Preconceito mata! Entenda a importância de se falar do câncer que pode surgir após contato com vírus transmitido sexualmente e descubra o que é mito e verdade
Muita gente ainda encara o
câncer como tabu, e no caso da doença de colo de útero, o preconceito é
dobrado. Como o Papilomavírus Humano (HPV), causador do problema, é transmitido
por via sexual, ainda há a ideia errada de que só pessoas com múltiplos
parceiros são suscetíveis. Por isso, muitas mulheres escondem o diagnóstico e
outras não levam os filhos para vacinar na idade correta — a partir de 9 anos
para meninas, e 11 para meninos — achando que, por não terem contato sexual, as
crianças não precisam ser imunizadas. Nada mais incorreto, esclarece o
oncologista Frederico Muller, do Hospital Marcos Moraes, no Méier, Zona Norte
do Rio de Janeiro. “Vacinar precocemente, antes de a pessoa ter contato com o
vírus, é muito importante porque garante uma proteção maior. Mas muitos pais
acabam não levando os filhos porque pensam erroneamente que estarão
incentivando a vida sexual das crianças. É uma mentalidade que tem que acabar.
Países que alcançaram altos índices de imunização diminuíram drasticamente a
quantidade de casos de câncer”, diz o oncologista. De acordo com estimativas do
Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de colo de útero, cujas campanhas
de prevenção são celebradas este mês, deve atingir quase 17 mil mulheres este
ano no Brasil, provocando 6.596 mortes. Para ajudar a esclarecer dúvidas sobre
o assunto, o médico elaborou uma lista de mitos e verdades. Confira:
1) Só as meninas precisam vacinar — MITO. Os meninos
precisam também ser imunizados porque, além de poderem transmitir o HPV, podem
ser, eles mesmos, vítimas do vírus, que pode provocar câncer de pênis, na
região retal, na cabeça e pescoço.
2) Só mulheres com múltiplos parceiros são contaminadas.
MITO. "A infecção pelo HPV é muito comum, e 80% das mulheres vão ser
afetadas em algum momento da vida. A grande maioria dos casos se cura sozinha,
mas alguns vão se transformar em câncer”, diz o médico.
3) Camisinha é a melhor forma de prevenção. VERDADE —
Junto da vacinação, o uso de preservativos, tanto masculinos quanto femininos,
se mostra eficaz para diminuir a transmissão do vírus. Mas não é só através da
penetração que o HPV pode se espalhar. O contato com a pele da vulva,
região perineal, perianal e bolsa escrotal também pode ser perigoso.
4) Mulheres que tomam pílula têm mais chances de ter HPV
— VERDADE. Junto do tabagismo e da vida sexual com múltiplos parceiros, a maior
incidência do câncer de colo de útero é vista em mulheres que usam
contraceptivos orais. “Isso pode acontecer porque elas, ao usarem a pílula,
abandonam a camisinha, que é uma proteção sempre necessária”, diz o
oncologista.
5) O câncer de colo de útero só é descoberto quando é
tarde demais — MITO. Tratável, o câncer de colo de útero tem altas chances de cura
se descoberto precocemente. As alterações celulares provocadas pelo HPV e que
podem evoluir para a doença são facilmente detectadas no exame preventivo,
conhecido também como Papanicolau. Por isso, a consulta ao ginecologista deve
ser feita anualmente. “O Ministério da Saúde preconiza que o exame seja feito a
partir dos 25 anos, mas o ideal é que se comece quando já se tem vida sexual
ativa”, diz Muller. Na fase inicial, o câncer do colo do útero pode não
apresentar sintomas. Quando está mais avançado, pode evoluir para a sangramento
vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção
vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias ou intestinais.
6) Todo mundo que tem HPV tem verrugas na área genital —
MITO. Existem, segundo o oncologista, mais de 200 tipos de HPV. A vacina
combate quatro tipos, o 6 e o 11, que provocam as verrugas, e o 16 e 18, que
causam o câncer, mas não apresentam nenhuma lesão visível na área genital.
7) A vacina contra o HPV faz mal. MITO. Quando ela foi
lançada, houve um temor injustificado de reações adversas. Isso pode, junto do
preconceito, ter contribuído para a cobertura estar abaixo do ideal. Dados da
Sociedade Brasileira de Imunização mostram que, de 2013 a 2020, o patamar
mínimo de 80% foi atingido apenas pela primeira dose para meninas de 9 a 14
anos, que alcançou 83,4% de cobertura. A segunda dose para meninas chegou a
55,6%, mas entre meninos de 11 a 14 anos os índices foram de 57,9% para a
primeira dose e de 36,4% para a segunda.
8) Toda mulher que desenvolve câncer de colo de útero não
pode engravidar. MITO. Pacientes jovens, com doença em fase inicial, têm
condições de gestação, mas não é uma regra geral. “Cada caso deve ser analisado
com o médico, e dependerá das condições da paciente”, diz Muller.
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