Mesmo vivendo sob controle, manipulação, abuso emocional, físico, ou psicológico, a vítima de relacionamento tóxico tem dificuldades de romper com o abusador
Ao tomarem conhecimento de que uma mulher está vivendo uma
relação abusiva, muitas pessoas questionam o motivo dela não romper esse
relacionamento. Para essas mulheres é difícil identificar que está vivendo uma
relação tóxica porque a manipulação emocional distorce a percepção da
realidade. O abusador minimiza seus comportamentos abusivos e culpa a vítima,
fazendo com que ela duvide de suas próprias experiências e sentimentos. A
vítima pensa que está enlouquecendo e que está realmente exagerando nas
queixas. “O abusador convence que foi injustiçado e a vítima, confusa, se
desculpa e, sem querer, dá mais poder ao abusador. Além disso, o ciclo de
abuso, que alterna momentos de tensão e conflito com períodos de aparente
arrependimento e afeto, cria uma falsa esperança de mudança. “Dessa vez vai” e
“Ele vai mudar” são os pensamentos que mantém a vítima nesses relacionamentos
de dor. A dependência emocional e o medo de ficar sozinha também tiram a
capacidade de ver a relação como ela realmente é, se mantendo nesse ciclo de
confusão e culpa”, esclarece a psicóloga Bárbara Couto, especialista em
Relacionamentos.
Além disso, o medo de retaliação, baixa autoestima,
isolamento social e a falta de apoio externo contribuem para que a vítima se
sinta presa na relação. A manipulação psicológica também faz com que a vítima
se sinta culpada ou responsável pelo comportamento do abusador, dificultando
ainda mais a decisão de sair. “Pessoas que viveram em um ambiente de violência
na infância e juventude costuma achar normal estar em um relacionamento amoroso
de violência. Se a vítima não conhece a paz, pode se sentir mais confortável em
meio ao caos, mesmo sofrendo”, alerta a psicóloga.
Como identificar se está vivendo um relacionamento tóxico?
Um relacionamento tóxico é caracterizado por comportamentos
prejudiciais, onde uma das partes exerce controle, manipulação, abuso
emocional, físico, ou psicológico sobre a outra. Há uma constante sensação de
instabilidade, desrespeito e falta de apoio. A relação se baseia em padrões
destrutivos, como ciúmes excessivos, possessividade, isolamento social,
desvalorização, e uma dinâmica onde o bem-estar emocional de uma das partes é
minado. “Esses comportamentos criam um ambiente de insegurança e ansiedade,
onde a vítima pode se sentir presa, solitária, perdida e desvalorizada”, aponta
Bárbara.
Além da violência física e sexual, que são fáceis de se
identificar, há outros tipos de violência em relacionamentos tóxicos, como a
emocional, em que há manipulação, chantagem, humilhação, desvalorização e
isolamento social, onde a autoestima da vítima é constantemente minada;
a psicológica, com presença de a ameaças, controle mental, gaslighting -
fazer a vítima questionar sua sanidade - e indução de medo; e a financeira,
onde há controle total sobre os recursos financeiros da vítima, impedindo-a de
ter independência econômica.
Fatores que influenciam na continuidade de relacionamentos
abusivos
Existem
fatores desempenham um papel crucial na continuidade de uma relação tóxica.
Entre eles está a preocupação com o bem-estar dos filhos e o medo de
prejudicá-los ao romper a família, acreditando que é melhor para os filhos
terem ambos os pais, mesmo em um ambiente disfuncional. “Isso não é verdade,
filhos precisam de amor, paz e tranquilidade para crescerem ajustados
emocionalmente”, aponta Bárbara.
Algumas crenças religiosas também podem desencorajar o
divórcio ou a separação, fazendo com que a mulher sinta que deve suportar o
sofrimento para manter o compromisso religioso e a família. “Acreditam que a
mulher sábia quem dignifica o lar e que por isso devem ficar tentando ou que se
separaram estarão pecando. Essas crenças religiosas são dolorosas porque muitas
se mantém infelizes, solitárias e aos pedaços apenas para manterem essa relação
que machuca”, Acredita a psicóloga.
A
dependência financeira do abusador é uma barreira significativa, já que sem
recursos próprios, a mulher pode se sentir incapaz de sustentar a si mesma e
aos filhos após a separação. Muitas mulheres são impedidas de trabalhar e
acabam aceitando pela “paz” do relacionamento quando, na verdade, entregam sua
vida ao controle do outro.A liberdade também precisa ser financeira. É
importante entender que quem tem o dinheiro tem o poder”, alerta a
profissional.
