Índice de Preços dos Supermercados (IPS), da APAS, confirma cenário projetado para o encerramento de 2023, com inflação fechando o ano em 0,85%, menor patamar desde 2017
O
Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela Associação Paulista de
Supermercados (APAS) em parceria com a Fipe, registrou inflação de 0,74% em
novembro, motivado pelo aumento de preços dos produtos in natura (6,84%),
semielaborados (1,06%) e bebidas alcoólicas (0,44%). Por outro lado, os
produtos industrializados (-0,15%), as bebidas não alcoólicas (-0,84%), os
artigos de higiene (-0,37%) e de higiene e beleza (-0,20%) registraram queda e
impediram que o indicador aferisse alta ainda maior no mês.
O
resultado do IPS de novembro apresentou aceleração
tanto em relação ao mês anterior quanto ao mesmo período de 2022, quando as
variações foram de 0,46% e 0,30%, respectivamente, resultando em inflação
acumulada de 0,82% em 12 meses (mesmo com a aceleração de novembro).
“Nós já projetávamos aceleração inflacionária durante o último
bimestre do ano. Com o resultado de novembro, reafirmamos o cenário projetado
para o encerramento de 2023, com inflação encerrando o ano em 0,85%, menor patamar desde 2017”, comenta Felipe
Queiroz, economista-chefe da APAS.
Já
para o próximo ano, a APAS projeta que a inflação acelere e encerre o ano em
4,5%. O cenário projetado pela APAS considera os fatores provenientes do
cenário externo e das alterações climáticas sobre o comportamento dos preços:
- Guerra na Ucrânia. A continuidade da guerra
na Ucrânia produz, além da perpetuação do sofrimento aos civis, impactos
sobre os preços internacionais de diferentes produtos, desde fertilizantes
e trigo até gás natural e petróleo. Além disso, a eminência do início do
inverno tende a produzir impacto sobre a cotação do gás natural e do
petróleo no mercado internacional, uma vez que a Rússia, apesar das
sanções econômicas impostas pelos países da OTAN, ainda é um dos
principais fornecedores de hidrocarbonetos aos países europeus e estas
commodities, em específico, são, além de bens fundamentais, instrumentos e
armas nas guerras geopolíticas.
- Guerra no Oriente Médio. A guerra no Oriente Médio
entre Israel e o Hamas avança para o terceiro mês e não há no horizonte a
realização de um acordo de paz. O escalonamento do conflito pode produzir
outros movimentos no xadrez global com o risco de envolvimento direto de
mais países, tanto da Liga Árabe quanto da Otan, em especial os Estados
Unidos. O envolvimento de outros países tende a produzir múltiplos efeitos
sobre a economia global, desde a alteração da cotação do petróleo no
mercado internacional até a alteração no fluxo global de capitais.
- Petróleo e gás natural. O petróleo e o gás natural
são importantes insumos produtivos e, dada a situação dos países
envolvidos direta e indiretamente nos dois palcos de guerra – Ucrânia e
Israel –, os hidrocarbonetos se apresentam como estratégicas armas de
negociação geopolítica. Neste sentido, a APAS não descarta o cenário de
instabilidade na cotação do petróleo em 2024, impactando, inclusive, os
preços dos fretes e de diferentes insumos produtivos.
- Alterações climáticas. Os sucessivos recordes de
temperatura e os eventos climáticos extremos observados em diferentes
regiões do mundo tendem, igualmente, a impactar a produção agrícola no
Norte e no Sul Global, inclusive o Brasil. Em âmbito doméstico, os efeitos
das alterações climáticas já são amplamente conhecidos, com seca na Região
Amazônica e chuvas abundantes na Região Sul do país. Neste ano, a produção
agrícola não foi impactada pela alteração climática – haja vista o país
teve safra recorde de grãos –, no entanto, para a safra 2023/2024 é
possível haver impactos. Por isso, a APAS acompanha com atenção a evolução
da produção doméstica das diferentes culturas agrícolas.
- Cenário macroeconômico externo. A APAS acompanha com
atenção o rumo da política monetária norte-americana, o aumento das
políticas protecionistas em diferentes partes do mundo, a desaceleração do
crescimento chinês, as ações do Banco Central Europeu e os efeitos da conjunção
de diferentes variáveis sobre o mercado doméstico brasileiro.
