A associação entre
saúde pública e comunicação é crucial para reduzir os efeitos econômicos e
sociais de epidemias. Quanto mais rápida for a adoção de medidas que combatam a
transmissão de doenças e incentivem a busca por tratamentos adequados, menor é
o desgaste de comunidades. A atuação conjunta das áreas possibilita que as
políticas públicas cumpram com o seu papel em um contexto complexo da
competição entre mensagens de utilidade pública, mudanças de comportamentos e
desinformação.
Ao
longo do tempo, o Brasil registra casos que refletem esse cenário, como a
Revolta da Vacina, no início do século XX, que já expunha a preocupante
consequência da desinformação. Um dos medos que circulava era manifestar
feições de vaca, devido ao método de fabricação da vacina na época. A
comunicação pública neste caso gerou ainda mais instabilidade pelo seu tom
coercitivo. Ao contrário, o combate à poliomielite envolveu a população com o
Zé Gotinha, incluindo a escolha do seu nome. Hoje, ainda é um símbolo não
apenas de uma vacina, mas de todo o Plano Nacional de Imunização.
A
pandemia da Covid-19 e a Dengue são dois casos recentes que evidenciam a
importância da integração nacional, ao mapear as regiões mais necessitadas, e
coordenar ações e comunicações entre União, estados e municípios. O
investimento em desenvolvimento de vacinas nacionais e a orientação para
prevenção foram suprimidas pelo próprio Poder Executivo na pandemia,
terceirizando aos estados ações isoladas, com baixo investimento em
propagandas. Acompanhamos, agora, uma tentativa de controle da epidemia da
Dengue, ainda de forma tímida em sua propaganda para a prevenção. Desde 2016 em
pesquisa, o crescimento de casos levou ao investimento no desenvolvimento da
vacina nacional e ao incentivo de práticas para reduzir o agente transmissor.
Aplicativos
foram desenvolvidos, como o AETrapp e o CaçaMosquito, para acompanhar focos em
tempo real, mas o uso de dados e a ação de agentes sanitários devem ser
complementares com uma maior frequência da atual campanha nacional de combate
ao mosquito, ainda pouco veiculada. Quando há um mesmo discurso entre
diferentes instâncias, as mensagens se somam, potencializando o entendimento
mais homogêneo sobre a situação. Seguimos para mais de 350 mil casos de Dengue
em 2024, ainda sem a oferta em grande quantidade de vacinas. Nesse contexto, a
comunicação pública deve ser aliada ao desenvolvimento de tecnologia. Assim, a
prevenção de doenças e os seus combates podem se tornar tão atrativos, quanto a
facilidade de compartilhamento de desinformação.
Clóvis Teixeira Filho - Doutor em Ciências da Comunicação pela
Universidade de São Paulo e Coordenador dos cursos de pós-graduação na área de
comunicação no Centro Universitário Internacional, UNINTER.
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