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quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Preservação da fertilidade antes do tratamento oncológico: o alerta pouco discutido no Outubro Rosa

Imagem ilustrativa
 reprodução criada por inteligência artificial
Especialistas reforçam a importância de discutir opções de preservação logo após o diagnóstico, sem atrasar o início do tratamento

 


Durante o Outubro Rosa, mês dedicado à conscientização sobre o câncer de mama, especialistas chamam atenção para um tema ainda pouco debatido: a necessidade de orientar mulheres sobre os impactos do tratamento oncológico na fertilidade antes mesmo de seu início.

Segundo Mariane Cristina Carlucci Molina Félix, enfermeira gestora da unidade ENNE Medicina Reprodutiva - Grupo Nilo Frantz Medicina Reprodutiva e Mestre em enfermagem com o tema Oncofertilidade, muitas pacientes só descobrem os riscos tardiamente. “O problema é que a discussão sobre fertilidade costuma aparecer no pós-tratamento, quando muitas vezes já não há mais o que fazer. Essa conversa precisa estar presente desde o diagnóstico, para que a paciente possa decidir, de forma consciente e informada, se deseja congelar óvulos, embriões ou adotar outras estratégias de preservação.”

O pré-tratamento é considerado o momento-chave para tomar decisões que podem mudar a vida dessas mulheres. Hoje, protocolos já permitem iniciar o estímulo ovariano em qualquer fase do ciclo menstrual, sem necessidade de esperar a menstruação. “Isso derruba uma das principais barreiras apontadas por equipes oncológicas: o medo de atrasar o início do tratamento oncológico. O protocolo de estimulação leva, em média, de 10 a 12 dias, é adaptado à condição clínica de cada paciente e pode ser feito com alternativas seguras de medicação”, destaca Mariane.

O avanço desses protocolos mostra que, quando há integração entre oncologia e reprodução assistida, é possível preservar a fertilidade sem comprometer o tempo sensível do tratamento oncológico. “É um processo ágil, controlado e respaldado por evidências científicas. Quanto mais cedo a paciente é encaminhada, maiores são as chances de oferecer a ela essa possibilidade real de escolha.”

Além do aspecto clínico, a decisão de preservar a fertilidade antes do tratamento tem impacto direto no emocional. Estudos e relatos apontam que mulheres que congelaram óvulos ou embriões antes do tratamento se sentiram mais seguras, esperançosas e motivadas a enfrentar o processo. “Não se trata apenas de oferecer um procedimento, mas de dar esperança e perspectiva de futuro para além da cura”, reforça Mariane.

A especialista lembra ainda que a desinformação pode levar a decisões baseadas em medo ou em falsas premissas. “Há mulheres que ouviram de seus médicos que o tratamento não afetaria a fertilidade e depois descobriram que não conseguiam mais engravidar. Outras acreditaram que não haveria tempo para preservar os óvulos e abriram mão sem sequer consultar uma equipe de reprodução assistida. Nosso papel é garantir que essa paciente tenha todas as informações desde o início e possa escolher baseada em evidências, não em dúvidas.”

Mariane também ressalta que a paciente tem o direito de receber essas informações de forma clara no momento do diagnóstico. “Ela já é informada sobre os efeitos adversos das medicações e do tratamento oncológico, mas a fertilidade costuma ficar de fora. Essa omissão impacta diretamente a autonomia da mulher em planejar seu futuro reprodutivo.”

Outro desafio está no tempo de liberação do tratamento oncológico. Por lei, os planos de saúde têm em média 21 dias úteis para aprovar o início do protocolo, enquanto no SUS o prazo é de aproximadamente 60 dias corridos — ambos frequentemente extrapolados. “Considerando que o tratamento reprodutivo leva em média 12 dias, esses números mostram como o encaminhamento precoce faz diferença no processo, dando chances reais de compatibilizar o tempo entre os dois tratamentos”, explica Mariane.

Mesmo nos casos em que a preservação não é possível antes do tratamento, alternativas como ovodoação e útero de substituição podem permitir que a mulher realize o sonho da maternidade no futuro. “É fundamental que a paciente saiba disso desde o começo, para que tome decisões baseadas em evidências e não em medo ou desinformação”, conclui Mariane.

No Outubro Rosa, a mensagem vai além da prevenção e do diagnóstico precoce: trata-se do direito de cada paciente saber, com clareza, como o tratamento oncológico pode impactar sua fertilidade e quais alternativas existem para preservar o sonho da maternidade.

  

Nilo Medicina Reprodutiva

 

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