As redes sociais e a agilidade da vida moderna alteraram profundamente o comportamento humano
Os tempos mudaram, é fato. A globalização e a
entrada da internet em nossas vidas mudaram significativamente a rotina, as
relações, o poder, o capital e a organização do trabalho. “A interação com a
tecnologia não se resume apenas ao uso de novos aparelhos e sistemas, mas a uma
nova lógica no pensar e na forma como lidamos com noções já interiorizadas,
como as de tempo e espaço”, opina a coordenadora
do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera, psicóloga (CRP 06/50926) Sueli
Cominetti Corrêa.
A especialista lembra que os padrões de
comportamento e noções foram profundamente alterados: Por exemplo: a noção do
que é “antigo”. O que é antigo? O que ocorreu há muito tempo ou a há dois dias?
O que é longe - considerando que podemos acessar lugares de forma remota?
“Não gostamos de contar sobre nossa vida particular
para as pessoas, no entanto, publicamos fotos, mensagens e declarações
altamente reveladoras em redes sociais. Ao mesmo tempo que defendemos o direito
de privacidade, monitoramos quem está online ou não, e baixamos novas versões
de aplicativos para rastrear as interações dos outros”.
Na opinião da psicóloga, o limiar de tolerância à
frustração das pessoas também se tornou menor. “Vivemos um tempo acelerado.
Quando contatamos alguém, temos pressa na resposta. Falamos e queremos retorno
quase que imediato. Não aguentamos esperar. Esta urgência repercute, por
exemplo, nos processos educacionais, nos feedbacks corporativos, na comunicação
familiar e também nos relacionamentos amorosos”, diz.
TEMPOS LÍQUIDOS
Ao mesmo tempo em que a sociedade tem acesso a
muitas informações, utilizamos nossa capacidade seletiva e, às vezes, temos
dificuldade em processar tantos dados. “Além disso, convivemos diariamente com
as fake news e com o fato de que tudo fica rapidamente obsoleto, o que
traz para o ser a necessidade de ‘ter que saber de tudo, sempre e
imediatamente’.”
Não saber e não ter domínio é desconfortante, ainda
mais numa era definida pelo sociólogo
e filósofo polonês Zygmunt Bauman como “era da incerteza”, uma era
“líquida”, fluida, que muda de contornos constantemente.
“Esta pressa por saber das coisas pode nos
fragilizar, impactando no uso da nossa criticidade”. Às vezes, aceitamos fatos
sem comprovação. Acrescido a isto, temos a nossa subjetividade e a nossa
própria interpretação da realidade. Temos a tendência de dar significados a
coisas que não sabemos explicar usando nossos valores, expectativas e história
pessoal. Quando nos defrontamos com um cenário incompleto, uma informação
parcial, tendemos a ‘completá-la’ à nossa maneira. Suposições são uma grande
barreira para a comunicação e para os relacionamentos”.
MUITAS INTERPRETAÇÕES
Como explica o sociólogo John B Thompson, nas
interações mediadas, aquelas com uso de um meio técnico (telefone, por
exemplo), podemos estar em tempos e locais distintos e precisamos de mais
pistas, de mais referências na mensagem para que o receptor possa compreender a
mensagem emitida, do contrário, usamos os nossos próprios recursos simbólicos
para a compreensão.
“Quando estamos numa ligação telefônica com alguém,
reparamos no tom de voz, nas pausas, na escolha das palavras... são pistas que
buscamos para completar a compreensão do que é dito. Agora, quando nos
expressamos apenas pelo caminho virtual, por redes sociais, por exemplo, e
fazemos uma publicação, não sabemos como ela será interpretada, pois não
‘controlamos’ quem a acessa e nem damos pistas direcionadas. Não sabemos se as
informações que postamos são suficientes para a mensagem ser clara e fiel ao
que queremos comunicar e muitas vezes a pessoa que ‘recebe’ acha que nos
entendeu com as referências que já possui”, explica a psicóloga.
RELACIONAMENTOS MUDARAM
Nas relações amorosas, também temos exemplos dessas
influências: Temos pressa de achar a pessoa certa: tem que dar “match” logo. Ao
mesmo tempo que temos novas formas para encontrar pessoas e nos relacionarmos,
a Psicologia tem se defrontado continuamente com a queixa de isolamento, de
solidão por parte das pessoas. Tantos amigos em aplicativos e o sentimento de
estar só, pode ocorrer. “Talvez perguntas importantes sejam: o que a pessoa
procura? Encontrará em alguém? Temos a chance de fazer parte de muitos grupos,
mas às vezes o que queremos é fazer parte da vida de alguém. Muitas vezes só
buscamos companhia”, opina.
Com relação à entrada da tecnologia no amor, as
facilidades dos recursos tecnológicos potencializam a dúvida e esbarram nas
crenças, expectativas e combinados. Nos namoros menos influenciados pela
tecnologia, há um processo de descoberta menos apressado, diferentemente do que
vemos nas redes sociais. No entanto, os encontros e desencontros acontecem
tanto nos relacionamentos presenciais como nos virtuais.
A
especialista lembra, que os conceitos estão ganhando novos contornos: sobre a
fidelidade, por exemplo: ver as publicações de outras pessoas, navegar em
sites, baixar aplicativos fere o conceito de fidelidade? Conversar com outras pessoas
ou seguir a rede social de alguém é uma traição? A noção de compromisso é outro
exemplo: se há um relacionamento e a pessoa desejada está online, por que não
interage? Ela pode estar ocupada, mas e se estiver desinteressada? E quanto à
confiança? Se você confia, deve monitorar o seu par? Estamos repletos de
desafios éticos e psicológicos neste novo cenário de relacionamentos. Uma
coisa, entretanto, carregamos: somos sociáveis e temos necessidade de
adaptação, portanto, continuaremos desbravadores na arte de viver.”, finaliza a
especialista.
Anhanguera
https://www.anhanguera.com/ e https://blog.anhanguera.com/category/noticias/
Kroton
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