É uma pergunta que imagino que esteja nas cabeças de muitas das pessoas da minha rede e que eu mesmo já gastei um tempo considerável pensando e pesquisando sobre. Num contexto completamente obcecado por gerenciamento do negócio através de métricas, muitos fundadores e líderes têm dificuldade de responder essa pergunta sobre eles mesmos. Não é suficiente medir a performance de um líder pelas métricas da empresa, isso não entregaria nenhum insight valioso em relação a como melhorar como líder. Deve haver uma maneira melhor!
Esse texto foi escrito a partir das ideias, vídeos
e artigos de Ali Rowghani, CFO da Pixar por 4 anos, passando pelos cargos de
CFO e COO do twitter, e hoje em dia é partner da Y Combinator, programa e fundo
de startups do qual participamos com a Cumbuca em 2021. Em seu tempo
trabalhando em grandes empresas interagiu diretamente com líderes e fundadores
como Steve Jobs (CEO Pixar), Bob Iger (CEO Disney) e Ed Catmull (fundador
Pixar) e impressionantemente os três eram líderes muito diferentes. Um era um
cientista introvertido, enquanto o outro era um artista extrovertido.
Apesar das diferenças, todos conseguiram gerar
quantidades extraordinárias de confiança nas pessoas ao seu redor.
Essa construção de confiança foi feita acatando 3 pilares, porém cada um de sua
maneira única. Ali Rowghani defende que esses três pilares são os fundamentos
de um grande líder. Agora, o que isso tem a ver com medir liderança?
Medir liderança é uma tarefa especialmente
complicada, pois quando pensamos nos melhores líderes do mundo, como falamos,
todos tem seu estilo próprio de gestão que se encaixa da melhor maneira no
contexto em que estão inseridos. Eu acredito que qualquer tipo de pessoa pode
se tornar um excelente líder, podendo liderar de maneira diferente e ainda sim
ser bem sucedido. Porém, para gerar confiança e ser seguido como um líder,
precisa se sobressair em 3 pilares:
Clareza de pensamento e
comunicação
Grandes líderes pensam e se comunicam com clareza.
Eles descrevem uma visão do futuro que compele as pessoas a trabalharem duro
para alcançá-la. Se seus liderados estão confusos sobre a sua missão e
estratégia, ou então não achem motivante ou credível o suficiente, eles não irão te
seguir com o foco e determinação necessários para serem bem sucedidos…
Clareza de pensamento sempre procede a clareza de
linguagem. A melhor maneira de se comunicar com mais clareza é pensar no que
você quer comunicar. Uma vez que estiver cristalino o que você gostaria de
comunicar e o que é mais importante que todos entendam, pratique explicar esses
pontos em termos simples. A simplicidade aqui é vital e é mais difícil de
alcançar do que parece. Reservar um tempo para se preparar para comunicados
internos aumenta de importância conforme a empresa cresce. Ao escalarmos,
teremos cada vez mais diversidade em nossos times e cada vez menos funcionários
terão uma ligação direta com você. Por isso, essas pessoas têm bem menos
chances de ter um momento “Você entendeu o que eu quis dizer” com você e terão
mais chances de ficarem confusas e críticas caso você não comunique direito.
Grandes líderes gastam tempo preparando
comunicações importantes. Nenhum deles improvisa, não importa o quão naturalmente
talentoso ele seja como comunicador.
Julgamento de pessoas
Grandes líderes têm uma boa intuição com pessoas,
em especial quando eles precisam selecionar quem eles darão mais
responsabilidades e poder dentro da empresa. Eles são capazes de enxergar
potencial escondido nas pessoas e identificar casos onde a ambição excede a
habilidade. E quando eles cometem erros de contratação ou promoção (que são
inevitáveis, alguma hora vão acontecer), têm a coragem de retificar essa
situação se o funcionário não responde bem aos estímulos para melhorar. É muito
danoso para uma empresa recompensar comportamentos que não merecem
reconhecimento, contratar, ou colocar a pessoa errada em posições de liderança,
pois impacta fortemente nossa cultura e modus operandi. Pior do que isso apenas
é não falhar em consertar esses erros após acontecerem. Moral da história é: O
julgamento em torno da contratação ou promoção é o mais importante, pois
líderes que demitem muitos dos que eles mesmos elencam perdem muita
credibilidade e confiança.
Nem todo mundo tem o dom para julgar assertivamente
uma pessoa, mas todos conseguimos melhorar! Conseguir mais dados vai te ajudar
a tomar decisões melhores. Na hora de contratar alguém para uma posição de
liderança, tente conversar com a maior quantidade de pessoas excepcionais nessa
área possível, isso te ajudará a ter uma base melhor de comparação e afiar seus
conceitos sobre um bom profissional naquele contexto. Além disso, é importante
passar a maior quantidade de tempo com as pessoas com quem você pensa em
contratar e fazer a maior quantidade de checagens de referências possíveis.
Integridade e comprometimento
Grandes líderes têm integridade e comprometimento
excepcionais com a missão deles. Integridade nesse caso significa lutar por
algo significativo que vai além dele mesmo ao invés de se motivar por
interesses pessoais. Significa conseguir admitir um erro ao invés de agir como
se sempre estivesse certo, tendo humildade para receber feedback crítico
abertamente e trabalhar para melhorar. Significa evitar comportamentos como
favoritismo, conflitos de interesse, linguagem inapropriada, relações
inadequadas de trabalho que diminuem a confiança que seu time tem em você.
Um bom teste para medir integridade é: Se seu time
tivesse 100% de visibilidade das suas comunicações privadas e comportamento com
os funcionários do seu time e da empresa, você ficaria com vergonha de algo que
falou ou fez? Essa barra é super alta, mas é uma que grandes líderes lutam para
atender. Além de colocar tempo no trabalho, grandes líderes colocam o trabalho
como uma das missões centrais de sua vida de maneiras que inspiram outros. Eles
tiram um significado pessoal profundo liderando pessoas para atingir uma
missão. Esse comprometimento pessoal se transcreve em níveis altos de
produtividade e execução, o que em troca se torna a fundação para fazer com que
os outros façam o mesmo…
Todos os caminhos levam a Roma
confiança
Construir confiança é uma mistura de arte e
ciência, requer competências distintas e também caráter. Confiança é construída
quando líderes pensam com clareza sobre o futuro e movem suas organizações para
o lugar certo. As previsões sobre os produtos/features que precisamos
construir, os investimentos que devemos fazer e as mudanças no contexto
competitivo e tecnológico estavam corretas? E as pessoas que você escolheu para
liderar essa organização, foram a escolha certa? Ao longo do tempo as respostas
para essas perguntas ficam claras e se você responder muitas delas
corretamente, você ganha a confiança das pessoas a sua volta, essa é a ciência
de se construir confiança.
A arte de criar confiança é um pouco mais
complicada. Ela está ligada à habilidade de se comunicar com integridade. É
construída quando você fala a coisa certa na hora certa, mostra empatia e bom
julgamento. Ela cresce quando você luta por ideais grandiosos ao invés de ligar
primeiramente para fama, dinheiro, sucesso ou cargos. Ela também cresce quando
você é honesto com os outros, admitindo seus erros e não tenta ser outra
pessoa. Por isso você não pode tentar copiar o Steve Jobs, a Michelle Obama, Ed
Catmull ou Bob Iger na sua caminhada para se tornar um grande líder. Você só
pode ser você mesmo.
Acho que a maior lição que fica dos pensamentos de
Ali Rowghani é não se preocupar em imitar suas referências, seja verdadeiro com
você mesmo e os seus sentimentos. Nas próximas decisões difíceis ou momentos
pivotais de sua empresa, enquanto você avalia caminhos para seguir, reflita
sobre qual caminho vai gerar a maior quantidade de confiança e sempre tente
escolher esse caminho. Faça isso com paixão e consistência que será apenas uma
questão de tempo!
Bruno
Cury - cofundador da Cumbuca, primeira fintech
brasileira a oferecer conta compartilhada gratuita via aplicativo. Com veia
empreendedora, Bruno tem se dedicado a novos negócios desde a adolescência,
estando por trás do desenvolvimento de ao menos três empresas, entre elas a
Cumbuca e a UmHelp, marketplace de serviços de limpeza focado em diaristas. Ao
longo de sua trajetória, o especialista acumulou, ainda, experiência na
estruturação e operação das áreas de atendimento e experiência do cliente,
logística e capacitação e seleção de profissionais. Atualmente é responsável
pela operação da Cumbuca, atual investida, com a responsabilidade de garantir a
velocidade e excelência na execução em busca dos objetivos macro da empresa.
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