Sempre gostei muito de entender os animais. Quando criança - e até a adolescência - lia muito a revista Super Interessante. Tive a grande sorte e o privilégio do meu irmão mais velho, Wilson Kazuo, assinar o título desde a primeira edição. Eu fico fascinado pela quantidade de espécies diferentes e como elas enfrentam as adversidades para sobreviver.
Nesse tempo de isolamento e de
grandes desafios, especialmente para quem é dono de empresa, lembrei-me de um
peixe chamado piramboia. Trata-se de um tipo de mistura de peixe e réptil. Não
é um animal bonito de se ver, mas apresenta uma vantagem impressionante: ele
consegue respirar dentro e fora d´água. Isso acontece, graças ao sistema
respiratório que combina brânquias e pulmões.
Essa vantagem permite à piramboia
sobreviver na seca. Isso mesmo! Quando as águas do rio secam, o fundo dele fica
evidente e tudo o que resta é lama, a piramboia entra em estado de dormência. É
a chamada estivação, algo muito parecido com a hibernação dos ursos, que ocorre
no inverno. Na estivação, o organismo entra em um modo de sobrevivência, consumindo
o mínimo possível de energia, apenas o suficiente para manter os sinais vitais
garantidos até a próxima chuva, que encha os rios. Mas como a piramboia sabe
quando vai acontecer a nova fase de cheias nos rios? Pois é, ela não sabe e não
precisa saber. Ela permanece em estivação por meses. Consegue ficar assim até
quatro anos, se for necessário.
Assim, quando cai a chuva, ela
espera. Se o volume permanece constante, a piramboia sai do estado de estivação
e segue para os rios. Além de tudo, esse animal mantém uma reserva de energia
para se arrastar até o rio mais próximo.
Vejo que o exemplo da piramboia pode
ajudar muito algumas empresas de áreas como eventos, entretenimento,
alimentação fora do lar, turismo e até de outros setores. Vi muitas empresas
destes segmentos se movimentarem para criar serviços on-line, investindo em
capacitação e estrutura para o home office. Vi executivos e empresários
debruçando em problemas e pensamentos, imaginando como criar uma fonte
alternativa de receita e, infelizmente, acabarem perdendo mais dinheiro ainda.
Consequentemente, diminuíram ainda mais o caixa, que já sofria nestes últimos
três meses.
A estratégia da piramboia vale para
essas empresas e empresários. Será que não é melhor ficar quietinho, sem se
movimentar, sem gastar energia, mantendo o estado de estivação até que o
ambiente melhore? Há quem diga que devemos fazer algo para mudar sempre. Mas,
se os fatores externos inviabilizam a sobrevivência de qualquer ser, então,
ficar parado talvez seja a melhor ação a ser executada naquele momento.
Quando a tempestade passar, os
indicadores começarem a favorecer a economia e o mercado der sinal de vida,
essas empresas podem começar a acordar e retomar suas atividades aos poucos. A
parte boa é que essa estratégia pode ajudar a armazenar o pouco de energia que
sobrou (nesse caso, grana mesmo) para a retomada dos negócios. Se não houver
como sobreviver lá fora agora, pense nisso!
Haroldo Matsumoto - especialista em gestão de
negócios e sócio-diretor da Prosphera Educação Corporativa, consultoria
multidisciplinar com atuação entre empresas de diversos
portes e setores da economia.
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