A história se repete com frequência nos
consultórios médicos. Homens na faixa dos 40 ou 50 anos aparecem com queixas de
cansaço inexplicável, dores nas pernas ou dificuldades íntimas, apenas para
descobrir que seus vasos sanguíneos estão envelhecendo a um ritmo acelerado. O
que muitos não percebem é que esse processo começou silenciosamente uma ou duas
décadas antes, quando os primeiros sinais poderiam ter sido detectados e
controlados.
A medicina conhece bem essa disparidade de gênero
quando o assunto é saúde vascular. Enquanto as mulheres contam com a proteção
relativa dos hormônios femininos até a menopausa, os homens enfrentam desde
cedo um quadro mais desafiador. A testosterona, amplamente reconhecida por seu
papel no desenvolvimento das características masculinas, parece ter um lado
menos nobre quando se trata da delicada camada endotelial que reveste os vasos
sanguíneos. Essa predisposição biológica, combinada com hábitos culturais que
desvalorizam a prevenção, cria uma condição perfeita para o desenvolvimento
precoce de problemas circulatórios.
O paradoxo é que os sinais iniciais de alerta
vascular em homens são frequentemente ignorados ou associados ao simples
"cansaço da idade". A disfunção erétil, por exemplo, raramente é
reconhecida como o marcador precoce de doença cardiovascular que realmente é.
Os pequenos vasos do pênis funcionam como sentinelas, e nesse caso, os
primeiros a sofrer quando a circulação começa a falhar. Estudos mostram que
problemas de ereção podem preceder em anos o diagnóstico de doença arterial
coronariana e oferecem uma janela de oportunidade para intervenção precoce que
frequentemente é desperdiçada.
O estilo de vida moderno parece ter sido quase que
desenhado para prejudicar a saúde vascular masculina. Longas horas sentados no
trabalho, alimentação rica em processados, estresse crônico e aquele copo a
mais de bebida alcoólica no final de semana - tudo isso se acumula
silenciosamente e danifica o equilíbrio do sistema circulatório. O resultado é
visível nas estatísticas: homens desenvolvem doenças cardiovasculares em média
10 anos antes que mulheres, e com desfechos frequentemente mais graves.
A solução, no entanto, não requer mudanças
radicais, mas sim uma abordagem consciente. Fazer do check-up
vascular um ritual tão normal quanto a troca de óleo do carro. Reconhecer que a
pressão arterial elevada é também um sinal de alerta que merece atenção.
Entender que aquele ronco noturno pode ser associado a danos vasculares
precoces.
No Dia dos Pais, talvez o presente mais valioso que se pode dar - ou receber - seja uma mudança de perspectiva. Cuidar da saúde vascular não é um sinal de fraqueza, mas de sabedoria. Não se trata apenas de adicionar anos à vida, mas de garantir qualidade e vitalidade em cada um desses anos. Afinal, que pai não deseja estar presente - plenamente presente - para acompanhar os momentos mais importantes da vida de seus filhos?
Dra. Haila Almeida - Médica cirurgiã vascular com atuação focada em tratamentos de vasinhos e varizes por meio da tecnologia a laser, fundadora e líder do Instituto Alphaveins.

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