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quarta-feira, 22 de junho de 2022

A importância da carreira conectada à realidade


Pestalozzi, um importante educador suíço do século XVII, já dizia que a profissão exerce uma influência peculiar na personalidade do indivíduo, pois imprime marcas, tanto por aquilo que exige, quanto por aquilo que deixa de exigir. Isso quer dizer que quando escolhemos uma profissão, estamos escolhendo por representar um papel, que exigirá uma série de comportamentos, habilidades, postura, atitudes, capacidades, formas de se comunicar, dentre outros requisitos. Imagine então ter que atuar em uma carreira cujas exigências sejam distantes da própria personalidade, do que valoriza e do que busca no mundo.  

Agora, se imagine em outra situação, pense em uma carreira que esteja em concordância com as capacidades e com as perspectivas de desenvolvimento pessoal e profissional. Com certeza, imaginar o segundo cenário tenha despertado emoções, pensamentos e sentimentos mais positivos, certo?  

Por isso, o primeiro passo para a gestão de carreira é o autoconhecimento. Para isso, sugiro que responda as seguintes perguntas propostas por Savickas, um dos autores contemporâneos mais importantes da área de carreiras: 

1 - Por quê? -- Quais são as suas necessidades? O que você quer satisfazer para se sentir mais completo e realizado na vida? Ao responder a esta pergunta, você entenderá melhor o que impulsiona e gera energia para o seu movimento. 

2 - O quê? -- Quais são os valores que você elegeu na vida como forma de satisfazer as suas necessidades? Quais são as recompensas e objetos que você busca? Ao responder a esta pergunta, você entenderá melhor o que está dando direção ao seu movimento. 

3 - Como? -- São os seus interesses, tudo aquilo que você percebe como oportunidades e pontes para satisfazer suas necessidades, vivenciando os valores que considera importante na sua vida. Respondendo a esta pergunta, você terá mais clareza dos seus interesses e de tudo aquilo que está moldando o seu movimento. 

Outra ferramenta que sugiro aplicar para o autoconhecimento é o entendimento do tipológico predominante no modelo das Personalidades Vocacionais de Holland, conhecido como RIASEC.  

Ao propor este modelo, Holland ajudou a entender melhor as características da nossa personalidade vocacional, o que valorizamos e as recompensas que desejamos obter nas atividades de trabalho que desempenhamos em nossa carreira. Além disso, o modelo nos ajuda a compreender o tipo de ambiente mais favorável para a expressão e reconhecimento de nossas caraterísticas centrais.  

Agora que você conhece mais sobre si e as suas necessidades, valores e interesses, é importante que reflita sobre o contexto de mundo que estamos vivenciando para que o projeto de carreira não seja utópico e desconectado da realidade. Para isso, proponho uma reflexão sobre o contexto de mundo VUCA, um acrônimo muito usado no mercado para representar a volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade presentes na contemporaneidade.  

Como foi possível perceber, o mundo e as demandas mudam, mas as necessidades humanas de se realizar na carreira permanecem. Temos que olhar a nossa carreira para além de um mero encaixe na sociedade e no mercado. Temos que construí-la como um projeto de vida.  

Você está pronto para colocar a sua intenção no mundo através de um projeto significativo? A construção da vida e da carreira está associada e não podem ser encaradas como instâncias diferentes. Afinal, o trabalho é a forma de colocarmos a nossa intenção no mundo e isso só é possível pela construção de um projeto que dê sentido a carreira.

 

Mauro Felix - professor de psicologia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.


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