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quinta-feira, 26 de abril de 2018

Que tempos são esses?


Há pouco mais de um mês, aqui mesmo em Curitiba, a convite da UNESCO, tive a oportunidade de encontrar com outros pensadores e discutir sobre o Futuro da Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Frente à minha trajetória de mais de vinte anos trabalhando com educação, alguns pontos abordados naquele encontro me levaram a repensar a questão.

Em tempos de globalização, nosso cotidiano é carregado por uma avalanche de informações. Reviravoltas políticas, crises humanitárias, mudanças econômicas, acidentes naturais, novidades tecnológicas formam um turbilhão de notícias que preenchem nossas mentes, não nos deixando refletir sobre que tempos são esses.

Quando pensamos em educação, os dados assustam. São tempos em que o Brasil está no grupo dos 10 piores sistemas educacionais, com alarmantes 2,5 milhões de crianças e jovens fora da escola. Tempos em que somos a 56ª nação no ranking que avalia o desempenho dos países quanto aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ficando atrás de nossos vizinhos Argentina, Chile e Uruguai. Tempos em que é preciso que uma menina de 20 anos, Muzoon Almellehan, refugiada Síria, relembre ao mundo que “a educação é a melhor arma para nos ajudar a lutar por nossos direitos e alcançar nossos sonhos”.

As articulações desenhadas naquele encontro deixam claro que existe um real interesse e uma forte movimentação que almeja evoluir de forma mais prática em projetos que objetivam tornar a educação não só acessível às diversas camadas da sociedade, mas garantir sua qualidade e capacidade de promover mudanças positivas. Nesse sentido, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável - ou Agenda 2030 da ONU – ressaltam a necessidade da promoção de uma educação inclusiva, igualitária e baseada nos princípios de direitos humanos e do desenvolvimento sustentável.

Não considerando apenas os anos primários, mas dedicando atenção especial também à educação técnica, profissional e superior no sentido de desenvolver nos jovens e adultos habilidades e competências à altura das demandas da era de inovação em que vivemos. Como membro do Pacto Global desde 2004 e participante da força tarefa que traçou os Princípios para a Educação Executiva Responsável - ambas iniciativas da Organização das Nações Unidas – compartilho de verdadeiro desafio que consiste em aproximar as escolas das empresas.

A educação para a liderança globalmente responsável exige dedicação, aculturamento, constante demonstração e valorização de resultados intangíveis. Alinhar os discursos entre o que é pauta nas escolas e universidades e as práticas corporativas é primordial para alcançarmos uma sociedade mais engajada e atenta aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Falar em educação do futuro é pensar e promover a capacitação e o empoderamento para novos tempos. Mais que isso, a educação para o desenvolvimento sustentável é a ponte para estilos de vida sustentáveis e para o alcance de outros fatores fundamentais como os direitos humanos, a igualdade de gênero, a promoção de uma cultura de paz e não-violência, a cidadania global e a valorização da diversidade cultural.

A educação tem o poder de transformar realidades e mudar o curso da história. É fundamental para a construção de um mundo mais justo e sustentável. Um mundo fundamentado em um novo tempo que independe exclusivamente de questões financeiras e interesses individualistas. Um tempo em que a educação seja, verdadeiramente, prioridade. Nos discursos políticos é pauta sempre presente, porém na prática, muitas vezes, acaba desvalorizada e esquecida em detrimento a outros interesses.

Em tempos de engajamento social, acompanho o clamor cada vez mais forte da população por mais atenção à educação. Porém, é tempo de evoluir e transformar a realidade do Brasil. A sociedade demanda por respostas mais contundentes e exige mudanças reais.






Norman de Paula Arruda Filho - Presidente do ISAE – Escola de Negócios, conveniado à Fundação Getulio Vargas, professor do Mestrado em Governança e Sustentabilidade do ISAE/FGV, e Coordenador do Comitê de Sustentabilidade Empresarial da Associação Comercial do Paraná (ACP).

Em 2018, o SUS completa 30 anos. Temos o que comemorar?


Criado pela Constituição “Cidadã” de 1988, a qual assegurou acesso universal ao sistema de saúde para todos os cidadãos brasileiros, imputando ao Estado o dever de promover ações que visem mitigar os riscos de doenças, bem como garantir a sua promoção, preservação e recuperação, o SUS completa esse ano suas três décadas, com grandes conquistas, mas muito a ser feito para alcançar os propósitos humanitários da Constituinte estabelecida no final da década de 80.

