10,1% das crianças pequenas já sofrem com excesso
de peso; nota científica do NCPI traz recomendações para o enfrentamento do
problema
O
Núcleo Ciência Pela Infância (NCPI) acaba de lançar uma nota científica que
acende um alerta para o avanço de um novo fenômeno no Brasil: a má nutrição.
Embora o país tenha reduzido a fome aguda e saído do mapa da fome da ONU em
2025, cresce a preocupação com a qualidade da alimentação, especialmente na
primeira infância (0 a 6 anos).
Dados
reunidos no documento “A
nova face da insegurança alimentar na primeira infância: excesso calórico,
déficit nutricional e avanço de doenças crônicas” apontam que 10,1% das
crianças menores de 5 anos já apresentam excesso de peso. Além
disso, 25% das calorias ingeridas por crianças e adolescentes
vêm de ultraprocessados.
Esse
quadro evidencia um chamado “paradoxo nutricional”: famílias em situação de
insegurança alimentar, inclusive grave, sofrem com maior prevalência de
obesidade, já que alimentos ultraprocessados são mais baratos, duráveis e
palatáveis, mas pobres em nutrientes e ricos em calorias, gorduras e sódio.
Nesse
cenário, vale ressaltar ainda que as regiões Norte e Nordeste sofrem o dobro da
insegurança alimentar em relação ao Sul e Sudeste, evidenciando desigualdades
regionais.
Riscos para a saúde
Segundo
o documento, crianças que enfrentam a má nutrição na primeira infância têm seu
crescimento e desenvolvimento prejudicados e correm risco de desenvolver doenças
crônicas na idade adulta, como diabetes, hipertensão e
cardiopatias isquêmicas.
Para
reverter esse cenário NCPI aponta que as políticas públicas devem ser revistas
para contemplar não apenas o combate à fome aguda, mas a promoção de
uma alimentação adequada e saudável, com quatro eixos
estratégicos:
- Incentivo à produção e ao acesso a alimentos
in natura, como frutas, verduras e legumes.
- Educação crítica para alimentação e nutrição,
com fortalecimento das ações em escolas e campanhas de conscientização.
- Reformulação da cesta básica nacional,
incorporando alimentos mais nutritivos, conforme orienta o Guia Alimentar
para a População Brasileira.
- Monitoramento da insegurança alimentar leve, a
fim de antecipar crises e orientar estratégias preventivas.
“É
tempo de reconhecer que o maior risco alimentar e nutricional da população
brasileira está na qualidade da dieta, e não apenas em
sua quantidade. O avanço da má nutrição, ancorado na insegurança alimentar
leve, ameaça o futuro das próximas gerações. Para garantir uma vida saudável,
as políticas de segurança alimentar devem se tornar também políticas
de qualidade nutricional”, comenta Marcia Machado, Professora associada do Departamento de
Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC)
Núcleo Ciência Pela Infância – NCPI
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