Com as mudanças provocadas pela pandemia, vestibulandos enfrentam o desafio de se adaptar aos novos formatos de preparação e de prova
Faltando
menos de 90 dias para o Enem, prova que serve como principal porta de entrada
para o Ensino Superior no país, escolas e cursos pré-vestibulares procuram
novas estratégias para se adaptar às mudanças do exame, que este ano sofreu
alterações na data e conta com um novo formato de prova. Além de ser adiado
para o mês de janeiro, pela primeira vez, o Enem poderá ser feito integralmente
no modo digital, mudança progressiva que deve se tornar obrigatória até
2026.
Apesar
da novidade auxiliar muitos estudantes que não podem comparecer presencialmente
no exame, especialistas demonstraram preocupação sobre o impacto que a prova digital
terá na redação, uma vez que, em casa e utilizando majoritariamente o
computador para fazer as atividades, o esforço exigido pela escrita à mão será
diferente daquele feito pelo teclado. No papel, o estudante consegue absorver e
interpretar as informações de forma mais eficiente, enquanto na tela do
computador a compreensão e a criatividade podem ficar comprometidas.
Para
Thiago Braga, professor de redação do Sistema de Ensino pH, é preciso que o
estudante busque maneiras de treinar sua redação junto do apoio de um professor
de Língua Portuguesa, que possa avaliar e desenvolver sua técnica de escrita.
Isso porque, por mais que o aluno tenha optado pela prova digital, a
dissertação será feita à mão em um papel, como na prova física. “Uma
alternativa que meus alunos encontraram era a de escrever a redação em um
papel, tirar uma foto e enviá-la por e-mail. Embora não consiga, ao lado do
estudante, apontar os erros e os acertos de maneira detalhada, eu consigo
passar um feedback”, diz.
A redação e a pandemia
Que
a edição da prova será completamente diferente das outras já não é novidade.
Pelo fato de quase todo o ano ter sido condicionado à pandemia do novo
coronavírus, muitos estudantes esperam que o exame aborde esse assunto sob os
mais variados aspectos. No entanto, Braga alerta que não é característica do
Enem trabalhar temas e assuntos muito recentes. “O Inep possui, historicamente,
um banco de questões prontas e que normalmente são escolhidas muito antes da
preparação da prova. Os assuntos e as habilidades que eles gostariam de
trabalhar na prova já foram retirados desse banco de dados possivelmente até
antes da pandemia ter sido decretada”, explica.
Porém,
ele também comenta que a conjuntura atual pode servir de repertório para falar
sobre assuntos que costumam ser historicamente debatidos na sociedade
brasileira. Pensando que 2020 foi um ano de muitos acontecimentos e mudanças, é
normal que os vestibulandos fiquem apreensivos e inseguros quanto ao tema da
redação. Por isso, o professor listou os temas que têm maiores probabilidades
de cair na prova:
- Consequências
da dependência tecnológica na saúde física e mental das pessoas
Devido
ao aumento do número de casos de depressão, ansiedade e suicídio entre os
jovens, especialmente na quarentena, o tema tem ganhado cada vez mais
importância no debate público. Apesar de não haver uma comprovação científica
que aponte a relação direta entre saúde mental e o uso de redes sociais, muitos
estudos sugerem que a tecnologia pode ser um agravante para os distúrbios emocionais.
Para entender profundamente a questão, o professor recomenda o documentário “O
dilema das redes”, material que pode servir como repertório para discorrer
sobre o assunto.
- Caminhos
para a diminuição do consumo de álcool entre os jovens brasileiros
Nos
últimos anos, muitas pesquisas têm demonstrado um aumento significativo do
consumo de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas por parte dos jovens. Um estudo
feito pelo CISA (Centro de Informações sobre Saúde e Álcool) revelou que este
público, especialmente as mulheres, está aumentando o consumo desses itens, na
contramão de outros grupos analisados no país. Dentre muitos fatores, isso se
dá principalmente por conta da glamourização que a ingestão de álcool vem
adquirindo recentemente, inclusive na pandemia, em que o uso continuou
crescendo. Entender as causas desse fenômeno e o perigo que ele traz aos mais
novos, que ainda estão em processo de formação de suas características físicas,
é fundamental para falar sobre o assunto.