Produtos In natura
Os
produtos in natura aumentaram 6,84% em novembro, puxados pela alta dos preços
dos tubérculos e das verduras, que inflacionaram 22,05% e 11,55% no mês,
respectivamente. As frutas (1,72%) e os legumes (3,26%) também registraram alta
no mês. Com a variação aferida no mês, os produtos in natura acumulam alta de
3,75% no ano e 5,37% em 12 meses.
Dentro
da subcategoria de frutas, as principais variações no mês foram: maracujá
(16,60%), banana (7,67%) e laranja (6,91%) para alta; e mamão (-4,98%) e uva
(-4,59%) para queda.
Dentro
da subcategoria de legumes, a variação do pimentão (8,67%), tomate (1,53%) e
cenoura (0,92%) foram as que mais contribuíram para a alta no mês. Em sentido
oposto, berinjela (-5,34%) e mandioca (-2,72%) impediram a alta mais acentuada
do indicador no período.
Já
entre os tubérculos, a maior alta foi da cebola (65,1%), seguido da batata
(14,21%). Vale apontar que, apesar da forte alta no mês, no acumulado do ano
cebola e batata acumulam queda de 23,74% e 16,97%, respectivamente.
As
verduras também apresentam variações acentuadas de preços no mês, sendo que as
maiores altas foram dos seguintes itens: alface (17,79%) e couve (15,11%).
Semielaborados
Pelo
segundo mês seguido, a categoria produtos semielaborados registrou alta de
1,06%, impulsionada pela alta nos preços das proteínas animais e cereais.
Apenas a subcategoria de leite registrou deflação no mês, impedindo que a alta
da categoria no mês fosse ainda maior. Com o resultado de novembro, a categoria
de produtos acumula deflação de 6,73% no ano. Nos últimos 12 meses, a queda é
de 6,61%. A forte queda no preço das proteínas animais tende a produzir efeito
sobre a cesta de consumo das famílias no final deste ano.
Em
novembro, a carne bovina inflacionou 1,43%. A alta no período já era esperada
pela APAS e fora comunicada, inclusive, em notas técnicas anteriores. Entre os
cortes bovinos, as principias altas foram da fraldinha (6,47%) e do coxão duro (5,29%).
Já os cortes menos nobres, como lagarto e músculo deflacionaram no mês, ao
variarem -1,5% e 0,2%, respectivamente.
“Mesmo
com o aumento registrado no bimestre outubro-novembro, o preço da carne bovina
ao consumidor paulista no final de 2023 ainda está mais de 10% abaixo do
registrado no mesmo período do ano anterior. Portanto, nas festas de final de
2023, o consumidor final terá um ganho de poder de compra, especialmente no
churrasco, dado que cortes bovinos como, por exemplo, picanha e contrafilé,
registram deflação de 13,5% e 12,7%, no acumulado em 12 meses”, diz Queiroz.
O preço da carne suína seguiu o mesmo comportamento
da carne bovina em novembro, com alta na ponta da curva (0,46%) e deflação
tanto no acumulado do ano (-6,25%) quanto em 12 meses (-2,49%).
As
aves também inflacionaram em novembro (2,38%), motivado pela alta de 2,27% no
preço do quilo do frango e 5,36% no preço do peru. Vale enfatizar que a alta no
preço do peru é sazonal, decorrente das festas de final de ano. Ao longo de
2023, o preço do peru apresentou sucessivas quedas, no entanto, não foram
suficientes ao ponto de neutralizar a alta dos últimos 12 meses. Mesmo com a
alta do último mês, o preço do peru acumula deflação de 4,55%. Porém, no
acumulado em 12 meses, a alta é de 36,47%. Comportamento diferente apresentou o
preço do frango ao consumidor final, que tanto em no ano (-10,88%) quanto em 12
meses (-11,79%) acumula deflação.
Já entre os pescados, a variação foi de 0,76% em novembro, motivado pela alta do camarão (2,40%) e da merluza (1,57%). Em sentido oposto, a redução do preço da corvina (-2,12%) e do cação (-1,18%) impediram alta maior dentro da subcategoria. No acumulado do ano, a subcategoria apresenta leve alta (0,58%) e em 12 meses a variação é de 1,86%.
O preço do leite ao consumidor final paulista mantém pelo sexto mês consecutivo queda. Com o resultado de novembro (-0,62%), o preço do leite acumula deflação de 5,92% e 10,21%, no ano e em doze meses, respectivamente. A manutenção da queda do preço do leite tem produzido efeito em cadeia, com queda nos preços dos produtos industrializados derivados de leite.
