Cinco mortes e dezenas de casos suspeitos reacendem alerta sobre consumo de bebidas adulteradas. Especialistas explicam como o metanol age no organismo e por que até pequenas doses podem causar cegueira e insuficiência hepática
O
número de mortes por intoxicação com bebidas adulteradas com metanol subiu para
cinco em São Paulo, segundo dados do Governo do Estado divulgados nesta
terça-feira (30/9). Outros 15 casos seguem sob investigação. A Polícia Civil já
apreendeu 50 mil garrafas e prendeu dois suspeitos na operação que apura o uso
ilegal do álcool industrial.
Os
sintomas descritos pelo Centro de Vigilância Sanitária incluem dor abdominal,
tontura, visão turva, confusão mental, convulsões e, em casos graves, cegueira
irreversível e coma.
“O
metanol, quando ingerido, é transformado pelo fígado em ácido fórmico,
substância extremamente tóxica que ataca o sistema nervoso, começando pelo
nervo óptico. Isso leva à chamada neuropatia óptica induzida por metanol”,
explica o oftalmologista Dr. Hallim Féres Neto, membro do Conselho Brasileiro
de Oftalmologia e diretor da clínica Prisma Visão. “Pequenas quantidades já são
perigosas, pois o ácido fórmico provoca morte celular rápida no nervo óptico,
impedindo que as imagens captadas pelos olhos cheguem ao cérebro. O dano
costuma ser irreversível.” Completa.
Segundo
o especialista, os sinais visuais surgem entre 12 e 48 horas após a ingestão e
incluem visão borrada, sensação de “neve” ou pontos pretos, dificuldade para
enxergar cores, dor atrás dos olhos e fotofobia. “Se houver atendimento médico
imediato, é possível reduzir os danos e até salvar parte da visão, mas a
recuperação completa é rara”, ressalta.
Além
dos olhos, o fígado é um dos órgãos mais atingidos. “O metanol é metabolizado
no fígado por enzimas que o transformam em formaldeído e ácido fórmico
substâncias altamente tóxicas que interferem na respiração celular, causando
acidose metabólica grave e sobrecarga em órgãos vitais”, explica a
gastroenterologista e hepatologista Dra. Lilian Curvelo. “Olhos, sistema
nervoso central, rins e o próprio fígado podem sofrer lesões irreversíveis.”
A
hepatologista Dra. Patrícia Almeida, doutora pela USP, reforça o impacto hepático:
“Ao tentar neutralizar o metanol, o fígado sofre intenso estresse metabólico e
pode evoluir para necrose hepatocelular e insuficiência hepática aguda.
Paralelamente, os metabólitos lesam gravemente o sistema nervoso central e os
nervos ópticos, explicando a alta incidência de perda visual e até cegueira nos
casos de intoxicação.”
Os
especialistas alertam que não há forma prática de identificar o metanol em
bebidas adulteradas.
“O
metanol é incolor, com odor e sabor semelhantes ao etanol, o que torna
impossível ao consumidor comum reconhecer sua presença. Não existe teste
caseiro confiável; somente análises laboratoriais específicas identificam o
metanol”, reforça Dra. Patrícia Almeida. “Por isso, a única forma segura de
prevenção é consumir bebidas de procedência garantida.”
Segundo
dados científicos, doses de cerca de 10 mL de metanol puro já podem provocar
distúrbios visuais graves; doses próximas a 30 mL podem ser letais para um
adulto.
“Uma pequena dose de bebida adulterada pode ser suficiente para causar sequelas
graves ou morte”, adverte Dra. Lilian Curvelo.
As
autoridades de saúde reforçam que qualquer suspeita de ingestão exige
atendimento médico imediato para aumentar as chances de recuperação.
Dr. Hallim Féres Neto - Oftalmologista Membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia
Instagram: drhallim
Portal: https://www.drhallim.com.br
DRA. LILIAN CURVELO Gastroenterologista e Hepatologista - CRM 78.526/SP - RQE 84418. Formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com especialização e doutorado em Gastroenterologia pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e pós-doutorado em transplante de fígado pela Universidade Erasmus-MC na Holanda. Há mais de 25 anos dedica-se ao estudo, diagnóstico e tratamento clínico das doenças do aparelho digestivo e do fígado.
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