Desde 2016, o Ministério da Saúde realiza a campanha Janeiro Roxo, de conscientização sobre a hanseníase. Doença milenar – segundo registros médicos, uma das mais antigas da história da humanidade –, a hanseníase é uma enfermidade infecciosa e contagiosa que evolui de forma crônica e atinge pessoas de qualquer faixa etária. Ela afeta, principalmente, nervos, mucosas (como a boca, por exemplo), olhos e pele, mas é passível de diagnóstico precoce e tratamento. Atualmente, o Brasil é o segundo país do mundo no ranking de todos que ainda registram casos da doença. Em razão disso, a condição é tratada como questão de saúde pública e tem tratamento gratuito pelo SUS.
Segundo Boletim Epidemiológico publicado pelo
Ministério da Saúde no início de 2021, de todos os casos registrados nas
Américas em 2019, 93% foram no Brasil – o que mostra a importância do combate à
doença enquanto ameaça à saúde pública. O diagnóstico tardio representa maior
ônus para o sistema de saúde e, principalmente, um grande ônus para o doente
que, além de enfrentar todos os problemas desencadeados pela doença em si,
passa a conviver também com o medo da rejeição.
O estigma causado pela hanseníase - que, entre
outros enganos, diz que as pessoas doentes “perdem” partes do corpo - é um
fenômeno observado em todo o mundo, provocado principalmente pelas
incapacidades e deformidades causadas pelos casos graves da doença. Não há
perda de partes do corpo em casos de hanseníase. Além disso, em razão de puro
desconhecimento, esse estigma causa discriminação e preconceito com a doença e
o doente.
O contágio se dá de uma pessoa para a outra, por
meio de convivência muito próxima e caso haja contato, também muito próximo, e
prolongado com as secreções expelidas por alguém que tenha a doença (gotículas
de fala, tosses ou espirros). Importante salientar que tocar a pele de um
portador não transmite a hanseníase, e a maioria das pessoas possui uma boa
resistência contra o causador da doença, a Mycobactherium leprae, sendo,
portanto, resistente a ela.
A forma inicial da hanseníase pode se manifestar
apenas como uma mancha (geralmente mais clara que a pele, podendo ser também
acastanhadas ou avermelhadas) com perda de sensibilidade local. Há outros
sintomas comuns, entre eles a sensação de formigamento, fisgadas ou dormência
nas extremidades, áreas da pele com aparência normal, mas com alteração da
sensibilidade e da secreção de suor, caroços e placas em qualquer local do
corpo e força muscular reduzida (dificuldade para segurar objetos, por
exemplo).
Qualquer pessoa, de qualquer sexo ou idade, pode
ter hanseníase. Contudo, em razão de centenas de estudos realizados, hoje se
sabe que existe, sim, um componente genético associado à doença (o que torna
algumas pessoas mais suscetíveis a ela). Desta forma, o entendimento da
comunidade médica é que parentes de pessoas com a doença têm mais chance,
proporcionalmente, de contrair a doença.
Quando curados, os pacientes de hanseníase podem
ter sequelas que vão desde a diminuição da sensibilidade no local das lesões
até deformidades e incapacidades físicas irreversíveis, quando a condição
atinge níveis mais graves.
O cuidado mais importante a ser tomado pelo
portador dessa enfermidade é iniciar o tratamento assim que a doença for
diagnosticada, para evitar sequelas. Os demais cuidados variam com o grau e
local das lesões, sendo as lesões em nervos as mais relevantes. É
imprescindível que todos os pacientes com os sintomas citados acima e aqueles
que convivem ou conviveram com pessoas com diagnóstico de hanseníase sejam examinados
no mínimo uma vez ao ano por um dermatologista, para que o profissional mapeie
possíveis alterações. Assim, é possível manter um controle da doença e a
qualidade de vida do paciente monitorado.
Rossana Vasconcelos -
dermatologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro –
Unisa.
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