No período de pandemia, o setor produtivo foi altamente atingido. Diferentemente de outras crises no capital especulativo, a pandemia de Covid-19 gerou uma crise na produção de matéria prima, que, consequentemente diminuiu a produção industrial de manufaturados, prejudicou o abastecimento no comércio, paralisou o tráfego de produtos e pessoas, e culminou, segundo o ICVA - Índice Cielo de Varejo Ampliado, na queda do consumo de 36,5% durante o período de lockdown e terminou o ano com queda de 11% em dezembro de 2020.
Podemos destacar três importantes e danosas
características das empresas e empresários brasileiros. O primeiro é que o
modelo de produção de riqueza no Brasil é dependente de crédito.O segundo é que
somos um país com excesso de microempreendedores individuais que na prática são
pessoas físicas que têm mais deveres que direitos. E terceiro, as empresas e os
empresários nacionais possuem pouco ou até mesmo nenhuma cultura de
escrituração contábil e compliance.
Esses fatores foram determinantes para a
dificuldade de tomada de crédito das empresas nesse período e continuará a ser
nesse ano. Por isso, escrevemos quatro lições para ter acesso ao crédito junto
aos bancos em 2021.
É importante saber que a maioria dos concedentes de
crédito avaliam três pontos primordiais do tomador de crédito: a situação
econômico-financeira, o grau de endividamento e a capacidade de geração
de resultados, essa lista faz parte da Resolução do Banco Central do Brasil n°
2682. É analisado o fluxo de caixa, administração e qualidade de
controles, pontualidade e atrasos nos pagamentos, contingências e setor de
atividade econômica.
A primeira lição baseia-se em compilar
informações públicas da sua situação financeira e, para isso, podemos
acessar a plataforma Registrato do Banco Central- um ambiente virtual em que as
pessoas e empresas têm acesso a todas as suas dívidas, empréstimos e contas
correntes existentes. É nesse processo que podemos aferir a situação
econômico-financeira e o grau de endividamento do tomador. Também é necessário
fazer uma pesquisa no CADIN Estadual- Cadastro Informativo dos Créditos não
Quitados de Órgãos e Entidades Estaduais e CADIN Federal- Cadastro Informativo
de Créditos não Quitados do Setor Público Federal, além da análise do score de
crédito e cadastro positivo, apontamentos e negativações, protesto nacional e
risco do setor que pode ser feito no SPCSerasa.
Essas são informações de mercado e não podem
ser alteradas pelo tomador e nos entregam elementos estratégicos para a segunda
lição para conseguir créditos em Bancos:
Independente da sua qualificação empresarial
e porte da sua empresa, há necessidade da demonstração de instrumentos de
controle administrativo que, minimamente, são contratações de um
certificado digital, um profissional de contabilidade, a adequação à Lei de
Proteção de Dados e adequação à Lei Anticorrupção.
Até aqui listamos os documentos públicos da
sua situação econômico-financeira, os instrumentos mínimos para comprovação de
gestão empresarial.
A terceira está diretamente ligada à
escrituração contábil da sua empresa. Recolher guias do contador não é
suficiente. A escrituração contábil é um método para registrar os atos
administrativos relevantes e tem que ser mais que a simples cópia da
movimentação bancária. Deve apresentar um registro preciso dos créditos,
obrigações, débitos, contingenciamentos, patrimônio e rúbricas de uma empresa.
Nas duas primeiras lições há uma dependência
externa de informações. A escrituração contábil é o primeiro documento
produzido e gerenciado pela empresa. É o momento ideal para justificativas
acerca do fluxo de caixa, administração e qualidade de controles, pontualidade
e atrasos nos pagamentos e contingências. Nessa oportunidade também é
necessário o acréscimo das notas explicativas contábeis, métodos que incluem
informações de natureza patrimonial, econômica, financeira, legal, física e
social. Além disso, deve constar os critérios utilizados na elaboração das
demonstrações contábeis e eventos subsequentes ao balanço.
A quarta lição para conseguir crédito nos
bancos está relacionada a “saber pedir” o crédito. Isso significa que o tomador
deve ampliar seu rol de possíveis cedentes de crédito. Com as inúmeras fintechs
do mercado, as possibilidades e modalidades de crédito são vastas. Estudar as instituições
financeiras e suas especificidades, como banco de fomento, banco privado, banco
público, banco segmentado e banco cooperado é importante para verificar a
vocação do seu empréstimo. Por exemplo, setores específicos, como o turismo e o
agronegócio, têm grandes chances de empréstimo nos bancos de fomento e bancos
públicos. Já microempreendedores individuais têm mais facilidades em bancos do
povo. Quando há uma garantia imobiliária às fintechs oferecem boas condições,
cooperativas de crédito são uma opção interessante nos arranjos produtivos
locais.
Alexandre Damasio Coelho - presidente da CDL
São Caetano do Sul e advogado.
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