- Os
desafios do sistema carcerário brasileiro
É
um assunto clássico da sociedade brasileira e que nunca foi tema de redação
antes, segundo Braga. Nosso sistema de prisões é historicamente conhecido por
suas deficiências, como por exemplo, a insalubridade e superlotação das celas.
Com a superlotação das prisões, as facções criminosas se apoderaram da
organização dos presídios e as disputam com outras organizações inimigas,
gerando conflitos que se estendem para outros países. Além disso, o Brasil está
entre os 3 países que possuem a maior população carcerária do mundo, e muito se
discute que esse sistema não cumpre suas funções sociais de ressocialização dos
presos. Entender esse cenário e a cultura que está associada a ele são pontos
importantes para tratar do assunto.
- O
tabagismo no Brasil e como mudar sua cultura
É
um assunto simples e que já foi bastante discutido, mas tem chamado a atenção
dos estudantes a partir de uma publicação feita pelo Inep em suas redes
sociais. O texto atentava a população para os malefícios do cigarro e para o
risco que os fumantes teriam caso fossem infectados pela Covid-19. Vale
ressaltar que a importância do tema não se trata apenas da publicidade feita
pela instituição, mas pelo fato de o consumo de tabaco ter aumentado
significativamente durante a pandemia, de acordo com pesquisas realizadas pela
Fio Cruz. Braga sugere aos vestibulandos que vale pensar quais políticas
públicas sobre esse consumo têm sido feitas ao longo dos últimos anos e o que
ainda poderia ser feito para diminuir seu uso.
- Violência
doméstica no Brasil
Tema
extremamente relevante e que há anos é debatido no país, a violência doméstica
ganhou novas dimensões com o isolamento social ocasionado pela pandemia. Neste
recorte, é importante que o estudante entenda as causas que levam a essa situação
e o que tem sido feito para combatê-las. O protagonismo crescente das mulheres
no mercado de trabalho, a maior participação nas decisões familiares, questões
que envolvem o machismo e a maneira como os homens enxergam e lidam com o sexo
feminino são alguns dos pontos que podem ser abordados.
- Bullying
e Cyberbullying no Brasil e como combatê-los
Isolados
em casa há quase 8 meses, crianças e adolescentes de todo o país tiveram na
internet a principal forma para interagir e passar o tempo durante a
quarentena. Na medida em que o estresse de ficar em isolamento social piora, os
riscos e os danos emocionais podem intensificar casos de discriminação no
ambiente virtual. De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2019, quase
metade dos jovens de 9 a 17 anos afirmaram ver alguém sendo discriminado na
internet. Em contexto de pandemia, o problema pode ter evoluído ainda mais. Por
isso isso, Braga alerta aos vestibulandos a necessidade de entender as causas
desse fenômeno que vem aumentando nos últimos tempos e pensar em alternativas
para combater essa prática.
- A
Obesidade no Brasil e seus desafios
Segundo
a Pesquisa Nacional de Saúde divulgada pelo IBGE em parceria com o Ministério
da Saúde, um pouco mais de 40 milhões da população adulta no Brasil está obesa.
A pesquisa mostrou que a proporção de pessoas obesas no país aumentou nos
últimos 17 anos. Em 2003 o percentual era de 12,2%. Já em 2019, esse número
passou para 26,8%, ou seja, os números mais do que dobraram. Os dados refletem
não apenas um problema de saúde, mas também como o brasileiro se comporta em
relação à sua própria alimentação. A situação se torna ainda mais delicada
quando pensamos que muitas pessoas estão em casa em isolamento social e não
conseguem se exercitar adequadamente. Dessa forma, o sedentarismo e suas
consequências crescem, ao passo que doenças ligadas a ela também.
Sistema
de Ensino pH
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