Hoje
em dia, parece existir um comportamento que virou modinha nas empresas. Muitas
ainda são pequenas, possuem pouca visibilidade e, consequentemente, não faturam
tanto quanto gostariam. Mas, ainda assim, querem crescer e ficar do tamanho de
um unicórnio. O que elas fazem? Entram em rodadas de investimento como se não
houvesse o dia de amanhã.
Lá,
além de muitas exigências, os donos da porra toda querem conferir se a bodega
onde estão se metendo trará, de fato, rentabilidade nos meses que vierem à
frente. E uma boa forma de se certificar que o risco vale a pena é verificar o
grau de senioridade dos profissionais que ali trabalham, além de checar as
organizações por onde passaram ao longo de suas carreiras.
Fulano
trabalhou no Google? Então ele fica! Afinal, não é qualquer um que consegue
entrar na terceira corporação mais importante do mundo, avaliada em US$ 458
bilhões. Sicrano veio da Amazon? Vixe! Não é preciso nem falar. Caso ainda não
seja membro da equipe, vai ser trazido a preço de diamantes cravejados e ainda
vai ocupar a cadeira mais alta da direção. Ponto final.
Entretanto,
no meio desta salada mista corporativa bizarra, que só as startups mesmo
para ter incorporado em nossas vidas ordinárias, em que lugar ficaram os
“boias-frias” que estiveram com a marca desde o início? Os que carregaram o
CNPJ recém-aberto nas costas e se alimentaram daquela marmita que rola tanto
dentro da bolsa que mais parece um mexido?
Se
um dia foram gerentes, podem se contentar com um tapinha nas costas e um “agora
você vai encarar um novo desafio”: são os ditos especialistas-trouxas, que
aceitaram o fardo do rebaixamento sem ao menos lutar pelo seu espaço. Agora, a
bola da vez é a Jabulani! Que, além de velocíssima, ainda faz curva no ar,
assim como aconteceu na Copa do Mundo de 2010.
Metáforas
à parte, o que eu estou tentando dizer é: caso ainda não tenha sido atingido
por ela, pegue a senha e aguarde sentado, pois a Síndrome do João Bobo está
vindo atrás de você. E ela possui este nome, porque traz ao mercado de trabalho
o mesmo procedimento “vai e vem” que o brinquedo infantil lançado em 1961 fazia
após ser agredido por força externa.
De
um lado, está a cacetada que o trabalhador-bobo leva ao ser destituído de sua
função original devido à mecânica de contratação e aquisição de pessoal que o
mundo pós-pandêmico trouxe. Atualmente, como ocorre a nível global, pois as
fronteiras físicas não existem mais, o recrutador pode caçar pérolas em
qualquer lugar do Brasil, quiçá do mundo. Bom, não?
Contudo,
do outro, está o revés dado com a mesma potência em direção ao empregador-bobo,
que poderá, literalmente, levar um chute na bunda. Quem estava ali e, por
acaso, foi substituído por alguém mais “brilhante”, começará a pensar: “já que
aqui eu não tenho mais serventia, muito menos espaço, vou dar uma olhada nas
oportunidades que o mercado traz”.
E
não é que do lado de fora da bolha estava cheio de oportunidade? Só nos
mercados de tecnologia da informação e marketing, por exemplo, houve um aumento
respectivo de 600% e 1.077% no número de postos de trabalho ofertados entre
2020 e 2021. Muitos deles, pagando salários até 300% maiores do que aqueles
oferecidos antes do coronavírus assolar o planeta.
Ou
seja, aqui se faz, aqui se paga. Esta é a tônica do João Bobo. Portanto, caso a
sua empresa não queira ter índices de evasão de talentos acima do esperado,
pondo as suas valiosas contratações do Vale do Silício a perder, comece a
repensar as suas atitudes, pois elas podem ser decisivas para que o seu negócio
deslanche e alcance a lucratividade que tanto quer.
Já
no caso do empregado, algumas atitudes podem ser tomadas para que ele não se
transforme no boboca da vez. A primeira delas é: entrou um chefão acima de
você? Não fique no cantinho choramingando. Vá até o seu antigo superior e diga
que gostaria de conduzir alguns projetos direto com ele. Tal medida tenderá a
manter a sua visibilidade em dia.
E
o que dizer de chamar o big boss para uma conversa olho no olho? Caso
ele tenha roubado toda a sua autonomia, negocie algumas frentes de trabalho que
possam ser tocadas sem tanto controle. Verá que, muitas vezes, meia dúzia de
palavras bastam para que você retome a liberdade e a fluidez laboral com muito
menos estresse e desgaste emocional.
“Ah,
mas eu fiz isso tudo e não deu certo!”. Então, por que, em vez de dar murro em
ponta de faca, você não decide desbravar um projeto totalmente novo na empresa?
Tal medida fará com que seja visto quase como um “departamento independente”,
trazendo de volta o seu brilho perdido. De quebra, você ainda pode chamar o seu
novo superior para uma parceira.
Todavia,
se tudo que foi dito não funcionou, é hora de dar tchau. Visite perfis no
LinkedIn, faça conexões e candidate-se às vagas que chamarem a sua atenção.
Verá que, no fundo, foi você que baixou as garras do lobo, desvalorizando-se. E
quem não se valoriza, infelizmente, terá que viver com as migalhas, ou, quem
sabe, como o eterno balancê do João Bobo.
Renan Cola - psicanalista
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