Convívio com
parceiros e parceiras estimulam avidez em idosos, contribuindo para a redução
de riscos de saúde e o aumento da felicidade
O amor não tem idade. Essa é uma
das frases que atravessam gerações vestidas como um cliché confortável para
diversas ocasiões. Mas para quem está na terceira idade ela assume um sentido
ainda mais importante, visto que os relacionamentos amorosos são importantes
para a manutenção do bem-estar emocional de quem está na fase mais avançada da
vida. Idosos que estão em um relacionamento sentem-se mais dispostos para as
atividades do dia a dia, bem como têm mais facilidade em manter uma vida
social.
E essa é uma informação importante para o Brasil. O
País tem mais de 30 milhões de indivíduos com mais de 60 anos de idade, segundo
a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2017. A previsão é que,
em 2030, o país tenha a quinta maior população de idosos no mundo. Para a
Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os sexagenários estão incluídos neste
grupo.
De acordo com Marcia Sena, especialista
em envelhecimento ativo e qualidade de vida na terceira idade da
Senior Concierge, o contato constante com uma companhia amorosa ajuda o idoso a
manter-se sempre ativo e diminui o risco de quererem se isolar, contribuindo
até na minimização de chances de doenças como depressão e transtornos de
ansiedade. O organismo como um todo funciona melhor, havendo benefícios também
de melhora do humor. Segundo Marcia, o amor eleva a autoestima e a sensação de
bem-estar dos idosos.
“Mas não só o amor romântico, a atividade sexual,
que ainda é tabu, e um nível de interesse e intimidade com o parceiro após os
60 traz benefícios endógenos, com a liberação de hormônios —como a ocitocina—
que diminuem o estresse e melhoram o humor”, explica a especialista.
A literatura científica aponta que a autoestima
está correlacionada com os resultados de vida, dentre eles as relações humanas,
o trabalho, a saúde e, consequentemente, o envelhecimento saudável. Algumas
pesquisas apontam que ter uma vida social aos 60 anos, pode diminuir em até 20
% o risco de demências. De acordo com Marcia Sena, o envolvimento em atividades
no meio social pode oferecer benefícios relacionados aos aspectos físicos,
cognitivos, funcionais e na própria longevidade.
Além disso, contribui para a ampliação das trocas
de experiências e para o sentimento de sentir-se útil e pertencente à
sociedade. A inclusão dos idosos em atividades sociais deve ser estimulada
pelos familiares, profissionais de saúde e pessoas do seu convívio.
“Além do aspecto psicológico, a solidão causa danos
físicos também. Ela pode aumentar o nível dos hormônios que causam estresse e
inflamações, como o cortisol e a adrenalina. O resultado pode ser o
aparecimento ou agravamento de doenças cardíacas, demência, diabetes tipo 2,
depressão e outras”, acrescentou.
Ainda existe tabu com relação aos namoros na
terceira idade. Esse assunto ainda é permeado por uma visão que vem lá do
passado, com estranheza em relação ao romance e a paixão entre pessoas mais
velhas (sexualidade então, nem se fala).
“Já se fala muito sobre envelhecer com qualidade de
vida e o amor, romance e sexo também contribuem para um envelhecimento pleno e
ativo. Há mais debate sobre etarismo hoje em dia, mas ainda muito focado na
discriminação de uma maneira geral e da inserção dos 60+ nas empresas”,
concluiu.
Luto
Encontrar um novo amor também pode ser uma forma de
enfrentar um dos maiores desafios para os idosos, o luto. No idoso, o luto pode
representar um processo de grande impacto, porque traz consigo perdas pessoais
e sociais, uma vez que a velhice pode ser percebida como uma fase de invalidez
ou de menos valia.
A perda do cônjuge representa um dos acontecimentos
mais importantes da vida, pois aquele com quem construiu-se toda uma vida não
existe mais. A perda da vida de casal afeta as rotinas daquele que fica,
representando a falta ou amputação de uma parte importante do enlutado.
É importante, portanto, auxiliar o idoso a
atravessar as fases do luto. No momento em que a pessoa recebe a notícia da
perda, ela passa por uma fase de choque e negação da realidade, fica
extremamente aflita, características principais da primeira fase. Raiva e
tristeza são sentimentos comuns encontrados, pois a pessoa se sente
incapacitada de fazer algo pois “foi abandonada” pela pessoa que partiu.
A terceira fase é marcada pelo desejo de recuperar
a pessoa que faleceu, de trazê-la de volta. Em seguida, culpa e ansiedade são
os sentimentos mais comuns após o enlutado compreender a morte e, devido a
isso, entra na quarta fase, do desespero e desorganização.
“Depois que tiver passado pelas primeiras fases do
luto, por momentos de raiva, choque, tristeza, entorpecimento, é esperado que
consiga se restabelecer. Embora ainda sinta saudade da pessoa que faleceu e
ainda se adaptando à nova realidade causada pela perda. Poderá retomar suas
atividades, completando a última fase do luto, a aceitação”, comentou Márcia.
Uma boa forma de manter a saúde mental e a lidar
com o luto é também incentivar o idoso a fazer terapia para lidar com a
finitude e a cultivar novas amizades, que não irão substituir as antigas, mas
que pode trazer novos recomeços.
Márcia Sena - fundadora e CEO da Senior Concierge e especialista em qualidade de vida na terceira idade. Tem MBA em Administração na Marquette University (EUA) e experiência em várias áreas da indústria farmacêutica.
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