Teoricamente, é o maior sistema do mundo de acesso universal ao tratamento gratuito da saúde, com assistência a mais de 160 milhões de brasileiros - visto que apenas pouco mais de 40 milhões (ou 20%) se valem do sistema suplementar ou particular. O Brasil é, na verdade, o único país com mais de 100 milhões de habitantes que propicia essa assistência universal e gratuita à totalidade da população. Ao todo, em 2016, foram realizadas mais de 11,3 milhões de internações (contra 7,9 milhões do sistema privado) no País. O SUS dispõe de 336 mil leitos, enquanto o sistema privado se vale de 158 mil. O SUS realiza cerca de 2,1 milhões de partos por ano, contra 800 mil da iniciativa privada.

A expectativa de vida do brasileiro cresceu nesse período de 69,7 para 73,1 anos. A mortalidade infantil diminuiu de 53,7 para 21,17 mortos para cada mil nascidos vivos. O número de usuários atendidos pelo sistema foi ampliado dos 30 milhões iniciais para mais de 160 milhões atualmente.

Não obstante, encerramos o ano de 2017, com 904 mil pessoas na fila, aguardando por uma cirurgia. Desses, 83% estão na fila há mais de dois anos e 1,4% há mais de dez anos aguardando por algum procedimento.

Contudo, de todos os países que adotaram um sistema universal de saúde, o Brasil é o que menos investe. O Reino Unido investe 16,57% de suas riquezas em saúde pública, sendo que 83,41% de todos os investimentos no setor são públicos. O Canadá investe 18,77% de seu PIB, bancando 70,9% de todos os gastos no setor. A Suécia banca 84,03% dos gastos totais em saúde, com um investimento correspondente a 19,03% do seu PIB. A França investe 15,69% do PIB, bancando 78,21% dos gastos com a saúde da população. No Brasil, essa relação é vergonhosa. O Estado brasileiro investe apenas 6,7% do PIB em saúde, bancando apenas 44,25% dos gastos em saúde pública.

No orçamento de 2018, a União reservou R$ 119,2 bilhões para a saúde, o que representa um investimento de míseros R$ 573,90 por ano por habitante, ou seja, R$ 1,57 por dia. Comparativamente, o Reino Unido gasta 3.600,00 libras por habitante anualmente. A Austrália, por exemplo, investe US$ 4,5 mil dólares. Até a nossa pobre vizinha, a Argentina, investe US$ 995 anualmente para cada habitante.

Não bastasse um investimento muito aquém do mínimo necessário, o Brasil ainda investe mal. Cerca de 35% do total dos investimentos são desperdiçados nos drenos da corrupção, do superfaturamento, do desperdício e do uso inadequado dos insumos e medicamentos.

Como se vê, não há muito que ser comemorado nessas três décadas. Precisamos, sim, rever os investimentos para garantir real acesso universal à saúde a todos os indivíduos brasileiros.


Raul Canal - Advogado, presidente da Anadem (Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética), da Asbraf (Associação Brasileira de Franqueados), da AAAPV (Agência de Autorregulamentação das Associações de Proteção Veicular e Patrimonial), do Supremo Conselho Internacional Acadêmico da ALACH (Academia Latino-Americana de Ciências Humanas) e autor das obras "O pensamento jurisprudencial brasileiro no terceiro milênio sobre erro médico" e "Erro médico e judicialização da medicina".

Suicídio de jovens no Brasil ? Uma questão que deve ser tratada com cuidado!



 A morte prematura de adolescentes abalou, pela terceira vez neste ano, a comunidade escolar da Grande São Paulo. Somente em abril, três casos de suicídio chocaram pais, professores e alunos de dois colégios renomados da rede privada de ensino da capital paulista. Além de provocarem comoção nas redes sociais, os casos levantam um tema que precisa ser discutido mais a fundo dentro e fora do ambiente escolar: o suicídio na adolescência.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a taxa de suicídio da população entre 15 e 29 anos aumentou quase 10% no Brasil, entre 2002 e 2014. O número equivale a 5,6 casos a cada 100 mil habitantes. Pesquisa inédita feita em 2017 pelo Ministério da Saúde revela que o suicídio é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos.

