É um grande erro e uma visão muito simplista dizer que o rádio
acabou. Quem pensa assim não entende a mágica dele: a simplicidade, a
velocidade e a proximidade. O rádio não ficou para trás, ele se transformou, se
adaptou e ficou ainda mais forte no meio digital. Sua capacidade de se
reinventar é a prova viva da sua importância.
E a gente tem dados que provam isso. Segundo a pesquisa Inside
Radio 2024, da Kantar IBOPE Media, o rádio chega a mais de 76% da população
brasileira, e 82% das pessoas ouvem pelo menos uma vez por mês. A maioria, 71%,
ainda sintoniza o rádio tradicional (FM/AM), mas quase um terço, 29%, já usa a
internet pra isso. Ou seja, as rádios estão em todos os lugares: na frequência,
no site, no aplicativo e nas redes sociais.
O consumo de áudio em geral explodiu. Um estudo do IBOPE Media de
2024 mostra que a gente gasta, em média, 25 horas por semana ouvindo áudio.
Deste total, mais da metade, 52%, é rádio ao vivo. Os podcasts vêm logo atrás
com 23%, e o streaming de música fica com 25%. Isso mostra que o rádio, seja no
formato convencional ou online, continua sendo o preferido.
E os podcasts? Muita gente achou que eles seriam inimigos do
rádio, mas na verdade viraram grandes parceiros. Eles ajudam as emissoras a
oferecerem conteúdo a qualquer hora, explorando temas específicos. Hoje, a
produção de podcasts no Brasil não para de crescer, com um público estimado em
mais de 30 milhões de ouvintes. Essa diversidade no consumo de áudio só
fortalece a categoria como um todo.
A história do rádio aqui no Brasil se confunde com a história do
país. Tudo começou com Edgar Roquette-Pinto, o "Pai do Rádio
Brasileiro", que em 1923 fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Ele
tinha uma visão clara, dizendo que o rádio seria "a escola de quem não tem
escola", uma ferramenta para levar conhecimento a todos.
Mas a grande "Era de Ouro" do rádio veio a partir dos
anos 30. Com a publicidade, surgiram emissoras gigantes como a Rádio Nacional,
e o rádio se tornou o coração da cultura popular. Era a época das radionovelas,
dos programas de auditório e das transmissões de futebol. Nomes como Chacrinha,
Hebe Camargo, Carmen Miranda e Ângela Maria viraram ídolos. A voz de locutores
como Heron Domingues no Repórter Esso se tornou sinônimo de credibilidade. O
rádio não só refletia a sociedade, ele a unia, conectando um país inteiro com a
mesma trilha sonora e as mesmas notícias.
O que garante a vida longa do rádio é sua capacidade de se
adaptar. Hoje, as emissoras não ficam só no FM ou AM; elas viraram plataformas
multimídia. Você assiste a programação ao vivo, escuta pelo aplicativo e
interage nas redes sociais. O rádio virou um "hub" de conteúdo, onde
você pode ouvir seu programa favorito a qualquer momento, em formato de podcast
ou videocast.
E o futuro tem um nome: Inteligência Artificial (IA). Longe de ser
uma ameaça, a IA é uma baita aliada. Ela ajuda na produção, na gestão de
conteúdo e, principalmente, na personalização. Algoritmos já são usados para
entender o que a audiência mais gosta, ajustar a playlist em tempo real e até
criar boletins de notícias automáticos. Mas calma, a tecnologia aprimora o
meio, mas não tira o lugar do ser humano. A voz, a credibilidade e a capacidade
de se conectar com as pessoas de forma genuína continuam sendo o grande
diferencial do rádio.
No fim das contas, o rádio no Brasil é a prova de que um bom meio de comunicação não morre, ele evolui. No Dia do Rádio, a gente celebra essa jornada incrível e reforça que, com sua simplicidade e proximidade, ele segue sendo uma das forças mais democráticas e influentes na nossa comunicação.
Alvaro Bufarah Junio -, professor do Centro de Comunicação e Letras (CCL) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM)
*O conteúdo dos artigos assinados não representa necessariamente a opinião do Mackenzie.
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