Segundo a fonoaudióloga especialista em crianças atípicas,
Daniella Sales, conseguir vagas nas escolas e a garantia do direito à educação
inclusiva é um dos maiores desafios das famílias
“Não temos vagas”, “Não fechamos turma”. Essas são as frases mais comumente ouvidas pelas famílias de crianças atípicas quando chega a hora de buscar por uma escola que atenda às necessidades e garanta os direitos das crianças à educação inclusiva. Seja em escolas públicas ou particulares, a luta das famílias é a mesma: enfrentar a rejeição e conseguir uma vaga, garantir o direito de ter uma acompanhante terapêutica em sala e conseguir disponibilidade da escola para ajustar o ensino e as atividades de acordo com o planejamento da equipe de tratamento, além de lutar pela disponibilidade e engajamento de professoras e coordenadoras para feedbacks.
“As famílias estão nas mãos das escolas. É uma luta diária, uma corrida sem fim. Mesmo com o nosso apoio, as famílias recebem ‘não’ o tempo todo. Normalmente, a criança atípica já tem acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, porque iniciamos a intervenção precoce, então a busca pela escola tem esse nosso apoio”, desabafa a fonoaudióloga e diretora do Centro de Especialidades BabyKids, Daniella Sales Brom.
Mesmo
assim, quando conseguem a vaga, os pais precisam aceitar o que é oferecido
pelas escolas em termos de abertura. Um dos desafios mais comuns é o custeio da
assistente terapêutica em sala de aula para acompanhar a criança em suas
atividades. Apesar de ser um direito garantido por lei, a maioria das escolas
não respeita e o custo disso acaba ficando com as famílias, quando há a vaga. Na grande
Goiânia, esses valores podem variar entre R$ 1.500 e R$ 2.000.
Famílias refém das escolas
“Quando as escolas ficam sabendo que a criança tem diagnóstico de atraso no desenvolvimento, a vaga some no mesmo momento, ou dizem que podem até pegar a criança, mas não disponibilizam a AT escolar. Outra dificuldade frequente é com a adaptação dos materiais: eles aceitam a matrícula da criança, mas não adaptam as atividades pedagógicas, não auxiliam na interação social com as outras crianças, não dão abertura para reunir com a equipe (psicóloga, fonoaudióloga, terapeuta ocupacional e musicoterapeuta), o que prejudica muito o plano de desenvolvimento da criança”, explica a psicóloga infantil especialista em ABA, Letícia Alvarenga.
A abertura da escola para a família e a equipe de saúde multidisciplinar, responsável pelas terapias da criança, é fundamental porque ajuda no processo de consolidação das habilidades trabalhadas no consultório. Os pontos de melhoria são definidos e as estratégias são planejadas de maneira individualizada.
Segundo
Letícia, a frequência ideal de visitas à escola ou até mesmo reuniões on-line é
a cada dois ou três meses. “Algumas crianças demandam menos atenção e
conseguimos manter contato até pelo Whatsapp, mas precisamos da
disponibilidade e suporte de professoras, coordenadoras, diretoras e da
assistente terapêutica, mas nem sempre conseguimos”, diz.
Na prática, as escolas não respeitam as leis que garantem direitos
No ano passado, o decreto 10.502/2020 - sancionado pelo governo federal, mas suspenso pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – foi considerado discriminatório e um retrocesso nas políticas de inclusão, porque incentivava a criação de escolas especializadas para atender pessoas com deficiência. Agora, o governo de Goiás propôs mudanças do cargo de professor de apoio para a figura do “profissional de apoio escolar" na rede estadual de ensino (projeto de lei nº 10.882/22).
A mudança é questionada por famílias, professores, entidades de educação e até profissionais de saúde que acompanham essas crianças. Segundo especialistas, essas mudanças ferem a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, que garante serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender a educação especial.
Segundo
matéria do G1 Goiás, a LDB garante também a oferta da educação
especial e serviços como “métodos, técnicas e recursos
educativos para atender às suas necessidades; professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como
professores do ensino regular capacitados para a integração dos alunos e
educação especial para o trabalho, visando a efetiva integração na vida em
sociedade”.
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