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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Insegurança alimentar assume nova forma: sobrepeso na primeira infância

 

10,1% das crianças pequenas já sofrem com excesso de peso; nota científica do NCPI traz recomendações para o enfrentamento do problema
 

O Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) acaba de lançar uma nota científica que acende um alerta para o avanço de um novo fenômeno no Brasil: a má nutrição. Embora o país tenha reduzido a fome aguda e saído do mapa da fome da ONU em 2025, cresce a preocupação com a qualidade da alimentação, especialmente na primeira infância (0 a 6 anos). 

Dados reunidos no documento “A nova face da insegurança alimentar na primeira infância: excesso calórico, déficit nutricional e avanço de doenças crônicas” apontam que 10,1% das crianças menores de 5 anos já apresentam excesso de peso. Além disso, 25% das calorias ingeridas por crianças e adolescentes vêm de ultraprocessados. 

Esse quadro evidencia um chamado “paradoxo nutricional”: famílias em situação de insegurança alimentar, inclusive grave, sofrem com maior prevalência de obesidade, já que alimentos ultraprocessados são mais baratos, duráveis e palatáveis, mas pobres em nutrientes e ricos em calorias, gorduras e sódio. 

Nesse cenário, vale ressaltar ainda que as regiões Norte e Nordeste sofrem o dobro da insegurança alimentar em relação ao Sul e Sudeste, evidenciando desigualdades regionais.
 

Riscos para a saúde

Segundo o documento, crianças que enfrentam a má nutrição na primeira infância têm seu crescimento e desenvolvimento prejudicados e correm risco de desenvolver doenças crônicas na idade adulta, como diabetes, hipertensão e cardiopatias isquêmicas.

Para reverter esse cenário NCPI aponta que as políticas públicas devem ser revistas para contemplar não apenas o combate à fome aguda, mas a promoção de uma alimentação adequada e saudável, com quatro eixos estratégicos:

  1. Incentivo à produção e ao acesso a alimentos in natura, como frutas, verduras e legumes.
  2. Educação crítica para alimentação e nutrição, com fortalecimento das ações em escolas e campanhas de conscientização.
  3. Reformulação da cesta básica nacional, incorporando alimentos mais nutritivos, conforme orienta o Guia Alimentar para a População Brasileira.
  4. Monitoramento da insegurança alimentar leve, a fim de antecipar crises e orientar estratégias preventivas.

“É tempo de reconhecer que o maior risco alimentar e nutricional da população brasileira está na qualidade da dieta, e não apenas em sua quantidade. O avanço da má nutrição, ancorado na insegurança alimentar leve, ameaça o futuro das próximas gerações. Para garantir uma vida saudável, as políticas de segurança alimentar devem se tornar também políticas de qualidade nutricional”, comenta Marcia Machado, Professora associada do Departamento de Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC)
 

 Núcleo Ciência Pela Infância – NCPI


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