Veja a opinião de especialistas diversos – médicos, empresários, servidores essenciais e advogados – sobre o que mudará após a pandemia
O tal “Novo Normal”
chegou? Se chegou, o que trouxe de realmente “novo”? O que a pandemia nos
ensinou (e está ensinando) que devemos manter – em relação aos hábitos de
higiene, mas também em relacionamento, em comportamento?... Perguntamos para
diferentes segmentos e colhemos diferentes respostas. Conversamos com
advogados, médicos, empresários e servidores públicos essenciais, entre
outros.
O que procuramos saber
deles: Afinal, o “novo normal” já chegou? O que muda e o que permanece na sua
área de atuação? Podemos dizer que estamos vivendo o “novo normal”? Nem todos
concordam que o novo normal já começou, mas todos concordam que há mudanças
necessárias a se fazer.
Veja as respostas:
Para o pediatra Mario
Ferreira Carpi, do Hospital Águas Claras,
“considerando que o “novo normal” é um conjunto de ações e comportamentos que
permitem nossa adaptação e sobrevivência diante da realidade da pandemia pelo
novo coronavírus, eu diria que já estamos vivendo o “novo normal”. Após 4 meses
de isolamento social, tivemos a oportunidade de vivenciar e aprender muitas
coisas. Percebemos por exemplo que é possível e, muitas vezes até mais
produtivo, trabalhar em casa (home office) e que reuniões que exigiriam
deslocamentos e gastos podem ser feitas utilizando ferramentas disponíveis em
nossos computadores, permitindo discussões em tempo real. É claro que a maioria
das pessoas continuarão a ter que se deslocar para seus trabalhos e as
crianças, embora possam ter parte de suas atividades didáticas online, terão
que voltar para a escola. O convívio social faz parte da natureza humana e é
essencial. Mas, ao menos até nos sentirmos seguros novamente, esse convívio
obedecerá a novas regras, como o uso de máscaras, novas formas de nos
cumprimentarmos e cuidados com a higiene das mãos. Talvez finalmente nossa
sociedade tenha aprendido que vírus respiratórios (não apenas o coronavírus)
são transmitidos não apenas por tosse ou espirros, mas também pelo contato com
mãos e objetos contaminados por essas secreções. Teremos que ser mais contidos
e menos expansivos, mantendo um certo distanciamento social para nossa própria
segurança. Como tudo que é novo, isso causa certa angústia, mas já estamos
incorporando esse novo padrão de normalidade.
Outros aspectos podem
ser ressaltados. Percebemos que não temos controle sobre o mundo (excelente
oportunidade para nos tornarmos mais humildes), que altruísmo, solidariedade e
fé também fazem parte da natureza humana e nos fortalece nas crises e que a
família continua sendo a base de tudo”.
Na esfera do direito o
advogado Leandro Rufino, do Rufino & Rebuá
Advogados, acredita que “a pandemia alterou de maneira profunda o mundo do
Direito, como todas as outras áreas, o que não quer dizer que esse será o novo
normal. Sem dúvida, algumas das mudanças trouxeram ganhos. As audiências
online, por exemplo, reduziram custos com deslocamento. A produtividade de
alguns servidores dos tribunais foi, por determinação dos respectivos órgãos,
aumentada o que faz com que haja uma celeridade maior nos processos. Se por um
lado isso é positivo e poderíamos torcer para ficar, já há advogados
trabalhistas, especialmente, pedindo para que as audiências não sejam online
porque não é possível saber quem está acompanhando a testemunha, por exemplo.
Se ela está sendo pressionada ou chantageada. Mas acredito que haverá um meio
termo possível, para que audiências em cidades diferentes, por exemplo, possam
ocorrer de forma virtual, reduzindo o custo da Justiça”.
Na opinião da
infectologista do Hospital Águas Claras, Ana Helena Germoglio, “O que era o normal? Vida corrida, sem olhos no olhos, crianças nas
escolas e pais trabalhando 12h ao dia, vida em 4G, reuniões de trabalho
intermináveis, digitalização das relações interpessoais.... Infelizmente, é
impossível prever o comportamento humano pós-pandemia, porque isso dependerá da
conscientização individual. Do contrário, teremos outras pandemias tão graves
ou piores. As pessoas devem entender que nosso comportamento pode e tem
capacidade de interferência na vida das demais pessoas. Viver coletivamente é a
única chance de sermos humanos. E, para continuarmos nessa vida durante e
pós-pandemia, precisamos pensar coletivamente. Uma coisa é certa, nada será
como antes. Uma doença emergente viral veio para alterar completamente nossos
hábitos de consumo e comportamento interpessoal, mostrou quão frágil é o ser
humano. Coisas simples que nem pensávamos a respeito, ganham agora uma nova
dimensão. Práticas como hábitos de higiene, solidariedade, altruísmo
ganharam destaque em nossas vidas em tão pouco tempo. Valorização do contato
olho no olho, dos abraços e apertos de mãos, revalorização de ambientes abertos,
novos hábitos de consumo virtual. Talvez sim, esse seja o normal”.
