Opinião
A colocação do presidente Bolsonaro nas pesquisas
eleitorais e o índice de rejeição foram construídos a duras penas durante os
seus anos de mandatos, com crises políticas, conflitos desnecessários e com
escolha de agendas que agradam seu eleitorado cativo. O presidente criou
antipatias e situações que fragilizam sua campanha à reeleição, algo incomum
entre candidatos que têm a máquina pública na mão e a base de apoio que o
presidente conquistou no Congresso Nacional.
Desde que a regra de reeleição foi estabelecida em
1997, todos os candidatos à presidência que concorreram pela segunda vez
consecutiva foram reconduzidos ao cargo com disputas mais ou menos acirradas,
mas a vitória foi conquistada. Tomando as pesquisas de intenção de votos para
os governos estaduais, observamos que os candidatos à reeleição têm sido
protagonistas nas disputas, o que demonstra a vantagem de estar em condição de
disputar a reeleição. Se Bolsonaro não conseguir êxito no processo eleitoral de
2022, será o primeiro caso de um presidente que concorre à reeleição e não
consegue seu objetivo. A vantagem dos candidatos a reeleição é enorme para
qualquer cargo, afinal, ter conquistas políticas, recursos e capacidade de
fazer uma campanha eleitoral de forma mais tranquila, facilita a recondução dos
candidatos. Além disso, estar em um cargo como o de Presidente ou Governador,
lhe dá a condição de fazer uso do próprio governo de maneira indireta no
processo eleitoral, já que é muito improvável a separação entre a figura do
candidato e a do político em exercício da função. Essa situação daria ao
candidato Bolsonaro uma vantagem enorme e, em tese, o colocaria de forma
destacada nas pesquisas de intenção de votos frente aos seus adversários, o que
até o momento não tem se demonstrado, afinal, permanece em segundo lugar, e com
Lula criando vantagem. Tal situação diz muito mais sobre a forma com a qual o
presidente Bolsonaro conduziu seu governo do que propriamente sobre a campanha
exitosa de seus adversários.
Bolsonaro sempre foi adepto do conflito, isso desde
sua longa vida política na Câmara dos Deputados até sua condição de presidente.
Teve conflitos com aliados próximos, com o partido que o elegeu, com parcelas
das forças militares que lhe davam sustentação, com setores tradicionais do
Congresso Nacional, com setores da sociedade civil que o apoiaram, com líderes
mundiais e com uma parcela gigante do eleitorado, e isso pavimentou a rejeição
à sua figura. Mesmo tendo a máquina do Poder Executivo em mãos e conseguindo a
articulação do centrão no apoio à sua candidatura, pouco fez para estabelecer
pontes políticas que lhe dessem tranquilidade na eleição de 2022. Se o
candidato quiser conquistar o eleitorado e derrotar seu principal adversário
terá que mudar, e muito, a condução de sua campanha eleitoral, afinal, Lula
jogando parado teve mais resultados que Bolsonaro com todo o aparato estatal
nas pesquisas de intenção de votos.
A campanha eleitoral é ingrata e geralmente cobra o
preço quando os resultados não chegam rápido, principalmente quando falamos de
candidaturas favoritas nos processos eleitorais. Os aliados políticos de
primeira ordem percebem nos primeiros momentos do processo eleitoral se terão
vantagem ou desvantagem em se aliar a figuras políticas que não desempenham o
suficiente eleitoralmente, coisa que ficou muito clara na campanha presidencial
de Geraldo Alckmin, em 2018, quando os partidos políticos que o apoiavam
migraram para a candidatura de Bolsonaro nas últimas semanas de campanha.
A estratégia eleitoral escolhida pelos dois
principais candidatos nas primeiras semanas de campanha de rua serão
determinantes para a eleição do próximo presidente. Ambos são fortes, mas
Bolsonaro tem a desvantagem de lutar contra dois adversários, Lula e contra si
mesmo.
Francis Ricken - advogado, mestre em Ciência Política e professor da Escola de Direito e Ciências Sociais da Universidade Positivo (UP).
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