Transição deve ser acompanhada por médicos especialistas; hormônio é capaz de afetar o ciclo menstrual e o desenvolvimento da doença
Em todo o mundo, estima-se que a endometriose afete 190 milhões de
pessoas em idade reprodutiva, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. No
entanto, ela não é uma doença exclusiva das mulheres. Pessoas não-binárias e
homens transgênero também estão suscetíveis, mesmo aqueles em tratamento de
reposição hormonal.
A endometriose é uma
condição médica em que as células do endométrio, tecido que reveste o
interior do útero e é expelido durante a menstruação, deposita-se em órgãos
anexos, como ovários, trompas ou na cavidade abdominal. Lá, estas células se
multiplicam e voltam a sangrar conforme o ciclo menstrual, provocando reações inflamatórias e lesões que podem sensibilizar
o funcionamento desses órgãos, causar dores e até mesmo levar à
infertilidade.
É fato que nem todos os homens trans
fazem tratamento hormonal com testosterona; esta é uma decisão pessoal e que
deve ser feita com um acompanhamento médico especializado e de confiança.
Mas, apesar de escassos os estudos
científicos sobre os impactos do uso de testosterona no longo prazo, relatos
indicam que é comum haver alterações no ciclo menstrual. Por ser um hormônio
antagônico ao estrogênio, a testosterona pode reduzir os sintomas da
endometriose, mas também pode acabar mascarando o diagnóstico, prolongando a
condição no organismo e potencializando outras complicações.
“Nos casos em que os sintomas persistem, mesmo com o
tratamento de reposição hormonal, é preciso investigar com mais cuidado e
ponderar a possibilidade de um tratamento cirúrgico. Lembrando que, quando
falamos em cirurgia, estamos falando da retirada dos focos da endometriose, e
não da retirada do útero, que só é indicada em casos de necessidade clínica, e
em nada se relaciona com a identificação de gênero do paciente”, esclarece Dr. Patrick Bellelis, especialista em endometriose e
colaborador do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo.
O especialista destaca que ainda há
muitas barreiras de discriminação para pessoas transgênero, que afetam seu
acesso ao diagnóstico e tratamento mais adequados. “A saúde é um direito de
todas as pessoas, e a endometriose é uma condição relacionada diretamente ao
seu útero, seja ela mulher, homem ou não-binária. A transição de gênero é uma
fase sensível e de muitas mudanças, tanto no corpo quanto na vida pessoal e
social. Por isso, o acompanhamento médico e terapêutico é essencial”, conclui.
Clínica Bellelis - Ginecologia
Patrick Bellelis - Doutor em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP); graduado em medicina pela Faculdade de Medicina do ABC; especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Laparoscopia e Histeroscopia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo); além de ser especialista em Endoscopia Ginecológica e Endometriose pelo Hospital das Clínicas da USP. Possui ampla experiência na área de Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva, atuando principalmente nos seguintes temas: endometriose, mioma, patologias intrauterinas e infertilidade. Fez parte da diretoria da Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) de 2007 a 2022, além de ter integrado a Comissão Especializada de Endometriose da FEBRASGO até 2021. Em 2010, tornou-se médico assistente do setor de Endometriose do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital das Clínicas da USP; em 2011, tornou-se professor do curso de especialização em Cirurgia Ginecológica Minimamente Invasiva — pós-graduação lato sensu, do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês; e, desde 2012, é professor do Instituto de Treinamento em Técnicas Minimamente Invasivas e Cirurgia Robótica (IRCAD), do Hospital de Câncer de Barretos.
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