Para entender mais a fundo o drama do suicídio entre jovens, conversamos com a Neuropsicóloga Adriana Fóz, Diretora Clínica da Unidade Integrativa do Hospital Santa Mônica. Veja o que ela tem a dizer sobre o suicídio na adolescência:


A primeira reação ao recebermos notícias de suicídio entre jovens é sempre o choque, mas esses casos vêm se tornando cada vez mais comuns. A que se deve esse aumento?

Em primeiro lugar, precisamos entender a prevalência desses casos no Brasil e no mundo. No Brasil, os casos de suicídio são mais comuns entre a população de baixa renda, muitas vezes devido à falta de dinheiro. O suicídio entre índios e idosos também é mais comum.

Então, temos sempre que ver as coisas com responsabilidade. Não trata-se de uma epidemia, o que chama a atenção é que estão aumentando, sim, os casos de suicídio na adolescência e na primeira fase adulta. Só que essa não é a maior prevalência entre suicídios no Brasil. Esse é um dado que precisa ser levado em conta. Esse é um dado que precisa ser levado em conta para que pais e escolas não entrem em ?pânico?.


Como identificar tendências suicidas entre adolescentes?

O primeiro passo é ver se o jovem está muito isolado. Não permitir que ele fique sempre trancado dentro do quarto. Ele pode ter a privacidade dele, mas de vez em quando os pais devem ter acesso a esse quarto (o quarto é dele, mas a casa é dos pais). Não é que ele vai abrir o diário desse jovem. Mas é entrar no quarto, conversar, ver com quem ele está falando, perceber suas reação. 

Conectar-se com seu filho(a).

O segundo passo é ver com quem esse jovem está andando, quais são seus interesses, se eles são mais ?escuros?, voltados para atividades muito tristes, violentas ou de isolamento, por exemplo. É importante não estigmatizar, tipo: aquele que só usa preto pode ser um candidato. Estar atento para os sinais,  para a relação com coisas depressivas: vestir apenas preto, não tomar sol, ficar sempre escondido em um capuz, apresentar-se constantemente irritadiço.
Também é importante se atentar para coisas que fogem ao comportamento comum. Não quer dizer que todos os sinais alertam para um problema. Mas tudo que foge ao comum chama atenção.

E não precisa necessariamente chamar atenção para aquele que vai anunciar a sua morte. Existem jovens que falam: ?eu vou me matar?, e nós da Ciência da Saúde nunca devemos menosprezá-los.  Mas também devemos ficar atentos àqueles que estão quietinhos. Àqueles que você fala ?nossa, que bonzinho?, ?ele faz tudo direitinho, não dá trabalho, fica quietinho na classe, não aborrece ninguém?. Esse jovem também precisa de atenção.

São alguns sinais que a gente vê que são diferentes. Isso não significa que eles podem levar ao suicídio, mas são indicativos que demandam atenção. E é esse o papel da escola e dos pais.

E se houver dúvida, depois de conferir com a escola, leve a um psiquiatra. Um profissional competente vai conversar, tirar algumas dúvidas. 

Independentemente desse jovem apresentar o quadro suicida ou não, é sempre bom ter informação e afeto. Mostrar que está sempre próximo para poder ouvir. Os jovens precisam ser ouvidos, com o coração e inteligência.


Que postura as escolas devem adotar diante de casos como esses?

As famílias, as escolas e a comunidade precisam se unir em prol de tratar esse assunto com responsabilidade e com competência. O que significa isso? Significa que é preciso haver mais espaço de discussão.

Esse assunto precisa ser abordado, mas em uma discussão sem medo. A maior preocupação que tenho agora não é nem com as escolas, porque elas vão buscar profissionais para fazerem rodas de conversa, para orientar seus funcionários e alunos.

A minha preocupação é com os pais. Porque eles não têm tanta informação, e hoje já ficam à mercê dos seus filhos. Já dizem ?amém? quando o filho fica 5 minutos com eles.

Eu tenho preocupação com esses pais que vão temer que seus filhos, por qualquer motivo, vivam uma situação como essa. São esses que a gente precisa dar muita informação e orientação.


Mas como os pais devem tratar do tema no ambiente familiar?