O diretor de Marketing e
Vendas da Família do Sítio, Ricardo Barbosa, não acredita que chegamos ainda ao chamado “novo normal”:
“O novo normal deve acontecer assim que tivermos uma vacina para o vírus,
porque a partir desse momento veremos o que essas mudanças que estão
acontecendo hoje vão provocar no comportamento da sociedade. Hoje tem pessoas
aqui na empresa que estão trabalhando de casa, tem pessoas que estão
trabalhando em horário reduzido. Isso está acontecendo não por conta de uma
opção da empresa, mas por uma falta de opção trazida pela pandemia. O novo
normal vai acontecer depois desse período de pandemia quando nós tivermos a
opção de escolher, por exemplo, continuar a trabalhar dessa maneira. Acho que
ainda é um momento de transição, de reflexão, onde a gente precisa enxergar
agora o que deve ser priorizado. Ainda mais falando sobre empresas, que temos a
questão de tempo versus produtividade, se são coisas que têm uma relação direta
ou não. A gente fala muito que está vivendo no mundo moderno, mas a maioria das
empresas sofreu muito. Que mundo moderno é esse que a gente não está preparado
para trabalhar à distância? Na verdade, nós estamos vivendo um momento de
transição. Na minha visão não estamos ainda vivendo o novo normal. Iremos viver
ainda o novo normal, que com certeza trará mudanças, sejam comportamentais,
sejam de postura, de visão de coletivo, de visão do individual. O novo normal
vai trazer para a gente a importância da reflexão, de refletir sobre a vida,
sobre a nossa atitude e nossos comportamentos.
Eu prevejo mudanças
muito positivas. Acho que todo mundo passou a entender melhor o seu papel
dentro da organização e o seu papel profissional como indivíduo. Estamos vivendo
em uma dicotomia de tempo, em que ao mesmo tempo nos falta tempo e temos tempo
demais. Isso fez com que a gente percebesse atalhos, no sentido positivo. O que
a gente pode otimizar, que conversas a gente pode ter de maneira mais rápida,
sem precisar procrastinar muitas coisas. Acho que a procrastinação aqui na
nossa cultura vai ser bem diminuída. Nesse sentido eu vejo uma evolução muito
grande de comportamento. Acho que as pessoas começaram a perceber também mais
umas às outras, perceber suas dificuldades, porque cada um acabou vivendo
momentos exclusivos, problemas únicos. De maneira coletiva as pessoas passaram
a se enxergar como um grupo, e não somente como indivíduos trabalhando em uma
mesma empresa”.
O infectologista do
Hospital Brasília, André Bon, acredita que já
estamos vivendo o novo normal. “Algumas mudanças de hábito não vão voltar
atrás. A lavagem frequente das mãos, a higienização com álcool, não deve mudar.
Me pergunto se o uso de máscaras vai perdurar, mas certamente o reforço de
higienização vai persistir, inclusive relacionado aos alimentos e aos produtos
que chegam dentro de casa. Em relação aos cuidados de saúde, talvez seja
importante fazer um reforço das medidas que estão sendo tomadas agora. Para
quem adotou o novo normal, eu não recomendaria que as pessoas voltem a
frequentar bares e restaurantes. Continua a recomendação de distanciamento
social, que as pessoas se mantenham ainda dentro de casa. Mas, para o futuro,
eu diria que a etiqueta respiratória (na hora de tossir e espirrar, usar a face
interna do cotovelo) e as medidas de higienização continuarão a ser muito
importantes quando estivermos em espaços coletivos. Talvez sejam as medidas
mais importantes daqui pra frente nestas situações.”
O presidente da Câmara
de Dirigentes Lojistas, José Carlos Magalhães Pinto, também acredita que o novo normal ainda está por vir: “Apesar de
grande parte de o comércio estar funcionando, ainda não podemos dizer que
vivemos o “novo normal”. Temos novos cuidados, novas condutas, novos canais de
venda. Mas o consumidor ainda não se comporta dentro de uma “normalidade”,
mesmo que seja diferente do que vivíamos antes da pandemia.
Se pudéssemos já definir
um “novo normal”, me arriscaria a dizer que há uma tendência a mudanças no
perfil de consumo. As empresas estão apostando no home office como uma medida
de médio e longo prazo ou, em muitos casos, definitiva. Isso mudará o consumo
de roupas, sapatos e acessórios de maneira relevante. O consumidor está
apostando muito mais nos produtos essenciais. Ainda há a questão da higiene,
que fez ressurgir no mercado produtos de limpeza como álcool 70, água
sanitária, sabão líquido e outros. Também apostaria em uma mudança de perfil de
consumo, mais consciente, com valorização dos produtos locais. Tanto as CDLs de
todo o Brasil como a CNDL tem incentivado o consumo nas pequenas e médias
empresas locais.