O
estigma social e a vergonha de admitir que está em uma relação abusiva pode
fazer com que a mulher evite buscar ajuda, temendo o julgamento alheio.
Cada vez menor, mas ainda existe um olhar que desvaloriza a mulher que se
separa, pessoas que se afastam e julgam essa mulher. O medo de carregar o
estigma de fracasso também mantém as mulheres nessa relação. “Mas o mais doloroso
nem é o olhar do outro, é confrontar as próprias ideias e crenças que foram
desenvolvidas ao longo da vida, os pensamentos julgadores e a autocobrança que
carregamos em nós desde pequenas. Fomos criadas que precisamos de um príncipe e
é muito difícil abrir mão dele. Precisamos criar mulheres aprendam a ser
felizes, com ou sem príncipe. Deve ser uma opção, nunca uma necessidade”,
lembra Bárbara.
E,
por último, a codependência emocional, que faz com que a mulher se sinta
responsável pelo bem-estar do abusador e tenha dificuldade em imaginar a vida
sem ele, acreditando que não conseguirá sobreviver sozinha. “As falas
manipuladoras a fazem acreditar que ela é muito difícil, que ninguém vai
aguentá-la como esse homem, que ela é louca, que vai destruir a família, entre
outras acusações do parceiro abusivo. Mulheres com excesso de empatia
facilmente são vítimas de relações tóxicas e abusivas”, explica a psicóloga.
Estratégias para sair da relação abusiva
Ao
se identificar e decidir sair de uma relação tóxica, é importante que a mulher
trace estratégias para ter segurança. O planejamento financeiro é fundamental.
A mulher pode começar a economizar e guardar dinheiro secretamente, abrir uma
conta bancária em seu nome e buscar formas de independência financeira, como
encontrar um emprego ou cursos de capacitação. O desenvolvimento de um plano de
fuga detalhado deve fazer parte dessa fase, incluindo para onde ir, quem
contatar e como sair da casa de forma segura, sem alertar o abusador.
Também se deve reunir e proteger documentos importantes,
como identidade, passaporte, certidões, contratos e registros financeiros, em
um lugar seguro. “ Essa mulher precisa consultar um advogado especializado em
violência doméstica para entender seus direitos e as medidas legais que pode
tomar, como ordens de restrição”, alerta Bárbara.
Outra ação importante é buscar o apoio de amigos, familiares
ou grupos de apoio para mulheres em situações semelhantes. Ter pessoas de
confiança que possam oferecer abrigo ou ajuda prática é fundamental. “Buscar a
ajuda de um psicólogo é essencial para fortalecer a autoestima e resiliência
emocional, preparando-se mentalmente para a separação”, afirma a psicóloga.
Saúde emocional para enfrentar esse difícil processo
Bárbara
lembra ainda que é fundamental que a mulher busque autocuidado constante,
aprenda a fazer as coisas por si em primeiro lugar, se separe primeiro
mentalmente, busque apoio psicológico e mantenha-se conectada a uma rede de
apoio. “Se conhecer para fortalecer a autoestima é super importante, assim como
lembrar-se de que ela merece respeito, amor, companheirismo e segurança. Estar
bem informada sobre o ciclo de abuso e entender que seus sentimentos são também
importantes, pois ajuda a combater a manipulação emocional e quebrar o ciclo de
abuso. Ver vídeos e ler conteúdos na internet pode ajudar muito nesse processo,
informações nesse caso sempre salvam vidas. E claro, ter paciência consigo
mesma e celebrar pequenos avanços no processo de libertação dessa dura
dependência emocional”, finaliza ela.
A psicóloga Bárbara Couto
Bárbara
Couto é Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário de Brasília (UNICEUB)
e tem Mestrado em Psicologia Clínica e Saúde pela – Universidad Europea del
Atlantico (UNIAtlântico), da Espanha.
Ela
também tem Especializações em Terapia Cognitivo Comportamental e Neurociências
e em Comportamento, ambas pela PUC-RS e em Neuropsicologia Clínica, pela
Capacitar.
Bárbara
Couto escreveu dois livros, editados pela Drago Editorial, em versões impressa
e e-book. O primeiro “Permita-se”, sobre relacionamentos abusivos e libertação
emocional. E o segundo “Aceita-se”, sobre tabus e necessidade da autoaceitação
para sobreviver em uma sociedade que tem dificuldade em aceitar.
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