Além de evitar esses fatores de risco, também é indicado não beber líquidos muito quentes e adotar dieta que inclua frutas e vegetais. No Brasil, câncer esofágico é três vezes mais comum nos homens. Com base em dado global, Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) alerta que os casos anuais podem aumentar em 80% até 2050
Em 2024, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA),
10.990 brasileiros vão receber o diagnóstico de câncer de esôfago. Destes,
8.200 em homens e 2.790 em mulheres, três vezes mais comum, portanto, na
população masculina. Em âmbito mundial, de acordo com a Agência Internacional
para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) há pouco
mais do dobro de número de casos entre os homens: 366 mil entre eles e 145 mil
novos casos anuais entre as mulheres.
Assim como ocorre com os demais cânceres, os
tumores malignos de esôfago ocorrem pela transformação descontrolada das
células. No caso específico do câncer de esôfago, as evidências associam o
surgimento da doença à irritação crônica deste órgão, a partir de causas como
tabagismo, obesidade, etilismo, hábito de consumir bebidas líquidas em altas
temperaturas e baixo consumo de frutas e vegetais. Outros fatores de risco são
doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e histórico de alterações
pré-cancerosas nas células do esôfago (esôfago de Barrett). Deve haver atenção
especial também por parte das pessoas submetidas a tratamento de radiação no
tórax ou na parte superior do abdômen.
Caso medidas efetivas de prevenção não sejam
adotadas, a projeção do IARC/OMS para o ano de 2050 é que o número de casos
anuais de câncer de esôfago salte dos atuais 511 mil para 922 mil em 2050, um
aumento de 80%. “Na maioria dos casos, o câncer de esôfago é uma doença
evitável. Cabe a todos os setores da sociedade ampliar o conhecimento da
população, por meio de campanhas de conscientização eficazes, sobre as medidas
que contribuem para a prevenção da doença”, ressalta o cirurgião oncológico
Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia
Oncológica (SBCO) e titular do Hospital de Base, de Brasília.
Para prevenir a doença é recomendado não fumar
(lembrando que toda forma de consumo de tabaco e seus derivados é nociva,
incluindo charuto, narguilé, cigarro eletrônico, entre outros); adicionar uma
variedade de frutas e vegetais coloridos à dieta; manter o peso saudável e
tratar o refluxo quando houver sintomas. “Além disso, o consumo de bebida
alcoólica deve ser evitado. Há estudos que apontam que, para adultos saudáveis,
pode ser seguro o consumo no limite de até um drinque por dia para mulheres e
até dois drinques por dia para homens”, explica Nascimento.
Diferentes tipos de câncer de
esôfago - O câncer de esôfago é classificado de acordo com
o tipo de células envolvidas. Os carcinomas de células escamosas
ocorrem mais frequentemente nas porções superior e média do esôfago. Já o
adenocarcinoma, que começa nas células das glândulas
secretoras de muco no esôfago, ocorre frequentemente na porção inferior do
esôfago.
Cirurgias em casos de câncer
de esôfago - O tratamento
cirúrgico para pacientes com câncer de esôfago consiste na
realização de esofagectomia, que é a remoção total ou parcial do
tumor e da margem de segurança (área adjacente com tecido
normal). Em alguns casos, antes de realizá-lo, pode ser preciso fazer algumas
sessões de radioterapia ou quimioterapia (terapias neoadjuvantes).
A esofagectomia pode ser
transhiatal, na qual o esôfago é removido por meio de incisões
no abdômen e no pescoço, sendo bastante empregada no tratamento de
adenocarcinomas. Há também a esofagectomia transtorácica, na
qual o órgão é retirado através de incisões no tórax e no abdômen, sendo mais
utilizada no tratamento de carcinomas de células escamosas.
“As duas formas de cirurgia podem ser realizadas
tanto por via aberta/convencional ou de maneira minimamente invasiva. Porém,
quando se emprega a minimamente invasiva – por endoscopia ou laparoscopia, as
incisões são bem menores, resultando em menor risco de sangramento, menos dor e
mais rápida recuperação”, destaca Pinheiro.
Qual é o caminho do alimento
após a retirada do esôfago? – Uma importante
indagação dos pacientes é como ficará o trânsito do alimento após a
esofagectomia. Isso porque é o esôfago que faz a ligação entre
a garganta e o estômago, sendo, portanto, fundamental no processo
digestivo. Rodrigo Pinheiro explica que, para reconstruir
o canal e viabilizar o trânsito alimentar, é elevado o estômago
até a porção remanescente do tubo esofágico, conectando-os na região torácica
ou cervical.