Industrializados
A categoria de
produtos industrializados apresentou deflação de 0,15% em novembro. Com esse
resultado, a inflação da categoria desacelerou para 0,54% no acumulado do ano e
1,29% em doze meses. O resultado do mês é fruto da redução de preços das
seguintes subcategorias: café, achocolatados em pó e chás (-1,04%), derivados
de carne (-0,92%), biscoitos e salgadinhos (-0,52%), derivados de leite
(-0,38%), massas, farinhas e féculas (-0,38%), doces (-0,22%), enlatados e
conservas (-0,12%).
Em
sentido oposto, apresentaram alta nos preços as seguintes subcategorias: óleos
(1,27%), panificados (0,91%), adoçantes (0,66%) e condimento e sopas (0,30%).
As subcategorias de alimentos prontos ficaram estável no mês.
“O resultado positivo da categoria de produtos industrializados neste ano, com alta moderada de preços, decorre, sobretudo, da safra recorde e da diminuição ou aumento moderado do preço de muitos insumos produtivos”, explica Felipe Queiroz. Os casos das subcategorias de óleos e café são exemplares. No caso específico da subcategoria de óleo, o único item que apresenta tendência de preço contrária à do grupo é o azeite, com alta de quase 40% no ano. As mudanças climáticas e seus efeitos diretos sobre a produção das olivas no mediterrâneo têm produzido forte pressão sobre o preço no mercado mundial. Apenas em novembro, o azeite aumentou 7,81%.
Bebidas
A
subcategoria de bebidas deflacionou 0,39% em novembro, decorrente da queda de
preços das bebidas não alcoólicas (-0,84%) e da alta da bebida alcoólica
(0,44%). A redução do preço da subcategoria de bebidas alcoólica foi resultado,
sobretudo, da queda no preço dos refrigerantes (-1,73%). Até mesmo a água
mineral, que durantes os meses anteriores registrou sucessivas altas, em
novembro deflacionou (-0,32%).
O
aumento do preço das bebidas alcoólicas foi puxado pela inflação das cervejas
(0,59%). Champanhe e vodca também inflacionaram no mês, com variação respectiva
de 0,89% e 1,61%. Por outro lado, aguardente (-0,17%) e vinho (-1,14%)
apresentaram queda no mês.
Artigos de Limpeza e Produtos de higiene e beleza
As categorias de artigos de limpeza e produtos de higiene e beleza apresentaram deflação de -0,37% e -0,20% em novembro. Com o resultado do último mês a categoria de artigos de limpeza apresenta estabilidade no ano e alta de 1,89% em doze meses. O gráfico a seguir apresenta a tendência de médio e longo prazo das duas categorias, indicando rápida e consistente desaceleração. A queda no preço das duas categorias aferida no período é decorrente tanto da redução do preço dos insumos produzidos internamente, quanto da redução da taxa de câmbio, que produz efeito direto sobre os custos tanto de importação quanto de produção.
Nota Metodológica
O
Índice de Preços dos Supermercados tem como objetivo acompanhar as variações
relativas de preços praticados no setor supermercadista ao longo do tempo. O
Índice de Preços dos Supermercados é composto por 225 itens pesquisados
mensalmente em 6 categorias: i) Semielaborados (Carnes Bovinas, Carnes Suínas,
Aves, Pescados, Leite, Cereais); ii) Industrializados (Derivados do Leite,
Derivados da Carne, Panificados, Café, Achocolatado em Pó e Chás, Adoçantes,
Doces, Biscoitos e Salgadinhos, Óleos, Massas, Farinha e Féculas, Condimentos e
Sopa, Enlatados e Conservas, Alimentos prontos,); iii) Produto In Natura
(Frutas, Legumes, Tubérculos, Ovos, Verduras); iv) Bebidas (Bebidas Alcoólicas,
Bebidas Não Alcoólicas); v) Artigos de Limpeza; vi) Artigos de Higiene e Beleza.
Assim, o IPS se apresenta como instrumento útil aos empresários do setor na
tomada de decisões com relação a preços e custos dos mais diversos produtos. No
que diz respeito à indústria, de maneira análoga, possibilita a tomada de
decisão com relação a preços e custos dos produtos destinados aos
supermercados. Ao mercado e aos consumidores é útil para a análise da variação
de preços ao longo do tempo possibilitando o acompanhamento da evolução dos
custos ao consumidor do setor supermercadista.
APAS – Associação Paulista de Supermercados
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