Apesar de não ser uma cultura tão desconhecida ou totalmente nova no meio corporativo, o intraempreendedorismo, aquele empreendedorismo realizado por uma pessoa dentro da empresa em que trabalha, é mais popular no ambiente de startups, onde o coworking é bastante comum, além de ter, geralmente, mais afeição por culturas inovadoras e ecossistemas com viés mais revolucionários. Mas longe de ser uma característica exclusiva de startups, a cultura intraempreendedora também é incentivada e geradora de excelentes resultados em gigantes multinacionais como Microsoft, Havaianas e companhias da indústria aeroespacial.
O que leva estas gigantes ou as novatas a investir
nessa cultura é buscar manter as pessoas motivadas e engajadas, retendo assim
seus talentos e atraindo tantos outros. E se é bom para a empresa, é também
para o colaborador, que vê a oportunidade de vivenciar o empreendedorismo,
aprender com erros e acertos assim como desenvolver vários pontos importantes
para aprimorar aprendizados e se fortalecer em conhecimento e relacionamentos.
Satya Nadella, atual CEO da Microsoft, por exemplo, é um deles. Contratado como
gerente de programa do grupo de Relações com Desenvolvedores do Windows, chegou
onde chegou por sua postura criativa e intraempreendedora na empresa de Bill
Gates.
E o mesmo que acontece, por exemplo, com a Lockheed
Martin, uma indústria aeroespacial norte-americana que fechou, recentemente, um
contrato com a NASA para construir cápsulas que levarão novamente o homem à
Lua. E não para por aí. Após essa missão, que pode acontecer ainda nesta
década, a companhia planeja desenvolver a nave que levará humanos à Marte.
Além dela, e falando de uma companhia brasileira, o
intraempreendedorismo foi um dos fatores que levou a Havaianas, empresa líder
no mercado de sandálias aqui no Brasil, ao sucesso que é hoje, com presença
massiva na casa das famílias brasileiras e estrangeiras. O que ela fez foi
mudar a forma de vender seus produtos a partir de ideias em que deixou de focar
exclusivamente no público de baixa renda e levou as ''sandálias que não
soltam as tiras' para a alta classe, criando um vínculo entre seu produto e o
estilo de ser do brasileiro. Essas inovações foram respaldadas com apoio de
consultorias, pesquisas e empresas parceiras que apoiaram o processo de
inovação e aculturamento para fortalecer argumentos e reduzir riscos.
É justamente este aspecto, de aculturamento, que
muitas pequenas e médias empresas esbarram. Ainda há resistência por parte de
companhias com culturas de gestão mais 'verticais' e o intraempreendedorismo
não flui por questões burocráticas internas e decisões hierárquicas,
principalmente naquelas mais familiares. Em um momento em que o mercado e as
pessoas pedem por inovação colaborativa é extremamente importante repensar a cultura
empresarial e buscar harmonizar a gestão horizontal com a gestão vertical. Do
ponto de vista das mudanças, é preciso incentivar a transformação de baixo para
cima, ou seja, da maioria versus minoria, tendo alguns ‘advogados’ dessa
minoria para provocar transformação.
Estar
disposto a ser um intraempreendedor ou, sobretudo, reconhecer a necessidade de
incentivar que novas ideias mudem o rumo da empresa, sem receio de uma
competição interna, é o que vai definir a sobrevivência das companhias em
tempos de crise. A percepção, na maioria das vezes, mais jovem que dará um novo
ar e a injeção de ânimo que apontará o caminho do sucesso no mundo corporativo.
É por isso que a gestão de produtividade compartilhada com a gestão do tempo
são fundamentais para não se perder o foco, assim como uma cultura estabelecida
e consistente são fundamentais. Exemplos bem sucedidos de profissionais assim
que levaram culturas inovadoras às empresas onde puderam empreender é o que não
falta.
Melina Alves - CEO e fundadora da DUXcoworkers e uma das
idealizadoras do Impacta Open Startups, um projeto que tem como objetivo
fomentar o ecossistema de inovação e de novos negócios no Brasil em apenas
cinco dias. A executiva é pós-graduada em Tecnologia da Informação pela
Faculdade Impacta de Tecnologia e em Administração Empreendedora pela
FGV.
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