Pesquisar no Blog

terça-feira, 28 de outubro de 2025

Por que o sono se tornou o pior pesadelo das mulheres com mais de 45 anos?

De acordo com o especialista, a queda do estrogênio e
da progesterona mexe profundamente na regulação do sono
 Divulgação
Ondas de calor, mente acelerada e noites fragmentadas são queixas comuns de mulheres na perimenopausa e menopausa. Especialistas explicam as causas, os impactos para a saúde e carreira e apontam caminhos para recuperar noites mais longas e restauradoras 

 

De acordo com Charles Betito, a queda do estrogênio e da progesterona mexe profundamente na regulação do sono 

 

Às três da manhã, a casa está silenciosa, mas a mente não. Para muitas mulheres depois dos 45 anos, a madrugada virou um teste diário. Os sintomas são: ondas de calor, suor que molha o lençol, pensamentos que não param. O parceiro dorme; o relógio segue em frente. O que parecia uma “fase” é, para muitas, um problema comum e pouco falado. No Brasil, pelo menos sete em cada dez mulheres entre 45 e 65 anos no climatério, que inclui pré-menopausa, menopausa e pós-menopausa, relatam sintomas de insônia. 

De acordo com Charles Betito, especialista  em sono e saúde mental, a queda do estrogênio e da progesterona mexe profundamente na regulação do sono. “O corpo muda, a temperatura oscila, e a mente parece não desligar. Não é impressão, é biologia em ação”, explica.

Os efeitos vão além do desconforto noturno. Dormir mal de forma persistente aumenta o risco de doenças cardiovasculares, déficit cognitivo, alterações de humor e até envelhecimento biológico acelerado. Um estudo recente publicado na revista científica norte-americana Circulation mostrou que mulheres que enfrentam insônia contínua na meia-idade têm maior risco de infarto e AVC no futuro.

Além da saúde, há impactos sociais e profissionais. A perimenopausa acontece justamente quando muitas mulheres estão no auge da carreira e acumulam responsabilidades familiares. “O que muitas mulheres não sabem é que noites ruins nessa fase da vida não são apenas um detalhe, custam caro para a saúde e para a carreira, reforça Betito.

Porém, há como virar o jogo utilizando técnicas e tratamentos testados e comprovados, como indica o Dr. Ricardo Eid, médico do Esporte. Veja alguns deles:

  • Técnicas comportamentais: Algumas técnicas para insônia têm efeito duradouro em mulheres na transição da menopausa e incluem pilares simples: usar a cama apenas para dormir e intimidade, ficar na cama apenas pelo tempo médio que você costuma dormir, evitando deitar muito antes de ter sono, reestruturar pensamentos que aumentam a ansiedade, praticar relaxamento antes de deitar e adotar hábitos de higiene do sono, como evitar cafeína à noite, buscar luz natural pela manhã e manter rotina regular de horários.
  • Mindfulness: Práticas de atenção plena não eliminam as ondas de calor, mas diminuem o incômodo, melhoram o humor e reduzem a ansiedade. Também ajudam a quebrar o ciclo “acorda, preocupa e perde o sono”. Ensaios feitos no Brasil e em outros países mostram melhora do sono e da qualidade de vida após oito semanas de prática estruturada.
  • Terapia hormonal: Quando indicada por especialistas, a terapia hormonal continua sendo o tratamento mais potente para sintomas vasomotores (como ondas de calor), desde que bem indicada. “Em geral, tem melhor relação entre benefícios e riscos quando iniciada antes dos 60 anos ou até dez anos após a menopausa, e sem contraindicações. A dose, o tipo de hormônio e a forma de uso fazem diferença. A decisão deve ser individualizada e revisada periodicamente”, destaca Eid.
  • Alternativas não hormonais: “Para quem não pode ou não deseja usar hormônios, os tratamentos atuais incluem, para sintomas vasomotores, alguns medicamentos como inibidores seletivos da recaptação de serotonina, inibidores da recaptação de serotonina e noradrenalina, gabapentina e clonidina”, destaca do médico. Ainda de acordo com ele, a escolha exige avaliação cuidadosa dos efeitos e interações. Para o sono, se forem usados remédios para induzir, que seja com cautela, por tempo limitado e sempre junto de técnicas comportamentais e acompanhamento médico.
  • Ambiente adequado: Se você acorda devido ao calor, deixe o quarto mais fresco (entre 18 e 20 graus), com boa ventilação e roupa de cama leve. Reduza luzes e telas à noite e busque luz natural pela manhã. As diretrizes recomendam sete horas ou mais de sono por noite. Deitar e acordar em horários parecidos, inclusive no fim de semana, melhora marcadores do coração e do metabolismo.

 “A perimenopausa não é uma sentença de noites mal dormidas. É uma janela de ajuste entre corpo, hábitos e ambiente. Com ciência aplicada e bons protocolos, é possível recuperar o sono e devolver qualidade de vida às mulheres”, afirma. Para Betito, é hora de romper tabus e tratar o sono feminino como prioridade de saúde pública. “O sono é o melhor remédio que ninguém receita. Depois dos 45, ele continua sendo vital, mas precisa de acompanhamento e estratégia para voltar a ser fonte de descanso verdadeiro”, enfatiza.

 

Charles Betito
YouTube - Instagram - Linkedin


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados