EDUCAÇÃO & FUTURO DO TRABALHO
Inteligências
artificiais denunciam a ausência de diálogo entre educação e empregabilidade
A pauta do impacto dos novos modelos de
inteligência artificial na educação permanece relevante e ganhou profundidade
com os avanços das novas versões do ChatGPT e de similares. Embora não seja uma
novidade, a temática continua presente nas conversas e nas preocupações de
educadores ao redor do mundo. Muitos deles, inclusive, relataram
intranquilidade e ansiedade; como resposta ao desassossego, passaram, então, a
desenhar estratégias para evitar que os alunos usassem a ferramenta para
"colar". Ou seja, associaram a tecnologia a um fator de deterioração
do processo educacional – ameaça à adoção de metodologias pedagógicas
convencionais. Do outro lado, vimos pesquisadores do futuro do trabalho
recebendo, com bastante entusiasmo, o possível impacto positivo na
produtividade dos profissionais. Nesse contexto, é fácil perceber que a IA é
vista de maneira diferente por dois atores sociais que deveriam construir um
entendimento conjunto sobre o assunto!
Na minha opinião, esses olhares para lados opostos
ilustram muito bem o abismo entre educação e futuro do trabalho. Aqui, não
estou me referindo ao preparo de profissionais qualificados para atender a
mercados mediados pela tecnologia – ou para as oportunidades de inclusão
produtiva. Dando um passo atrás, estou falando muito mais de letramento em
futuros; de preparar uma nova geração de cidadãos para viver em um mundo
mediado por códigos, no qual “colar” não deveria ser a maior preocupação.
Com uma lente dupla de educação e futuro do trabalho,
faço uma leitura bastante pragmática sobre o impacto das inteligências
artificiais nesses dois segmentos. As escolas precisarão repensar o sistema de
avaliação dos alunos – que hoje é focado apenas na memorização e em um modelo
conteudista. As AI já são qualificadas para armazenar as informações, mas não
têm raciocínio e compreensão humana – é exatamente esse território que precisa
ser habitado pelo estudante. Garantir vagas, ou seja, a empregabilidade dos
nossos jovens profissionais do futuro, demanda ensinar e aprender de outra
forma. É isso que as inteligências artificiais estão nos dizendo em alto e bom
som!
Essa insistência em manter o status quo
da indústria da educação – ilustrada por essa resistência em repensar a
educação à luz do trabalho do futuro – está sendo desafiada pela tecnologia. E,
dentro dessa lógica, vale enxergar que mais do que memorizar, os profissionais
do futuro precisam aprender a fazer melhores perguntas para encontrar
diferentes respostas, amparados pela inteligência artificial.
Eu tenho convicção que esse chamado para repensar a
educação à luz da tecnologia e empregabilidade é bem urgente! Digo isso,
especialmente, porque há mais de quatro anos estou imersa em um método bastante
autoral de ensinar e trabalhar com tecnologia. A metodologia exclusiva e
inovadora da 42, da qual sou sócia, é baseada na aprendizagem por projetos
(gamificada), trabalho entre pares (peer-to-peer) e colaboração – por isso não
possui professores nem aulas; as avaliações podem ser realizadas com consultas.
Focado na excelência, o método foi criado em 2013, em Paris, e pensado para
formar engenheiros de software com hard,
soft
e human
skills, que saem prontos para atuar no mercado. Assim, os
estudantes devem ser capazes de se adaptar, pensar de forma diferente, a fim de
propor soluções inovadoras e éticas. Dessa forma, garantirão também seus
postos.
Em dez anos no mundo, a 42
impactou mais de 18 mil pessoas em 29 países distribuídos em 50 campi. No
Brasil, tem atualmente mais de 450 pessoas participando das trilhas de ensino
nos campi do Rio e de São Paulo. Gratuita, representa uma nova visão de
formação de profissionais comprometidos com a excelência técnica e ética (Human
Coders).
Em um momento em que a tecnologia sustenta grande parte da inovação e do crescimento no mundo, repensar modelos – sejam eles educacionais ou sociais – é o melhor caminho a seguir.
Karen Kanaan - Sócia da École 42 de São Paulo, atuou como diretora de atendimento em agências de publicidade no Chile e Brasil; foi diretora da Endeavor por seis anos; fundou uma startup digital acelerada pelo GFS (Google For Startups); cursou especialização em Empreendedorismo e Liderança na Universidade Harvard e no Massachusetts Institute of Technology (MIT); e é pós-graduada em Inteligência Emocional pelo Instituto Albert Einstein.
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