Especialista em comportamento humano, Orlando Pavani Júnior analisa o surgimento de códigos secretos entre jovens e alerta: é preciso aprender a “nova linguagem” para enxergar os sinais de sofrimento
Um
número aparentemente inofensivo tem chamado atenção nas redes sociais. O código
“700” vem sendo usado por jovens para expressar emoções profundas — em especial
dor emocional — sem precisar dizer uma palavra sequer. Ao que tudo indica,
trata-se de uma tentativa de desabafo silencioso, um grito contido de quem não
quer (ou não consegue) ser plenamente compreendido. Para o especialista em
Primazia da Gestão e Comportamento Humano, Orlando Pavani Júnior, esse tipo de
comunicação é
sintomático: revela não apenas a criatividade da juventude digital, mas também uma fragilidade nas relações entre gerações.
“Muitas vezes esses jovens criam códigos exatamente para não serem entendidos pelas gerações anteriores”, explica Pavani. “É uma forma de comunicação restrita a um grupo que pensa e sente da mesma forma. No caso do ‘700’, parece ser uma maneira de manifestar sofrimento emocional sem correr o risco de ser alvo de ainda mais bullying ou julgamento”.
Para ele, esse movimento revela algo ainda mais delicado: uma dificuldade crescente dos jovens em utilizar palavras claras para falar sobre o que sentem. “Abrir o jogo de forma direta está, muitas vezes, gerando ainda mais sofrimento. Isso acontece porque há uma falta de compreensão e respeito pelo sentimento alheio, principalmente por parte de quem está fora da bolha geracional”, afirma.
O distanciamento entre pais e filhos, mestres e alunos, jovens e adultos, tem sido ampliado pela velocidade com que novas linguagens e comportamentos surgem. Para Pavani, o desafio da comunicação entre gerações pode ser comparado ao de tentar conversar com alguém em outro idioma. “Estabelecer diálogo entre gerações diferentes é como falar uma língua diferente da sua linguagem nativa. É difícil, mas essencial. E é papel dos adultos, principalmente dos pais, tomarem a iniciativa de aprender essa nova linguagem emocional”, orienta.
Ignorar ou ridicularizar esses códigos pode ser mais perigoso do que parece. O risco é deixar passar sinais importantes de vulnerabilidade emocional, muitas vezes sutis, mas que gritam por ajuda. “Esses códigos não são apenas modismos — eles podem ser o único jeito que um jovem encontrou de dizer ‘eu preciso de ajuda’, sem se expor ou ser invalidado”, alerta Pavani.
Por
isso, a escuta atenta e sem julgamento, a disposição para aprender com os mais
jovens e o esforço para decifrar esses sinais silenciosos são atitudes
urgentes. “Se queremos de fato proteger e apoiar essa geração, precisamos sair
da zona de conforto, baixar as barreiras e aprender a falar a língua deles”,
finaliza.
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