Os bancos estão passando por uma considerável mudança no Brasil com a entrada de novos tipos de competidores. A tão esperada digitalização, acelerada com a pandemia da covid-19, afetou também a competição no eficiente setor bancário de nosso país. Sim, porque dentre tantas consequências que a inflação nos trouxe, uma delas foi positiva: um sistema bancário tecnologicamente sólido e eficiente.
Nos últimos anos, o setor financeiro começou a
sentir o impacto das FinTechs, empresas que misturam
tecnologia da informação e finanças para fornecer serviços financeiros com alto
grau de tecnologia para os clientes. Especificamente, estamos falando das FinTechs
que prestam serviços semelhantes aos bancos estabelecidos, denominadas bancos digitais.
Dentre os principais serviços oferecidos por essas empresas estão a abertura de
contas, transferências via PIX e pagamentos de contas e tributos.
Uma característica peculiar e que concede vantagem
aos bancos brasileiros estabelecidos é a quantidade e amplitude de produtos e
serviços oferecidos. Com a oferta de itens que superam a centena, esses bancos
contemplam diversas necessidades de seus clientes, que vão desde consórcios até
investimentos de alta complexidade.
Porém, ser digital também significa nascer digital.
A simples digitalização, ou seja, colocar uma “máscara” nos bancos tradicionais
e denominá-los de digitais parece não ser uma boa ideia. Esse artifício pode
ser facilmente percebido pelo correntista, o qual é rapidamente surpreendido com
aviso de “compareça à sua agência” caso ocorra algum problema no seu app.
Nos bancos digitais, que não possuem agências físicas, essa mensagem é
impensável. Ou seja, muitas vezes, os clientes dos “bancos de tijolo” recorrem
às próprias agências de tijolo para resolver problemas originados no mundo
digital.
Nesse ecossistema, começam a aparecer os bancos
médios, autodenominados futuros hub de negócios. Essas empresas estão
abertas para parcerias com outros bancos digitais e FinTechs. Então, o
futuro do setor bancário não será determinado apenas
pelos movimentos dos grandes bancos estabelecidos ou pelos pequenos entrantes
(mas crescentes) bancos digitais. Os bancos de médio porte podem estabelecer
parcerias lucrativas com bancos digitais abrindo seus negócios a essas
empresas.
Não será fácil para os bancos digitais concorrerem
com instituições com décadas de existência e sobreviventes a tantos infortúnios
de uma economia tão conturbada. Poucas foram as provas de fogo pelas quais os
bancos digitais passaram até hoje. Dessa forma, ainda precisarão demonstrar
resiliência para competir ombro a ombro com os bancos estabelecidos. Uma forma
de prever o futuro da competitividade é, por um lado, analisar as aquisições e
criações de bancos digitais por parte dos bancos estabelecidos e, por outro,
verificar o comportamento dos bancos digitais em relação às parcerias e fusões
que se estabelecem no mercado com outros players.
Na análise da concorrência nos mercados financeiros, não se pode incorrer no erro de simplificar a questão. Não se está à procura de um "vencedor" no mercado. No futuro, é provável que o mercado se divida entre os tradicionais e os digitais. Além disso, não se pode ignorar que novos participantes (por exemplo, Agentes Autônomos de Investimentos) também aumentem sua participação no mercado. Porém, não se pode contestar o poder dos bancos estabelecidos e sua resistência durante a história do nosso sistema financeiro.
Itamir
Caciatori Junior - doutor em Administração, professor de Finanças da Escola de
Negócios da Universidade Positivo (UP).
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