É importante que eles procurem informações relevantes e que eles não fiquem à mercê de fofocas. É preciso entender o que de fato está acontecendo. Cada jovem é um jovem, não dá para generalizar.  Mesmo esses dois casos, na mesma escola, não foram motivados pelos mesmos fatores. Então, é preciso cautela.

Pais devem entender que o jovem precisa ter mais espaço, e isso não significa necessariamente ser mimado. Estou falando de espaço de comunicação, de perguntas e respostas, de maior autonomia. E autonomia se constrói com limite, com responsabilidade.

É importante ainda que a família incentive que o filho tenha sempre um adulto de referência, que pode ser um tio, uma tia, um irmão mais velho que seja bacana, um professor. Isso é muito importante. Porque às vezes, por mais que eles sejam bons pais, é da natureza do adolescente manter-se mais distante dessa figura paterna.

E isso não quer dizer que o pai está errado, que ele é careta. Se é possível incentivar uma relação mais estreita com outra pessoa com quem esse jovem possa se abrir, fazer perguntas, essa é uma estratégia bem interessante.
O esporte e ter hobbies são muito importantes.


Que mudanças podem ser feitas no ambiente escolar para que casos assim não se repitam?

São duas coisas: os pais precisam ver se os filhos estão com o perfil adequado para aquela escola, se de repente ele não está sofrendo com a metodologia adotada pela instituição. E a escola também precisa rever se ela não está exigindo muito dos alunos em prol de indicadores de desempenho. É preciso se atentar para uma realidade em que de repente eles estão só estudando, mas não há uma área social, de lazer, cultura etc.

Por isso a importância das escolas se prepararem para vivencias, treinar, possibilitar a  aprendizagens socioemocionais. Isso não é uma coisa só pra enfeitar a Base Nacional Comum Curricular. Isso é realidade, é necessidade.

A gente não precisa esperar o jovem se tornar adolescente para treinarmos essas competências de ele se sentir importante, ter autogentileza, autocuidado. 

Porque o cuidado de si próprio vai distanciar esse jovem de um possível suicídio.

 E esse autocuidado vem junto da autoestima. E não é aquela autoestima em que o pai fala ?meu filho é maravilhoso, tudo dele é ótimo?. É aquela autoestima construída pelo jovem, que ele faz e conquista mediante as suas atitudes.


A pressão escolar pode interferir nesses quadros de suicídio? Que medidas devem ser tomadas nesse sentido?

Não é diminuir a exigência nos estudos. A escola pode ser exigente, mas eu acho que elas terão que rever o quanto estão exigindo dos seus jovens. Para que você vai querer que uma criança com cinco anos de idade aprenda, leia e escreva textos de filósofos? Não tem sentido. A criança de cinco anos precisa brincar com as letras, com as palavras, descobrir como ela pode filosofar. Então eu acho que isso é um grande ?chacoalhão? para que a gente repense quais são as exigências que são competentes também.

É importante que a gente fique mais próximo do que o jovem está podendo conquistar. É por isso que você exigir demais de um jovem não é bom. E exigir de menos também não é, porque assim você não tem conquista, motivação.
Se você não tem conquista positiva, se uma escola exige muito mais daquele jovem do que ele tem condição, não enxergando esse lado emocional, pode causar sofrimento. E se a família não está tão atenta às estratégias,e a escola também não, corre-se mais risco.

Com a reestruturação da Base Nacional Comum Curricular, as escolas estão vendo a necessidade dessa abordagem socioemocional. Os maiores estudiosos do assunto mostram que, hoje, a escola tem que dar menos conta do conteúdo em si, e mais de como o conteúdo chega ao jovem. Então o papel da escola está mudando muito também. E por isso sobra espaço para que eles trabalhem o socioemocional com os alunos, e isso é fundamental.

Como elementos como o bullying podem interferir nesse quadro?

Uma criança que está sempre se sentindo tolhida, menosprezada, por mais que isso não vá desenvolver uma depressão, é um sofrimento que não tem sentido. Frustração faz parte, sofrimento não. E os pais precisam estar atentos a esses sinais, eles precisam se informar da vida dos seus filhos. Mais uma vez, aqui, a comunicação e a transparência também são essenciais.




Fonte: Adriana Fóz - neuropsicóloga e Diretora Clínica da Unidade Integrativa Santa Mônica


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