuma doença, o
teste pode ser realizado como “screening” genético para a seleção de embriões
saudáveis a serem transferidos ao útero da mulher. Esse processo é possível por
meio da análise genética de uma/algumas célula(s) do embrião após o processo tradicional
de coleta e fertilização in vitro, podendo diagnosticar diversas doenças antes
da transferência embrionária. No PGT como forma de “screening”, não se procura
uma doença específica, mas sim, é feita uma análise completa do embrião com
relação ao número de cromossomos. O objetivo é que seja selecionado um embrião
geneticamente normal para ser transferido ao útero da paciente. Ainda é um tema
controverso na medicina reprodutiva com relação a quais pacientes devem
realizá-lo ou mesmo se deveria ser utilizado de maneira rotineira para todas as
pacientes submetidas à FIV.