Pesquisar no Blog

quarta-feira, 11 de outubro de 2023

DIA DO PROFESSOR

 EDUCAÇÃO & FUTURO DO TRABALHO

Inteligências artificiais denunciam a ausência de diálogo entre educação e empregabilidade

 

A pauta do impacto dos novos modelos de inteligência artificial na educação permanece relevante e ganhou profundidade com os avanços das novas versões do ChatGPT e de similares. Embora não seja uma novidade, a temática continua presente nas conversas e nas preocupações de educadores ao redor do mundo. Muitos deles, inclusive, relataram intranquilidade e ansiedade; como resposta ao desassossego, passaram, então, a desenhar estratégias para evitar que os alunos usassem a ferramenta para "colar". Ou seja, associaram a tecnologia a um fator de deterioração do processo educacional – ameaça à adoção de metodologias pedagógicas convencionais. Do outro lado, vimos pesquisadores do futuro do trabalho recebendo, com bastante entusiasmo, o possível impacto positivo na produtividade dos profissionais. Nesse contexto, é fácil perceber que a IA é vista de maneira diferente por dois atores sociais que deveriam construir um entendimento conjunto sobre o assunto!

Na minha opinião, esses olhares para lados opostos ilustram muito bem o abismo entre educação e futuro do trabalho. Aqui, não estou me referindo ao preparo de profissionais qualificados para atender a mercados mediados pela tecnologia – ou para as oportunidades de inclusão produtiva. Dando um passo atrás, estou falando muito mais de letramento em futuros; de preparar uma nova geração de cidadãos para viver em um mundo mediado por códigos, no qual “colar” não deveria ser a maior preocupação.

Com uma lente dupla de educação e futuro do trabalho, faço uma leitura bastante pragmática sobre o impacto das inteligências artificiais nesses dois segmentos. As escolas precisarão repensar o sistema de avaliação dos alunos – que hoje é focado apenas na memorização e em um modelo conteudista. As AI já são qualificadas para armazenar as informações, mas não têm raciocínio e compreensão humana – é exatamente esse território que precisa ser habitado pelo estudante. Garantir vagas, ou seja, a empregabilidade dos nossos jovens profissionais do futuro, demanda ensinar e aprender de outra forma. É isso que as inteligências artificiais estão nos dizendo em alto e bom som!

Essa insistência em manter o status quo da indústria da educação – ilustrada por essa resistência em repensar a educação à luz do trabalho do futuro – está sendo desafiada pela tecnologia. E, dentro dessa lógica, vale enxergar que mais do que memorizar, os profissionais do futuro precisam aprender a fazer melhores perguntas para encontrar diferentes respostas, amparados pela inteligência artificial.

Eu tenho convicção que esse chamado para repensar a educação à luz da tecnologia e empregabilidade é bem urgente! Digo isso, especialmente, porque há mais de quatro anos estou imersa em um método bastante autoral de ensinar e trabalhar com tecnologia. A metodologia exclusiva e inovadora da 42, da qual sou sócia, é baseada na aprendizagem por projetos (gamificada), trabalho entre pares (peer-to-peer) e colaboração – por isso não possui professores nem aulas; as avaliações podem ser realizadas com consultas. Focado na excelência, o método foi criado em 2013, em Paris, e pensado para formar engenheiros de software com hard, soft e human skills, que saem prontos para atuar no mercado. Assim, os estudantes devem ser capazes de se adaptar, pensar de forma diferente, a fim de propor soluções inovadoras e éticas. Dessa forma, garantirão também seus postos.

Em dez anos no mundo, a 42 impactou mais de 18 mil pessoas em 29 países distribuídos em 50 campi. No Brasil, tem atualmente mais de 450 pessoas participando das trilhas de ensino nos campi do Rio e de São Paulo. Gratuita, representa uma nova visão de formação de profissionais comprometidos com a excelência técnica e ética (Human Coders).

Em um momento em que a tecnologia sustenta grande parte da inovação e do crescimento no mundo, repensar modelos – sejam eles educacionais ou sociais – é o melhor caminho a seguir. 



Karen Kanaan - Sócia da École 42 de São Paulo, atuou como diretora de atendimento em agências de publicidade no Chile e Brasil; foi diretora da Endeavor por seis anos; fundou uma startup digital acelerada pelo GFS (Google For Startups); cursou especialização em Empreendedorismo e Liderança na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology (MIT); e é pós-graduada em Inteligência Emocional pelo Instituto Albert Einstein.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados