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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Tempos modernos: psicóloga comenta como a tecnologia alterou as relações sociais e conceitos

As redes sociais e a agilidade da vida moderna alteraram profundamente o comportamento humano
 

Os tempos mudaram, é fato. A globalização e a entrada da internet em nossas vidas mudaram significativamente a rotina, as relações, o poder, o capital e a organização do trabalho. “A interação com a tecnologia não se resume apenas ao uso de novos aparelhos e sistemas, mas a uma nova lógica no pensar e na forma como lidamos com noções já interiorizadas, como as de tempo e espaço”, opina a coordenadora do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, psicóloga (CRP 06/50926) Sueli Cominetti Corrêa. 

A especialista lembra que os padrões de comportamento e noções foram profundamente alterados: Por exemplo: a noção do que é “antigo”. O que é antigo? O que ocorreu há muito tempo ou a há dois dias? O que é longe - considerando que podemos acessar lugares de forma remota? 

“Não gostamos de contar sobre nossa vida particular para as pessoas, no entanto, publicamos fotos, mensagens e declarações altamente reveladoras em redes sociais. Ao mesmo tempo que defendemos o direito de privacidade, monitoramos quem está online ou não, e baixamos novas versões de aplicativos para rastrear as interações dos outros”. 

Na opinião da psicóloga, o limiar de tolerância à frustração das pessoas também se tornou menor. “Vivemos um tempo acelerado. Quando contatamos alguém, temos pressa na resposta. Falamos e queremos retorno quase que imediato. Não aguentamos esperar. Esta urgência repercute, por exemplo, nos processos educacionais, nos feedbacks corporativos, na comunicação familiar e também nos relacionamentos amorosos”, diz.
 

TEMPOS LÍQUIDOS 

Ao mesmo tempo em que a sociedade tem acesso a muitas informações, utilizamos nossa capacidade seletiva e, às vezes, temos dificuldade em processar tantos dados. “Além disso, convivemos diariamente com as fake news e com o fato de que tudo fica rapidamente obsoleto, o que traz para o ser a necessidade de ‘ter que saber de tudo, sempre e imediatamente’.” 

Não saber e não ter domínio é desconfortante, ainda mais numa era definida pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman como “era da incerteza”, uma era “líquida”, fluida, que muda de contornos constantemente. 

“Esta pressa por saber das coisas pode nos fragilizar, impactando no uso da nossa criticidade”. Às vezes, aceitamos fatos sem comprovação. Acrescido a isto, temos a nossa subjetividade e a nossa própria interpretação da realidade. Temos a tendência de dar significados a coisas que não sabemos explicar usando nossos valores, expectativas e história pessoal. Quando nos defrontamos com um cenário incompleto, uma informação parcial, tendemos a ‘completá-la’ à nossa maneira. Suposições são uma grande barreira para a comunicação e para os relacionamentos”.
 

MUITAS INTERPRETAÇÕES 

Como explica o sociólogo John B Thompson, nas interações mediadas, aquelas com uso de um meio técnico (telefone, por exemplo), podemos estar em tempos e locais distintos e precisamos de mais pistas, de mais referências na mensagem para que o receptor possa compreender a mensagem emitida, do contrário, usamos os nossos próprios recursos simbólicos para a compreensão. 

“Quando estamos numa ligação telefônica com alguém, reparamos no tom de voz, nas pausas, na escolha das palavras... são pistas que buscamos para completar a compreensão do que é dito. Agora, quando nos expressamos apenas pelo caminho virtual, por redes sociais, por exemplo, e fazemos uma publicação, não sabemos como ela será interpretada, pois não ‘controlamos’ quem a acessa e nem damos pistas direcionadas. Não sabemos se as informações que postamos são suficientes para a mensagem ser clara e fiel ao que queremos comunicar e muitas vezes a pessoa que ‘recebe’ acha que nos entendeu com as referências que já possui”, explica a psicóloga.
 

RELACIONAMENTOS MUDARAM 

Nas relações amorosas, também temos exemplos dessas influências: Temos pressa de achar a pessoa certa: tem que dar “match” logo. Ao mesmo tempo que temos novas formas para encontrar pessoas e nos relacionarmos, a Psicologia tem se defrontado continuamente com a queixa de isolamento, de solidão por parte das pessoas. Tantos amigos em aplicativos e o sentimento de estar só, pode ocorrer. “Talvez perguntas importantes sejam: o que a pessoa procura? Encontrará em alguém? Temos a chance de fazer parte de muitos grupos, mas às vezes o que queremos é fazer parte da vida de alguém. Muitas vezes só buscamos companhia”, opina. 

Com relação à entrada da tecnologia no amor, as facilidades dos recursos tecnológicos potencializam a dúvida e esbarram nas crenças, expectativas e combinados. Nos namoros menos influenciados pela tecnologia, há um processo de descoberta menos apressado, diferentemente do que vemos nas redes sociais. No entanto, os encontros e desencontros acontecem tanto nos relacionamentos presenciais como nos virtuais. 

A especialista lembra, que os conceitos estão ganhando novos contornos: sobre a fidelidade, por exemplo: ver as publicações de outras pessoas, navegar em sites, baixar aplicativos fere o conceito de fidelidade? Conversar com outras pessoas ou seguir a rede social de alguém é uma traição? A noção de compromisso é outro exemplo: se há um relacionamento e a pessoa desejada está online, por que não interage? Ela pode estar ocupada, mas e se estiver desinteressada? E quanto à confiança? Se você confia, deve monitorar o seu par? Estamos repletos de desafios éticos e psicológicos neste novo cenário de relacionamentos. Uma coisa, entretanto, carregamos: somos sociáveis e temos necessidade de adaptação, portanto, continuaremos desbravadores na arte de viver.”, finaliza a especialista.



Anhanguera

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