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quarta-feira, 10 de maio de 2023

Receitaram ‘modulação hormonal’ para você? Corra, pois não há evidência científica!

Endocrinologista alerta para prescrições indevidas de hormônios 

 

“Modulação hormonal não é algo praticado, reconhecido ou recomendado por qualquer instituição médica do planeta que se preze. Este nome é dado a uma prática não reconhecida pelas sociedades médicas onde o prescritor tenta atingir níveis arbitrários de hormônios no corpo do seu paciente, com objetivos estéticos e, teoricamente, de saúde”, alerta Dr. Júlio Américo Pereira Batatinha, endocrinologista membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo.

 

Nesta semana, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou resolução (leia aqui) proibindo a prescrição de esteroides androgênicos e anabolizantes seja para fins estéticos, ganho de massa muscular e de performance esportiva.

 

Conceitualmente, a terapia hormonal é um termo genérico que serve para designar as terapias onde, por uma deficiência hormonal ou em uma terapia afirmativa, se emprega o uso de hormônios, mais especificamente os hormônios sexuais: andrógenos, estrógenos e progestágenos. “Isso porque há diversas terapias em que se utiliza corretamente os hormônios, como diabetes e insulina, deficiência de hormônio de crescimento e uso do próprio hormônio do crescimento, mas que não chamamos, popularmente, de terapia hormonal”, explica Dr. Júlio.

 

Ele conta ainda que essas terapias com esteroides sexuais são comuns em pessoas com deficiências hormonais (homens ao longo da vida ou mulheres antes da menopausa), em mulheres pós-menopausa com os fogachos, em pessoas trans para a hormonioterapia cruzada, para a afirmação de gênero e diminuição de disforias associadas à ansiedade, depressão, entre outras.

 

“Quando nós pensamos na história da Medicina, principalmente atual, vemos um movimento científico crucial para a nossa prática que se chama Medicina baseada em evidência: o médico deve usar as melhores evidências disponíveis, por meio de estudos científicos, para guiar sua prática. Isso protege os pacientes de eventos adversos, desfechos ruins e aumenta a probabilidade de que um tratamento seja efetivo e tenha sucesso. Qualquer prática da área da Saúde que ignore a medicina baseada em evidência, é considerada má prática. É o caso de quem indica a terapia ou ‘modulação’ hormonal de forma arbitrária para fins estéticos ou de performance, pois não existem estudos que mostram essa prática como segura ou eficaz”, explica o endocrinologista.

 

Entre os riscos para saúde do uso indevido de hormônios, estão: aterosclerose, trombose, vasoespasmo, cardiotoxicidade. “Há, por exemplo, aumento de placas ateroscleróticas nas coronárias, artérias do coração. Majoritariamente um paciente jovem não terá um infarto, mas décadas após ter feito o abuso de anabolizantes sim. E muitos não correlacionam o infarto que tiveram agora com o abuso de anabolizantes no passado”.

 

Somam-se aos riscos: hepatotoxicidade com risco de tumores hepáticos, insuficiência hepática, necessidade de transplante, infecções no local de aplicação, problemas osteomusculares, infertilidade e riscos de disfunção sexual, disfunção erétil e diminuição da libido, piora da qualidade de vida (depressão, letargia, menor potência muscular), acne e ginecomastia.

 

“Nas mulheres pode acontecer atrofia das mamas, distúrbios menstruais e infertilidade além do hirsutismo, engrossamento da voz, alopecia e aumento de clitóris. No homem, é comum episódios de agressividade”, pontua o médico.

 

No corpo humano há um refinado sistema de regulação e contra-regulação dos níveis hormonais. Embora dois homens possam ter níveis diferentes de testosterona, ambos estarão saudáveis, pois para cada corpo existe um valor que, naquele momento e naquela condição, é saudável.

 

“Sempre que utilizarmos doses acima do que o corpo regulou como necessário, haverá superdosagem e, consequentemente, risco dos malefícios já descritos”, finaliza o médico.

 

Movimento para regulamentação - No final de março, 5 entidades médicas, entre elas a SBEM, pediram em carta conjunta ao Conselho Federal de Medicina a regulamentação sobre o uso de esteroides anabolizantes e similares para fins estéticos e de performance. Isso porque tem sido observado nos consultórios um número crescente de complicações advindas do uso indevido de hormônios. E muito disso é a apologia ao seu uso feita nas redes sociais, transmitindo um falso conhecimento e segurança na sua prescrição, colocando em risco a saúde da população.

 

Em 11/04/2023, o CFM divulgou Resolução CFM Nº 2.333 proibindo a prescrição de esteroides androgênicos e anabolizantes seja para fins estéticos, ganho de massa muscular e de performance esportiva.

 



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