Ondas de calor,
mente acelerada e noites fragmentadas são queixas comuns de mulheres na
perimenopausa e menopausa. Especialistas explicam as causas, os impactos para a
saúde e carreira e apontam caminhos para recuperar noites mais longas e
restauradoras 
De acordo com o especialista, a queda do estrogênio e
da progesterona mexe profundamente na regulação do sono
Divulgação
De acordo com Charles Betito, a queda do estrogênio e da progesterona mexe profundamente na regulação do sono
Às três da manhã, a casa está silenciosa, mas a
mente não. Para muitas mulheres depois dos 45 anos, a madrugada virou um teste
diário. Os sintomas são: ondas de calor, suor que molha o lençol, pensamentos
que não param. O parceiro dorme; o relógio segue em frente. O que parecia uma
“fase” é, para muitas, um problema comum e pouco falado. No Brasil, pelo menos
sete em cada dez mulheres entre 45 e 65 anos no climatério, que inclui
pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, relatam sintomas de insônia.
De acordo com Charles Betito, especialista em
sono e saúde mental, a queda do estrogênio e da progesterona mexe profundamente
na regulação do sono. “O corpo muda, a temperatura oscila, e a mente parece não
desligar. Não é impressão, é biologia em ação”, explica.
Os efeitos vão além do desconforto noturno. Dormir
mal de forma persistente aumenta o risco de doenças cardiovasculares, déficit cognitivo,
alterações de humor e até envelhecimento biológico acelerado. Um estudo recente
publicado na revista científica norte-americana Circulation
mostrou que mulheres que enfrentam insônia contínua na meia-idade têm maior
risco de infarto e AVC no futuro.
Além da saúde, há impactos sociais e profissionais.
A perimenopausa acontece justamente quando muitas mulheres estão no auge da
carreira e acumulam responsabilidades familiares. “O que muitas mulheres não
sabem é que noites ruins nessa fase da vida não são apenas um detalhe, custam
caro para a saúde e para a carreira, reforça Betito.
Porém, há como virar o jogo utilizando técnicas e
tratamentos testados e comprovados, como indica o Dr. Ricardo Eid, médico do
Esporte. Veja alguns deles:
- Técnicas
comportamentais: Algumas técnicas para insônia têm efeito duradouro em mulheres na
transição da menopausa e incluem pilares simples: usar a cama apenas para
dormir e intimidade, ficar na cama apenas pelo tempo médio que você
costuma dormir, evitando deitar muito antes de ter sono, reestruturar
pensamentos que aumentam a ansiedade, praticar relaxamento antes de deitar
e adotar hábitos de higiene do sono, como evitar cafeína à noite, buscar
luz natural pela manhã e manter rotina regular de horários.
- Mindfulness:
Práticas
de atenção plena não eliminam as ondas de calor, mas diminuem o incômodo,
melhoram o humor e reduzem a ansiedade. Também ajudam a quebrar o ciclo
“acorda, preocupa e perde o sono”. Ensaios feitos no Brasil e em outros
países mostram melhora do sono e da qualidade de vida após oito semanas de
prática estruturada.
- Terapia
hormonal: Quando
indicada por especialistas, a terapia hormonal continua sendo o tratamento
mais potente para sintomas vasomotores (como ondas de calor), desde que
bem indicada. “Em geral, tem melhor relação entre benefícios e riscos
quando iniciada antes dos 60 anos ou até dez anos após a menopausa, e sem
contraindicações. A dose, o tipo de hormônio e a forma de uso fazem
diferença. A decisão deve ser individualizada e revisada periodicamente”,
destaca Eid.
- Alternativas
não hormonais: “Para quem não pode ou não deseja usar hormônios, os tratamentos
atuais incluem, para sintomas vasomotores, alguns medicamentos como
inibidores seletivos da recaptação de serotonina, inibidores da recaptação
de serotonina e noradrenalina, gabapentina e clonidina”, destaca do
médico. Ainda de acordo com ele, a escolha exige avaliação cuidadosa dos
efeitos e interações. Para o sono, se forem usados remédios para induzir,
que seja com cautela, por tempo limitado e sempre junto de técnicas
comportamentais e acompanhamento médico.
- Ambiente
adequado: Se
você acorda devido ao calor, deixe o quarto mais fresco (entre 18 e 20
graus), com boa ventilação e roupa de cama leve. Reduza luzes e telas à
noite e busque luz natural pela manhã. As diretrizes recomendam sete horas
ou mais de sono por noite. Deitar e acordar em horários parecidos,
inclusive no fim de semana, melhora marcadores do coração e do
metabolismo.
“A perimenopausa não é uma sentença de noites
mal dormidas. É uma janela de ajuste entre corpo, hábitos e ambiente. Com
ciência aplicada e bons protocolos, é possível recuperar o sono e devolver
qualidade de vida às mulheres”, afirma. Para Betito, é hora de romper tabus e
tratar o sono feminino como prioridade de saúde pública. “O sono é o melhor
remédio que ninguém receita. Depois dos 45, ele continua sendo vital, mas
precisa de acompanhamento e estratégia para voltar a ser fonte de descanso
verdadeiro”, enfatiza.
YouTube - Instagram - Linkedin
Nenhum comentário:
Postar um comentário