Câncer de pele é o tipo mais
evitável, mas em contrapartida, é o de maior incidência no Brasil
Estamos
no Dezembro Laranja e como oncologista eu faço um apelo: pais, não deixem suas
crianças e adolescentes por períodos prolongados sob a radiação solar. O dano
na pele é cumulativo e o câncer pode não aparecer imediatamente, mas a habitual
exposição exagerada ao sol eleva muito a chance de a doença surgir anos depois.
O
apelo se estende às escolas, que não devem programar a grade de aulas de
educação física em espaços descobertos no período de 10h às 16h. Os pequenos e
os jovens não têm a consciência de que precisam ter essa responsabilidade, por
isso os adultos devem educar os mais novos sobre a importância de se ter esse
cuidado. Entre praticar exercício físico no sol usando protetor solar ou se
exercitar na sombra sem o protetor, prefira a sombra.
A
observação é ainda mais fundamental nesta época de férias escolares, verão, de
passeios ao ar livre e de viagens para o litoral.
Segundo
dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer), o de pele é o câncer mais
frequente no Brasil e corresponde a cerca de 30% de todos os tumores malignos
registrados no país. O índice é alarmante, ainda mais quando refletimos sobre o
fato deste tipo de tumor maligno ser o mais evitável de todos.
É
simples. É só não se expor diretamente ao sol por horas seguidas e nem por
períodos menores com assiduidade. Mas é muito difícil pedir para a pessoa
deixar de fazer o que contraria a sua vontade ou o que lhe dá prazer. E ainda
existe a questão cultural de que o bronzeado remete à beleza e conota status.
Quem
tem esse conhecimento deve medir as consequências das suas escolhas. Porque
permanecer tomando sol perseverantemente, mesmo que usando protetor solar, tem
o seu preço. Vale mesmo a pena? Admito que é de se estranhar uma pessoa que
passou a vida esturricando no sol chegar ao meu consultório e ficar surpresa
com a notícia de que tem câncer de pele. Afinal, isso é o esperado e um dia o
corpo pode cobrar pela conduta.
Falando
em protetor solar, é preciso ressaltar que há uma falsa sensação de segurança
na saúde com o uso do produto. Evidentemente que é essencial que se utilize
porque ele protege contra queimaduras solares, bolhas, descascados e ardência.
Mas não evita o câncer por completo devido ao efeito cumulativo da radiação na
pele!
O
protetor solar de qualidade com fator 30 e acima é eficaz na diminuição de 95%
dos raios UVA e UVB. Mas os 5% que ele não bloqueia a radiação, com a
constância do banho de sol na rotina, os riscos do surgimento do câncer são
elevados, bem como aumenta a probabilidade do envelhecimento precoce.
E
a proteção de 95% ainda depende do quanto a pessoa repassa o produto na pele. O
suor, a entrada na água do mar ou da piscina e o contato com o tecido de roupas
ou da toalha geram a perda da eficácia da solução.
As
roupas feitas com tecidos tecnológicos oferecem eficácia comprovada, mas
infelizmente esses modelos são caros e não são acessíveis para a maior parte
das pessoas.
Assim
como os outros tipos de câncer, o de pele, quando diagnosticado no início, tem
menos chance de deixar sequelas severas ou de se expandir para outras partes do
organismo, podendo inclusive ser fatal. Para isso, é necessário ficar de olho
na pele e acompanhar se não há o aparecimento de pintas, verrugas ou mudanças
no aspecto das marcas que já existem, mesmo as de nascença.
Uma
boa fonte para comparação da aparência das pintas benignas e malignas criada
pela Organização Mundial de Saúde para ajudar as pessoas leigas a reconhecer o
perigo é a “Regra do ABCDE”. Assimetria, Bordas irregulares, Coloração,
Diâmetro e Evolução são tópicos que devem ser notados visualmente
quando se tem dúvida quanto a pinta. A Regra do ABCDE é de fácil acesso pela
internet e há fotografias que podem ser úteis neste confronto.
E
se perceber uma pinta nova ou transformação em uma marca antiga, não espere
para confirmar se ela está mudando mesmo. Procure um dermatologista o quanto
antes. A Regra do ABCDE já salvou muita gente.
Dr. Paulo Pizão - profissional
global. Por ter trabalho como docente em faculdade, como pesquisador na
indústria farmacêutica, gestor em instituições de saúde e por atuar no
atendimento clínico, tem uma visão geral do setor e conhece o mecanismo desse
segmento. Coordena o Serviço de Oncologia Clínica do Hospital da PUC Campinas;
coordena a equipe médica da Oncologia Vera Cruz Hospital; é pesquisador no
Centro de Pesquisa Clínica São Lucas (PUC-Campinas) e coordena a disciplina de
Oncologia Clínica no Curso de Medicina da Faculdade São Leopoldo Mandic,
Campinas-SP.
Nenhum comentário:
Postar um comentário