Com relação à retomada
da economia, ficamos à mercê de medidas que demoraram muito a ocorrer – como a
liberação de crédito para pequenas e médias empresas. Se há um “novo normal”
para as pequenas empresas, é a triste realidade de que muitas não conseguirão
reabrir suas portas. Por outro lado, não podemos negar o perfil empreendedor do
brasileiro, que está se reinventando nos mais diferentes setores. Basta ver o
sucesso dos Drive-In´s, que já estão conquistando o público dos shows.
Enfim, o “novo normal”
exigirá a reconstrução de muitas empresas, a reinvenção de outras e muitas
quebras de paradigma. Na Câmara de Dirigentes Lojistas do Distrito Federal,
seguiremos acreditando que tudo isso vai passar e que vamos superar os
desafios”.
Para a pediatra Sandi
Sato, da Maternidade Brasília, “a gente precisa
começar a se preparar para o novo normal, entender o que é uma responsabilidade
compartilhada e o que é viver em sociedade garantindo o bem-estar do próximo.
Isso deveria ser o normal sempre, não apenas pós-pandemia. Já com relação à
volta às aulas, vai exigir algumas práticas com cuidados relacionados à
transmissão de Covid. Crianças transmitem doenças com facilidade, então
ainda é preciso manter as atuais recomendações e reforçar os cuidados de
higiene. Não há novas recomendações, ainda é preciso evitar as saídas
desnecessárias e manter o distanciamento social”.
Parte do grupo de
trabalhadores considerados “essenciais”, o diretor de política profissional do
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários, Antonio
Andrade, vê com algum ceticismo
o novo normal. “Com certeza muitas mudanças que foram forçadas por conta
da pandemia vão se manter no futuro. E de uma forma positiva, porque a situação
atual nos fez rever diversas práticas da carreira, descobrir o que pode ser
feito de maneira mais efetiva. Esperamos sair dessa pandemia mais fortes, mais
unidos, e isso será extremamente importante para o momento de recuperação. A
retomada do crescimento econômico dependerá principalmente do agronegócio e as
atividades de fiscalização são essenciais para mantermos a produção, a
qualidade dos alimentos e o sucesso das nossas exportações. No entanto, as
atividades de campo ainda oferecem risco para os Affas, apesar de todas as
medidas de segurança. Vemos agora uma queda no número de casos de Covid em
algumas cidades do país, e em outras temos a estabilização. Porém, a
contaminação ainda está ocorrendo e, apesar de todos os cuidados de prevenção e
equipamentos utilizados, o risco que um Affa em campo se contamine sempre
existe. Nós, efetivamente, estamos trabalhando de maneira diferente. Estamos
usando mais meios eletrônicos, videoconferências. Conseguimos nos adaptar à realidade
com muita desenvoltura. Sem dúvida tiramos muitos aprendizados dessa pandemia”.
O infectologista do
Hospital Brasília, André Bon, acredita que já
estamos vivendo o novo normal. “Algumas mudanças de hábito não vão voltar
atrás. A lavagem frequente das mãos e a higienização com álcool, por exemplo,
não devem mudar. Me pergunto se o uso de máscaras vai perdurar, mas certamente
o reforço de higienização vai persistir, inclusive relacionado aos alimentos e
aos produtos que chegam dentro de casa. Em relação aos cuidados de saúde,
talvez seja importante fazer um reforço das medidas que estão sendo tomadas
agora. Para quem adotou o novo normal, eu não recomendaria que as pessoas
voltem a frequentar bares e restaurantes. Continua a recomendação de distanciamento
social, que as pessoas se mantenham ainda dentro de casa. Mas, para o futuro,
eu diria que a etiqueta respiratória (na hora de tossir e espirrar, usar a face
interna do cotovelo) e as medidas de higienização continuarão a ser muito
importantes quando estivermos em espaços coletivos. Talvez sejam as medidas
mais importantes daqui pra frente nestas situações.”
Henrique Alencar é
empresário (tem uma loja na W3 Sul e outras lojas alugadas) e diretor da CDL-DF. Ele não acredita que estamos vivendo o novo normal.
“Todo dia, é um cenário diferente. As pessoas ainda estão com medo, o
crescimento da Covid ainda assusta. No meu ramo, de material de construção, a
pandemia tem sido favorável. As pessoas estão em casa, aproveitam para fazer
pequenas reformas. Mas eu sei que não está assim em todos os setores. Para as
lavanderias ou para salões de beleza, por exemplo, está em baixa.
Enquanto isso, as lojas de bicicleta, por exemplo, estão bombando. Todo mundo
que não está podendo ir à academia, está aproveitando para pedalar. Não é
possível ainda falar em retomada da economia, ainda tem mudança para acontecer,
tem decreto novo todo dia. Estamos funcionando em horário reduzido, tentando
evitar aglomerações nos transportes urbanos. Ainda é cedo para falar em novo
normal. Os nossos negócios exigem presença física. O consumidor não está
comprando por impulso. Ele sai de casa com uma meta e compra só aquele produto.
Alguns produtos que são vendidos por impulso estão relacionados à pandemia:
álcool gel, tapete sanitizante, produtos de higiene. Mas, para alguns setores,
a retomada ainda vai demorar muito”.
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