Gleison Marinho
Guimarães, médico especialista em Pneumologia e Medicina do Sono, revela
estudos que comprovam os malefícios das noites mal dormidas
Muitas pessoas não levam em consideração o papel
fundamental de uma boa noite de sono no desempenho profissional. Isso porque
atenção, coordenação motora, ritmo mental e principalmente o alerta são
influenciados diretamente pelo estado de fadiga de um sono não reparador.
De acordo com Gleison Marinho Guimarães, médico
especialista em Pneumologia pela UFRJ e em Medicina do Sono pela ABMS, esta
necessidade de repouso varia de pessoa para pessoa e pode levar a consequências
tanto na saúde física, quanto mental. “Distúrbios neurais, cansaço, sonolência,
irritabilidade, ansiedade, depressão, problemas sexuais e estresse são sintomas
comuns de noites mal dormidas ou a falta de um sono adequado, que aumenta o
risco de erros e acidentes nos mais diversos locais de trabalho”, alerta.
Um estudo realizado pelo Departamento de Medicina
Respiratória da University of British Columbia, publicado pela Sleep
Medicine em dezembro de 2007, mostra que pacientes com Síndrome da
Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) podem ter impacto negativo sobre sua
performance no trabalho. Neste documento, foram usados métodos para avaliar a
sonolência diurna e a limitação para atividade no trabalho. Em determinado
grupo de trabalhadores, evidenciou-se diferença entre portadores de apneia leve
e grave em relação ao tempo de capacidade administrativa e interações mentais e
pessoais.
A pesquisa seguiu em busca de evolução nos
pacientes. “Aproximadamente 50 pessoas foram avaliadas novamente e 33 usaram o
aparelho de CPAP (Pressão Positiva Contínua nas Vias Aéreas), mostrando uma
melhora significativa entre a primeira avaliação com relação ao tempo de
capacidade administrativa, mental, relação interpessoal e produtividade. A
conclusão deste estudo revelou que existe forte relação entre sonolência
excessiva e redução da capacidade laborativa em uma população propícia a ter apneia
do sono”, pontua Guimarães.
Houve uma explosão na busca por tecnologias para
rastrear a duração e outras métricas quantitativas de sono. De acordo com uma
pesquisa, 25% dos americanos adultos usaram um smartphone ou dispositivo para
rastrear sua duração do sono. Embora o interesse em rastrear o sono entre a
população sugira maior interesse e conscientização sobre o sono, as avaliações
quantitativas não capturam uma avaliação holística e qualitativa do sono, não
oferecendo caracteres de um sono restaurador. Segundo uma pesquisa publicada
pelo Frontiers in Sleep, em julho deste ano, apenas um terço dos adultos dos
EUA relataram sono restaurador, o que é alarmante.
Para confirmar que a presença de distúrbios
respiratórios durante sono causa impactos negativos nos gastos em saúde, uma
pesquisa publicada pelo Journal of the American Geriatrics Society,
em fevereiro de 2008, revelou que gastos em saúde dois anos após diagnóstico de
apneia foram quase duas vezes maiores que no grupo de controle. “A conclusão desse
estudo mostra que pacientes com o distúrbio possuem uma alta taxa de utilização
dos serviços de saúde por comorbidade cardiovascular e uso de medicações com
propriedades psicoativas”, relata o especialista em Medicina do Sono.
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é altamente
prevalente e é um fator de risco reconhecido para acidentes automobilísticos.
Assim, regulamentos europeus oficiais relativos à aptidão para dirigir levou a
Sociedade Respiratória Europeia a estabelecer uma força-tarefa para abordar o
tema da apneia do sono, sonolência e direção, com o objetivo de fornecer uma
visão geral aos médicos envolvidos no tratamento de pacientes com o distúrbio,
além de estabelecer regulamentos que restringem a capacidade dos pacientes com
AOS de dirigir até serem tratados, mesmo reconhecendo o difícil acesso ao
diagnóstico dos distúrbios respiratórios do sono.
Essa publicação da European Respiratory Society
sobre apneia do sono, sonolência e risco de condução foi publicada em 2021 no
European Respiratory Journal e avalia a epidemiologia dos pacientes com AOS, os
mecanismos envolvidos nesta associação, o papel de questionários de triagem,
uso de simuladores de direção e outras técnicas para avaliar sonolência e
comprometimento da vigilância; o impacto do tratamento com pressão positiva
contínua nas vias aéreas no risco de acidentes nos motoristas afetados; e ainda
destaca as dificuldades na identificação de pacientes com apneia do sono.
De acordo com o pneumologista, o impacto econômico provocado pelo distúrbio não se limita aos gastos na área da saúde. “A apneia do sono quando não tratada está associada à baixa performance laborativa, doenças ocupacionais e o impacto econômico desse quadro envolve bilhões de dólares por ano. É importante que os órgãos governamentais divulguem os grandes benefícios da terapia adequada com CPAP, por exemplo, melhorando a vida e o dia a dia de pessoas portadores da apneia do sono”, finaliza.
Gleison Marinho Guimarães - médico especialista em Pneumologia pela UFRJ e pela Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), especialista em Medicina do Sono pela Associação Brasileira de Medicina do Sono (ABMS) e também em Medicina Intensiva pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB). Possui certificado de atuação em Medicina do Sono pela SBPT/AMB/CFM, Mestre em Clínica Médica/Pneumologia pela UFRJ, membro da American Academy of Sleep Medicine (AASM) e da European Respiratory Society (ERS). É também diretor do Instituto do Sono de Macaé (SONNO) e da Clinicar – Clínicas e Vacinas, membro efetivo do Departamento de Sono da SBPT. Atuou como coordenador de Políticas Públicas sobre Drogas no município de Macaé (2013) e pela Fundação Educacional de Macaé (Funemac), gestora da Cidade Universitária (FeMASS, UFF, UFRJ e UERJ) até 2016. Professor assistente de Pneumologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro – Campus Macaé.
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