“Outra possibilidade é confeccionar um novo tubo
gástrico com tecidos extraídos de outros órgãos do sistema digestivo, como
estômago, intestino delgado ou intestino grosso”, acrescenta. Ainda segundo o
presidente da SBCO, é importante que a estrutura tenha curvatura adequada e
calibre similar ao do esôfago original, sendo suturada manualmente ou com o uso
de grampeadores automáticos.
Cirurgia, fase de diagnóstico
e sobrevida em cinco anos
A escolha da terapêutica mais adequada
para tratar o câncer de esôfago se baseia no estadiamento (fase em que a doença
é diagnosticada, que via de 0 a IV) e nas condições de saúde geral do paciente.
A cirurgia costuma ser indicada para portadores de tumores em estágios
iniciais e tem objetivo curativo. Para tumores em estágio 0 ou
I (iniciais) pode-se recomendar a remoção do tumor por esofagectomia ou via
ressecção (retirada) endoscópica da mucosa.
Dependendo das características, pode-se indicar,
ainda, quimioterapia e radioterapia (prévias ou posteriores ao procedimento).
Para tumores em estágios II e III, quando houve disseminação para linfonodos e
para órgãos próximos, geralmente, indica-se a quimioirradiação (quimioterapia e
radioterapia) seguida de cirurgia. Mas, em caso de tumores pequenos, pode-se
realizar o tratamento cirúrgico isolado.
Já para tumores em estágio IV, com metástases à
distância, busca-se aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença com
tratamentos não cirúrgicos. Em estágios muito avançados é possível indicar um
procedimento cirúrgico com intuito paliativo, visando melhorar
a qualidade de vida do paciente. É o caso, por exemplo, da cirurgia para
colocação de sonda de alimentação.
Dados do levantamento SEER do Instituto Nacional de
Câncer dos Estados Unidos (NCI) apontam que quase metade (48,1%) dos pacientes
com câncer de esôfago descoberto em fase inicial chegam aos cinco anos de
sobrevida após o tratamento. “Aumentar as taxas de diagnóstico precoce é a
principal medida para redução de mortalidade por câncer de esôfago”, afirma o
presidente da SBCO. Um alerta importante é que, ainda segundo o NCI, quatro
entre dez casos de câncer de esôfago são diagnosticados já com a ocorrência de
metástase.
Sintomas que alertam para
câncer de esôfago e busca por diagnóstico
A SBCO alerta que o câncer de esôfago em fase inicial geralmente não
causa sinais ou sintomas. Porém, nas ocorrências destes sinais, é recomendado
consultar um médico.
- Dificuldade em engolir
(disfagia)
- Perda de peso sem causa definida
- Dor no peito ou queimação
- Piora da digestão ou azia
- Tosse ou rouquidão
Vale ressaltar que a pessoa com histórico de esôfago de Barrett, uma
condição pré-cancerosa causada por refluxo ácido crônico, tem um risco maior de
desenvolver câncer de esôfago e pode haver a recomendação de rastreamento. Para
tanto, é importante discutir os prós e os contras dos exames com um
especialista. Os testes e procedimentos usados para diagnosticar o câncer de
esôfago incluem:
- Estudos Radiológicos: durante estes estudos, o paciente pode engolir um líquido que inclui contraste e depois faz exames de imagem. O contraste reveste o interior do esôfago, que pode mostrar alterações no tecido.
- Endoscopia: o médico passa um tubo flexível equipado com uma lente de vídeo (videoendoscópio) pela garganta até o esôfago. Usando o endoscópio, o médico examina o esôfago em busca de câncer ou áreas de irritação.
- Coleta de uma amostra de tecido para teste (biópsia).
Por endoscopia, é retirada uma amostra de tecido que, por sua vez, é enviada a
um laboratório para procurar células cancerígenas. O objetivo é determinando a
extensão do câncer.
Assim que o diagnóstico de câncer de esôfago é
confirmado, o médico poderá recomendar exames adicionais para determinar se o
câncer se espalhou para os gânglios linfáticos ou para outras áreas do corpo.
Os exames podem incluir:
- Broncoscopia
- Ultrassom endoscópico (EUS)
- Tomografia computadorizada (TC)
- Tomografia por emissão de pósitrons (PET)
Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica - SBCO
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