A falta de acordo para consolidar um Tratado Global Contra a Poluição por Plástico renova salvo-conduto para a deterioração da saúde e do meio ambiente
O
fracasso do que seria a última rodada de negociações para concluir um Tratado
Global Contra a Poluição por Plástico em Genebra empurra a decisão para um
futuro incerto enquanto o mundo se torna cada dia mais perigosamente
contaminado. Micro e nanoplásticos carregados de dezenas de substâncias tóxicas
são ingeridos por nós todos os dias, comprometendo a saúde das pessoas e do
planeta.
O impasse dessa 5a reunião da ONU, realizada na Suíça nas últimas duas semanas, também é um alerta às limitações do multilateralismo e dos métodos adotados por essa instituição para resolver algumas das questões mais importantes para o planeta. Escondidos atrás da busca pelo consenso, megapoluidores mundiais obtiveram mais um salvo-conduto — sem prazo de validade — para continuar lucrando com a deterioração da saúde e do meio ambiente.
No que
diz respeito ao Brasil, país que detém a maior biodiversidade do planeta, os
prejuízos potenciais são imensos. No entanto, a posição da delegação brasileira
em Genebra deixou a desejar ao não se alinhar ao grupo com mais de 100 países
que defendeu propostas avançadas para estancar a hecatombe plástica. A
sociedade civil e a comunidade internacional esperavam muito mais do país que
sediará, agora em novembro, a COP 30, onde se discutirá o futuro climático do
planeta.
O
colapso de Genebra aumenta a responsabilidade de todos — governos, sociedade
civil, setor privado e academia — para garantir que o próximo passo esteja à
altura da urgência do problema.
AVALIAÇÃO
DOS ESPECIALISTAS
"Estamos
diante de um desafio que já ultrapassou fronteiras, comprometendo ecossistemas
inteiros e afetando a vida de milhões de pessoas. Cada dia sem um acordo
ambicioso significa mais plástico nos oceanos, mais riscos silenciosos e
duradouros à saúde humana e mais perda irreversível de biodiversidade. Não se
trata apenas de um problema ambiental, é também uma questão econômica, social e
de justiça entre gerações. O tempo para concessões acabou: precisamos de um
Tratado forte, vinculante e efetivo, à altura da emergência que vivemos, e que
seja capaz de mudar o rumo dessa história”, disse o gerente de Políticas
Públicas do WWF-Brasil, Michel Santos.
“Mais
uma vez, alguns países vinculados à indústria petroquímica sequestraram as
negociações e impediram a efetivação de um Tratado Global Contra a Poluição por
Plásticos. Enquanto isso, o plástico segue contaminando os oceanos, o ar, a
água e nossos corpos. O Brasil chegou nas negociações sem políticas domésticas
para conter a poluição por plásticos, e precisa urgentemente fazer a sua lição
de casa. Porque, na realidade, os países não precisam esperar por um Tratado
para agir: já podem reduzir a produção e o uso de plástico. Não há mais o que
esperar, é preciso parar de enxugar gelo e implementar soluções efetivas para
essa crise mundial, que não tem fronteiras”, afirma a diretora de advocacy e
estratégia da Oceana Brasil, Lara Iwanicki.
Para
Zuleica Nycz, da Toxisphera, é preciso mudar a forma de negociar: “O que vimos
em Genebra mostra que buscar consenso a qualquer custo não funciona quando as
diferenças são profundas. Muitos países progressistas preferem um tratado
ambicioso, mesmo que nem todos participem, a ficar presos em negociações
intermináveis e sem resultados.”
Sobre
nós:
A
Coalizão Vida Sem Plástico é uma rede de mais de 15 organizações brasileiras
que atuam pela construção de um Tratado Global robusto Contra a Poluição por
Plástico e por um futuro mais sustentável e justo para todos.
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