Geralmente
associado ao tratamento de leucemias, transplante de medula óssea pode curar
pacientes com imunodeficiências congênitas e erros inatos do metabolismo
Crédito: Marieli Prestes |
Aos
5 anos de idade, Luna Gabrielly Rayol Rodrigues passou muito mal. Com uma forte
dor abdominal, dor de cabeça, vômito e febre alta, recebeu no hospital de
Fortaleza, onde foi atendida, o diagnóstico de SCID, sigla em inglês para
Síndrome de Imunodeficiência Combinada Grave. A doença rara afeta as células do
sistema imunológico, resultando em baixos níveis de anticorpos
(imunoglobulinas) e em um número baixo ou ausente de células T (linfócitos), mas
tem chance de cura com um transplante de medula óssea.
O
transplante foi realizado em agosto de 2022. Luna recebeu a medula doada pelo
pai, 50% compatível. Quatro meses depois, a criança pôde retornar para a sua
casa. “Vou voltar para o Ceará com a minha filha curada”, disse a mãe, Lívia
Raquel Carneiro Rayol. Agora, as duas só vem para Curitiba para as
consultas mensais de controle.
Além
do tratamento de doenças malignas como a leucemia, o transplante de
medula óssea é fundamental para o tratamento de pacientes com falências
medulares adquiridas e hereditárias, imunodeficiências primárias e doenças
raras. Cerca de 30% dos procedimentos realizados pelo Pequeno
Príncipe, maior hospital pediátrico do país, são em crianças diagnosticadas com
doenças raras. Segundo a chefe do Serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO)
da instituição, Carmem Maria Sales Bonfim, algumas doenças têm como única opção
de cura a realização do transplante, portanto a doação da medula por um doador
saudável é essencial para o paciente.
“Para
as crianças com erros inatos da imunidade, por exemplo, os doadores são ainda
mais fundamentais, porque como as doenças estão ligadas à questão genética nem
sempre o transplante pode ser entre aparentados”, explicou a médica. De acordo
com dados do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea
(Redome), o Brasil tem pouco mais de 5,2 milhões de cidadãos cadastrados, mas
ainda assim a chance de encontrar um doador compatível é de uma em cada cem
mil. Atualmente, cerca de 650 brasileiros estão em busca de um doador não
aparentado para passarem por um TMO. Dentro da família a chance de conseguir
alguém 100% compatível é de apenas 25%.
Sobre o Serviço de TMO
Por
isso, na Semana de Mobilização Nacional para a Doação de Medula Óssea (de 14 a
21/12), o Pequeno Príncipe reforça a importância desse ato que salva vidas. Em
2021, ano em que o Serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital completou
uma década de funcionamento, foram realizados 73 procedimentos, e 33% deles
contaram com doadores não aparentados. “Em dez anos de atuação, nos tornamos um
dos maiores centros de transplante pediátrico da América Latina, principalmente
na área de transplantes alogênicos [quando as células transplantadas vêm de
outro doador]”, frisou a chefe do serviço. Atualmente, o Pequeno Príncipe é
responsável por 12% de todos os TMOs pediátricos realizados no país.
O
Hospital dispõe de uma pessoa exclusivamente dedicada à busca de doadores e
pode identificar rapidamente as chances que um determinado paciente tem para
encontrar um doador nos bancos nacionais ou internacionais. “Mas se esta chance
for pequena ou a disponibilidade não for imediata, temos experiência para
prosseguir com outros tipos de doadores, como foi o caso de Luna”, informou a
especialista.
Em
média, 60 transplantes são realizados anualmente no Pequeno Príncipe,
referência nacional em procedimentos com doadores haploidênticos – quando a
compatibilidade não é de 100%. O atendimento de crianças de pouca idade é outra
especialidade que faz com que o Hospital receba pacientes de todo o país. Cerca
de 61% dos atendimentos são de fora de Curitiba.
Ao
longo de sua trajetória, o Serviço de TMO do Pequeno Príncipe já atendeu mais
de 400 crianças e adolescentes que tiveram a vida transformada pela realização
do transplante. O sucesso dos procedimentos se deve também à assistência
ofertada pela equipe multiprofissional. Médicos especialistas contam com o
suporte de profissionais de outras especialidades para uma atuação de
excelência. O serviço também atua em parceria com o Laboratório Genômico e o
Instituto de Pesquisa Pelé Pequeno Príncipe, por exemplo, para a definição de
um diagnóstico mais preciso e tratamento mais adequado.
Quem pode ser doador de
medula óssea?
Para
tornar-se um doador de medula óssea, alguns requisitos são necessários:
–
ter entre 18 e 35 anos para efetuar seu cadastramento;
–
estar em bom estado geral de saúde;
–
não ter doença infecciosa ou incapacitante;
–
não apresentar doença neoplásica (câncer), hematológica (do sangue) ou do sistema
imunológico; e
–
algumas complicações de saúde não são impeditivas para doação, sendo analisado
caso a caso.
Quem
cumpre as condições acima pode procurar o Hemocentro do seu estado para obter
mais informações e realizar seu cadastramento. Se a pessoa já for doadora, é
importante lembrar-se de manter atualizado o seu cadastro no Redome
com endereço e informações de contato.
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